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COVID-19 e a Saúde Mental (20): Preditores de Depressão e Ansiedade no Brasil

Desde o início do surto da Covid-19, no final de 2019, a pandemia tem causado um panorama devas­tador no mundo, incluindo a morte de milhões de pessoas e interrupções das funções socioeconômicas da sociedade e da vida diária dos indivíduos. Em particular, o Brasil tem uma das taxas mais elevadas de Covid-19, tanto dos indicadores de casos quanto de mortes no mundo, alcançando, hoje, 19/08/2021, aproximadamente 572 mil mortes e quase 21 milhões de casos confirmados de pessoas infectadas, alcan­çando grande impacto na vida de todas as pessoas da América Latina. De modo geral, é significativo seu impacto no território brasileiro, não apenas trazendo ameaça à saúde física das pessoas, mas, também, afetando a saúde mental de muitos, incluindo adolescentes e crianças. Por sua vez, a incerteza acerca das vias de transmissão inicial e do tratamento do vírus, tem exacerbado o medo das pessoas durante a crise pandêmica de 2019. Do mesmo modo, o distanciamento social e as medidas de confinamento curto ou longo neste período tem levado a população brasileira a sintomas exacerbados de ansiedade e depressão. Considerando que tal quadro sanitário continua afetando de forma dramática a população brasi­leira, torna-se crucial e urgente investigar os fatores de risco para a saúde mental dos adultos brasileiros, a tempo de se implementar o tratamento necessário e adequado que tal quadro venha a reclamar.

Neste contexto, Zhang, Da Silva et al (International Journal of Environmental Research and Public Health, 2021: 18) empreenderam um estudo para investigar os preditores dos sintomas de depressão e ansiedade dos brasileiros durante a pandemia da Covid-19, com o propósito de fornecer evidências preliminares sobre tal quadro e alertar as organizações de cuidados à saúde e aos psiquiatras para a necessidade destes identificarem o quadro nas subpopulações mais vulneráveis, de forma a procederem, de forma apropriada e pontual, às intervenções mentais necessárias. Para tanto, questionários foram dis­tribuídos via Google Forms, entre 9 a 22 de maio, focando características demográficas como preditores, bem como, as variáveis de desfecho depressão e ansiedade. Para o total de 857 adultos que participaram do estudo, 482 questio­nários foram válidos para analisar tais elementos.

O questionário sociodemográfico incluía, como preditores­-chave, os itens gênero, idade, educação, ocupação e número de crianças. Para avaliar a depressão, o questionário da saúde do paciente, que captura a frequência e severidade da depressão, relacionada aos sintomas nas últimas semanas passadas, foi uti­lizado com um total de 9 itens. Um exemplo destes itens sendo, “Nas duas últimas semanas, quantos dias você teve falta de apetite ou excesso de apetite (0=nenhum dia, 1=menos do que uma semana, 2=uma semana, 3=quase todo dia)?”. Já para avaliar a desordem de ansiedade generalizada, foi utilizada a Escala GAD-7, específica para o mesmo, que visa capturar desordens mentais com ansiedades persistentes por longo tempo e excessiva ansiedade como sintomas principais. Um exemplo destes itens sendo, “Nas últimas duas semanas, o quão frequente você se sentiu nervoso, ansioso ou muito tenso (0=raramente, 1=alguns dias, 2=mais do que metade dos dias, 3=quase todo dia)?”.

Considerando toda a amostra, observou-se que 45,9% dos adultos foram homens e 54,1% foram mu­lheres, com a idade média de 36,69 anos. Dos participantes, 72,5% estavam fazendo, ou tinham, o grau superior e 46,5% deles estavam empregados. Aproximadamente metade, 46,7% trabalhavam em casa, 24,3% tinham algum problema de saúde crônico. O tempo médio de realização de exercícios diários nas duas últimas semanas foi de 1,08 horas. Por adição, 3,3% registraram ter sintomas de Covid-19 e gasta­ram, em média, 1,37 horas buscando informação sobre a Covid, de forma online, por dia. Em relação à saúde mental, mais que 70% dos adultos manifestaram sintomas depressivos e 22,8% tinham experenciado depressão severa; 67,2% tiveram sintomas de ansiedade e 17,2% tiveram ou experenciaram ansiedade severa. Em relação aos preditores, os dados revelaram que, mulheres, jovens adultos e aqueles com poucas crianças tive­ram maior probabilidade de sintomas de depressão e ansiedade; adultos que trabalhavam com empregados foram mais prováveis de terem sintomas de ansiedade do que aqueles que foram autônomos e estavam desempregados. Adultos que despenderam maior tempo em busca de informações sobre a Covid-19 online foram muito mais prováveis de terem sintomas de ansiedade.

Finalmente, a incidência de sintomas de ansiedade e depressão na população adulta brasileira foi muito maior no início do surto pandêmico do que nas taxas pré-pandêmicas, indicando que a saúde mental dos brasileiros tem sofrido durante a pandemia da Covid-19. Logo, as organizações de saúde podem usar estes achados para identificar grupos mentalmente vulneráveis para a Covid-19 no Brasil. Decorrente disso, uma melhor identificação da população mais vulnerável mentalmente pode permitir um esforço mais dirigido para reduzir a alta prevalência dos sintomas de saúde mental no Brasil.

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