A pandemia da Covid-19, como é do conhecimento de todos, tem desafiado governos, sistemas sanitários, instituições educacionais, economias de mercado e de trabalho e o público em geral. Na ausência de vacinas e tratamentos retrovirais no início da mesma, e mesmo agora, com algumas vacinas já disponíveis, além da incidência de casos e número de óbitos ainda elevados, medidas para controlar a disseminação do vírus têm sido essencialmente as comportamentais, tais como: distanciamento social, uso de máscaras, higiene e consciência das mãos e outras, afins, visando neutralizar a exposição ao vírus, do tipo confinamento social total, quarentena e testagem em massa. No Brasil, especificamente, esta última ainda não atingindo a plenitude.
Neste contexto, o surto da Covid-19, combinado com medidas para controlar sua disseminação rápida na população, tem sido associado, em várias nações do mundo, com grande estresse psicológico e significativos sintomas, incluindo a qualidade deteriorada do sono. Dados sumariados em vários estudos de investigação dos problemas ligados ao sono indicaram que, meses depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado a pandemia como um problema de saúde pública mundial, a porcentagem de adultos categorizados como tendo problemas de saúde mental aumentou de 23% entre 2017-2019 para aproximadamente 37% no final de abril de 2020, exatamente no meio do período pandêmico. Ademais, esse aumento foi substancial nos jovens adultos e mulheres em que os sintomas de ansiedade, depressão e problemas do sono foram elevados.
Considerando a magnitude dos problemas de sono, Jahrami e colaboradores publicaram no periódico Journal of Clinical Sleep Medicine, 2021, 17 (2, 299-313), um estudo em que realizaram uma revisão sistemática objetivando avaliar a prevalência dos problemas de sono entre a população em geral, profissionais de saúde e pacientes infectados pela Covid-19. Para isso, realizaram uma revisão sistemática e meta-análise da literatura veiculada e periódicos científicos de 01/11/2019 a 05/07/2020. Não houve, nessa seleção de trabalhos, qualquer restrição ao idioma da publicação. Os únicos critérios de exclusão tendo sido implementados apenas quando ocorriam problemas metodológicos em potencial, ou quando os problemas relatados incluíam cartas ao editor, editoriais, revisões narrativas, opiniões ou posicionamentos de algumas sociedades científicas.
Um total de 44 publicações, envolvendo 50.231 participantes de 13 países, foram julgadas como relevantes, contribuindo para a revisão sistemática e meta-análise envolvida, pontuando os problemas de sono provocados pela Covid-19. A prevalência global, ou seja, a taxa de incidência de problemas associados ao sono na população em geral foi de 35,7%¨. Pacientes com Covid-19 pareceram ser o grupo mais afetado, com uma taxa de incidência combinada alcançando a magnitude de 74,8%. Trabalhadores ou profissionais de saúde e a população em geral tiveram taxa de incidência comparativa de problemas de saúde com valor de 36% e 32,3% respectivamente.
Considerando todos os dados e as análises efetuadas do manuscrito, tem-se que a prevalência das perturbações do sono durante a pandemia da covid-19 é elevada, afetando, aproximadamente, 40% das pessoas da população em geral e da população em particular dos trabalhadores de saúde. Os pacientes com Covid-19 ativa pareceram ter uma taxa de prevalência mais elevadas de problemas de sono. Logo, os problemas de sono entre a população em geral não podem ser ignorados pois os mesmos podem ter consequências muito sérias, haja visto que estudos similares, envolvendo sono e outra reações psicológicas, têm demonstrado que a ansiedade e depressão correlacionam-se positivamente com a severidade da insônia e com as ideações suicidas.