O corpo da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, morta na noite de quarta-feira, 14, no centro do Rio, foi enterrado às 17h40 desta quinta-feira, 15, no cemitério São Francisco Xavier, no Caju, zona norte.
A cerimônia, presenciada por centenas de pessoas, ocorreu sob forte comoção. O enterro foi acompanhado por líderes de movimentos sociais e políticos como a deputada federal Benedita da Silva (PT), o presidente da Câmara Municipal do Rio, vereador Jorge Felippe (MDB), e do líder do movimento dos sem-teto em São Paulo e pré-candidato a presidente da República pelo PSOL, Guilherme Boulos, além de vários outros correligionários de Marielle.
No cemitério, um religioso comandou uma oração e fez um sermão antes do sepultamento, que a imprensa acompanhou de longe, a pedido dos familiares da vereadora.
Execução – A irmã de Marielle Franco declarou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo não ter dúvidas de que a vereadora do PSOL foi executada. “Só não sei de onde veio”, disse em relação à autoria do crime.
Professora de Inglês, Anielle Silva, de 33 anos, mantinha contato quase diário com a irmã de 38. Ela garante nunca ter ouvido qualquer relato de ameaça à vereadora, mesmo depois de entrar na comissão que acompanha a intervenção federal no Rio de Janeiro. “Nem eu, nem a equipe dela. Ela estava muito tranquila em relação a tudo”, comenta. “Ela não tinha medo.”
Para a professora, o assassinato deve ter sido planejado recentemente. “Acho que foi algo tão rápido que não teve nem tempo de fazer ameaça”, afirma.
Marielle voltava para sua residência na Tijuca, na zona norte do Rio, quando foi morta a tiros. Segundo Anielle, a irmã tinha a preocupação em encerrar os eventos cedo, antes das 21 horas, mas não por causa da própria segurança, mas das demais mulheres que participavam dos encontros.
As duas irmãs cresceram no Complexo da Maré, também na zona norte, onde ainda têm familiares e na qual foram criadas pela mãe, a advogada Marinete Silva. São elas, mãe e irmã, que estão cuidando da única filha da vereadora, a estudante de Educação Física Luyara Santos, de 19 anos.
Anielle soube da morte da irmã por amigos, que viram as primeiras notícias do assassinato nas redes sociais. “Já estava público (o assassinato). Eu estava colocando a minha filha para dormir”, lembra ela.
Após a notícia, ela foi até a cena do crime e, na manhã desta quinta-feira, 15, foi ao Instituto Médico Legal (IML) liberar o corpo.
No Congresso – Homenagem na Câmara vira ato contra intervenção e Temer
Uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e ao motorista Anderson Gomes, assassinados na quarta-feira, 14, no Rio de Janeiro, se transformou em ato contra a intervenção federal no Estado e contra o Governo Michel Temer. A sessão foi presidida pelo presidente da Casa e pré-candidato à Presidência da República, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi hostilizado durante a cerimônia.
A homenagem começou com um cortejo pelo corredor principal da Câmara, onde militantes carregavam girassóis e uma faixa com frase: “Marielle presente, Anderson presente: Transformar o luto em luta.” Em seguida, entraram no plenário.
Militantes de esquerda ocuparam todo o plenário e, durante os discursos, não pararam de gritar palavras de ordem pedindo o fim da Polícia Militar, o fim da intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro, “Fora, Temer”, “Fora, Maia”, “Fora, Bolsonaro”, “Fascistas não passarão” e “Golpistas”. Líder da bancada da bala, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) também foi hostilizado no plenário.
“Cada uma de nós, sobretudo as mulheres, nos sentimos morrendo um pouco”, disse a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que destacou o crescimento desse tipo de crime “no curso de um governo sem legitimidade”. Na sequência, deputados de partidos de esquerda se revezaram ao microfone destacando a luta de Marielle a favor dos Direitos Humanos e sua origem de mulher pobre e negra. Também não faltaram nos discursos críticas à falta de planejamento na intervenção militar e cobranças por uma investigação célere.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) comparou a morte da vereadora aos assassinatos dos ambientalistas Dorothy Stang e Chico Mendes. “Basta aos que discursam propagando o ódio”, pregou, sob os aplausos da plateia. “Os que puxam o gatilho são os que fomentam o ódio”, completou.
Ao contrário do discurso do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que foi mal recebido pelos presentes, as declarações da petista Érika Kokay (PT-DF) foram aclamadas pelo plenário. “Essa bala foi apertada pelo Parlamento deste País”, disse a deputada.
Apesar de ter sido chamado de “golpista” em vários momentos, Maia deixou o evento minimizando as hostilidades. “Eu entendo que o importante é que o direito da manifestação está colocado, para a gente ouvir críticas e elogios com muito equilíbrio”, respondeu. Durante os momentos mais tensos da cerimônia, Maia chegou a ser aconselhado por seguranças a abandonar o evento, mas ele fez questão de seguir no comando da sessão solene.