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COVID-19 e a Saúde Mental (18): Percepção de risco na Bolívia

A experiência com diferentes tipos de pandemia que tem assolado a humanidade tem revelado que modificações no comportamento das pessoas, visando adotar medidas protetivas, tais como, uso de máscara, higiene das mãos e diferentes tipos de isolamento são restri­ções fundamentais entre as populações afetadas, objetivando a redução do contágio e sua transmissão. Ademais, no caso da pandemia da Covid-19, em particular, a mídia social tem se tor­nado um importante canal de informação durante a pandemia uma vez que, através dela, as pessoas podem obter novos dados sobre a doença, e seu contexto real de propagação, compartilhan­do muito rapidamente essas informações com outras pessoas. Nesse contexto, a informação via mídia social pode influenciar os comportamentos e a percepção de risco das próprias pessoas. Não obstante, os desafios de veiculação não é apenas manter as pessoas informadas, mas, sim, informá-las de modo confiável, capacitando-as a agir corretamente.

Assim considerando, Zeballos Rivas et al (Plos One, jan. 22, 2021) investigaram os fatores associados entre percepção de risco e atitudes e comportamentos preventivos durante o início da pandemia da Covid-19 em La Paz e El Alto, ambos na Bolívia, no período de abril e mail de 2020. Questionários foram aplicados para 886 participan­tes entre 18 e 25 anos de idade, dos quais 65% foram mulheres. Na semana anterior à aplicação do questionário, 44% dos participantes registraram estar expostos à informação sobre a Covid-19 via mídia social quase sempre ou sempre; 34% dos participantes tendo sido categorizados como estando em percepção de alto risco. Os ques­tionários tinham 4 secções, incluindo história clínica e dados sócio-demográficos, exposição à mídia social, percepção de risco e atitudes e comportamentos visando prevenir à Covid-19, incluindo a aceitação de uma vacina futura.

Em relação aos dados referentes à percepção de risco à Covid-19, constatou-se que a percepção de risco foi alta em 34% dos participantes e baixa ou moderada em 66% dos mesmos, sendo associada com o sexo feminino, bem como, à alta exposição à mídia social e aos que se encontravam experenciando medo em relação à informação sobre a Covid-19, veiculada na mesma. Considerando a vacinação, a aceitação para uma futura vacina foi elevada em 54% e moderada em 30% dos participantes. A aceitação de uma vacina para a Covid-19, que estivesse disponível, também foi associada com uma alta percepção de risco. Participantes com atitudes preventivas positivas foram mais prováveis de terem uma percepção de alto risco, também, os dados relacionados ao uso de máscara e a alta frequência de higienização manual foram superiores em participante com uma alta taxa de percepção de risco. O grupo com alta taxa de percepção de risco mostrou uma aceitação superior em relação à vacinação em geral e a uma vacina específica futuramente.

Os autores também encontraram que, sendo mulher, au­mentou 50% a probabilidade de ter uma alta percepção de risco. Disposição muito elevada à informação sobre a Covid-19 na mídia social foi também associada com 2,5 vezes mais chance de ter uma percepção de alto risco. Também observou-se que exposição à mídia social está relacionada com medo e raiva. Medo sendo positivamente relacionado com percepção de risco, enquanto raiva o foi negativamente. Percepção de risco é associa­da positivamente com comportamentos e atitudes preventivas e com a aceitação de uma vacina se a mesma estiver disponível.

Tomados juntos, esse estudo que investigou o papel da mídia social como uma importante fonte de informação durante a pandemia da Covid-19 revela que a mesma está intimamente associada a alta percepção de risco e que, tanto medo quanto raiva podem influenciar a mo­delagem da percepção de risco. Os dados indicam, também, que a adoção de medidas preventivas e ações de controle da propagação do vírus dependem de como essas ações são credíveis junto à população, e como esta responde à mesma. A percepção de risco é um fator importante, que influencia o desejo da população na adoção de comportamentos como o uso da máscara, a higienização frequente e o distanciamento social, especialmente em cenários onde se impera as incertezas acerca do fluxo da pandemia como tem ocorrido na Bolívia e diversos outras países latino-americanos.

Finalmente, cumpre destacar que a aceitação de uma vacina específica no futuro foi altamente associada com a percepção de risco individual, principalmente nos grupos que são conhecidos estarem em alto risco, como os trabalhadores de saúde e os idosos. Em suma, uma comunicação de risco eficiente para a população por parte das autoridades, agências de saúde e governos está entre os componentes mais importantes para as respostas bem sucedidas de manejo pandêmico. Comunicação de risco bem sucedida pode ajudar o público em geral na adoção de comportamentos apropriados para a mitigação do surto pandêmico.

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