Considerando a falta de evidências relacionadas à prevalência de sintomas de desordens mentais, bem como, suas heterogeneidades, durante a pandemia da COVID-19 na América Latina, continente pandêmico com altos números de casos e óbitos, Stephen Zhang e equipe (Posted June 28, 2021; medRxiv preprint: https://doi.org/10.1101/2021.06.21.21259299) realizaram um estudo meta-analítico sobre a prevalência agregada de sintomas de transtornos de saúde mental durante a Covid-19 nos profissionais de saúde da linha de frente, em profissionais de saúde em geral, na população em geral e em estudantes universitários na América Latina, acima de 18 anos de idade.
De acordo com o estudo, o continente latino-americano de 34 países ou territórios teve a segunda maior quantidade de casos e mortes per capita devido à COVID-19. Neste contexto, a América Latina mostrou-se vulnerável ao surto destrutivo por várias razões, incluindo desigualdades estruturais e socioeconômicas de longa data, bem como, mais de 20% da população em situação de pobreza, falta de acesso à saúde, sistemas de saúde subfinanciados, governança ou dinâmica política inadequadas e uma alta carga de condições de saúde crônicas e metabólicas, além da falta de preparo para lutar contra a pandemia. No estudo, a mesma alegou um aumento considerável nas morbidades psicológicas entre vários grupos demográficos, incluindo profissionais de saúde, a população em geral e estudantes. Sendo a América Latina um vasto continente, onde as regiões tropicais abrangem quase todos os países latino-americanos, e disparidades regionais em saúde mental foram relatadas, verificar as evidências sobre a prevalência de sintomas de transtorno mental e suas heterogeneidades, durante a pandemia da COVID-19, torna-se extremamente relevante.
Para isso, os autores realizaram uma análise de subgrupo dividindo a América Latina com base na América do Sul (a maioria, mas nem todos os países estão em regiões tropicais) e na América Central (em que todos os países são inteiramente tropicais). Esta meta-análise é parte de um grande projeto que visa entender a prevalência, e os preditores, dos sintomas de transtornos mentais provocados pela pandemia da Covid-19.
Um total de 36 amostras populacionais, descritas em 33 estudos considerados para a meta-análise final, envolveu 101.772 participantes da América Latina. Os tamanhos das amostras variaram de 57 a 43.995 participantes. As taxas de participação variaram de 11,4% a 100%, com um valor mediano de 66%. As proporções de mulheres participantes entre as 36 amostras populacionais variaram de 3,4% a 100% com uma mediana de 69,8%.
Na América Latina, 32 amostras, de 29 estudos, registraram a prevalência de sintomas de ansiedade entre 99.064 participantes. Agregando-se todos os estudos, a prevalência de ansiedade foi de 32% nos 29 estudos. Dos 24 estudos, um total de 27 amostras registrou a prevalência de depressão entre 53.622 respondentes, sendo a prevalência agregada entre todos os estudos de 27%. Oito estudos estudaram o estresse psicológico entre 7.644 participantes, alcançando a incidência agregada um valor de 32%. Sete amostras de cinco estudos investigaram a insônia entre 11.088 respondentes. O índice de Severidade da Insônia revelou que a prevalência, agregando todos os estudos e amostras, foi de 35%.
A prevalência geral de sintomas de saúde mental em profissionais de saúde da linha de frente, profissionais de saúde em geral, população em geral e em estudantes na América Latina foram de 37%, 31%, 33% e 36% , respectivamente. As taxas de prevalência combinadas de sintomas de saúde na América do Sul e América Central, considerando os países que falam espanhol e os países que falam português foram 33%, 27%, 30% e 36%, respectivamente para as mesmas categorias populacionais. Finalmente, a prevalência de sintomas de saúde mental foi mais alta na América do Sul do que na América Central, 33% versus 27%.
Em conjunto, os dados revelaram que a prevalência de sintomas de saúde mental entre os profissionais de saúde na linha de frente de 37% e nos estudantes universitários de 36% foram mais elevadas que na população em geral e nos profissionais de saúde em geral, indicadores, estes, que sugerem que as organizações psiquiátricas, e de cuidados de saúde, devem priorizar os trabalhadores de saúde na linha de frente e os estudantes universitários na América Latina.