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Cor da pele e dificuldades financeiras pioram saúde mental

Cerca de 22% do risco aumentado de psicose na população negra (ou não branca) pode ser explicado pela desvantagem social (Reprodução)  
Pesquisa de Fernanda teve orientação da professora Cristina Marta Del-Ben (Reprodução)

Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
*com informações do Jornal da USP

Pessoas que se autodeclaram negras e que convivem com as adversidades sociais estão mais sujeitas a desenvolverem um primeiro episódio de psicose na cidade de Ribeirão Preto e região. A constatação faz parte de um estudo de mestrado que relaciona a cor de pele e adversidades sociais como fator de risco para as psicoses.

De autoria da médica psiquiatra Fernanda Naira Zambelli Ramalho, a pesquisa se baseia em um universo de 197 pessoas diagnosticadas com um quadro de primeiro episódio psicótico no qual 49,8% (98) se autodeclararam como não brancas.  

“No nosso estudo tivemos o grupo controle composto de 302 pessoas saudáveis, não diagnosticadas com o problema. Dentre elas, 68,5% (207) se autodeclararam brancas e 31,5% (95) não brancas”, diz Fernanda, que desenvolveu sua pesquisa no Programa de Mestrado Profissional da Faculdade de Medicina de da USP/RP sob a orientação da professora Cristina Marta Del-Ben.

Fernanda conta que foi detectada maior incidência de psicose nos municípios menores que ficam nos arredores da cidade de Ribeirão Preto. Ao todo, o estudo envolveu outras 25 cidades menores da região, compreendendo área de 9.300 quilômetros quadrados (km2) e população de aproximadamente 1,3 milhão de pessoas.  

“Fica claro que o desenvolvimento socioeconômico é fator de risco, visto que os municípios analisados possuem piores indicadores socioeconômicos em relação à RP”, analisa a médica.  

Os municípios analisados, em sua maioria, têm as atividades rurais e agrícolas como principal fonte de renda. O levantamento de dados foi realizado entre os anos de 2012 e 2015.

Questionários
Para o levantamento e análise dos dados e com o consentimento de todos os participantes e responsáveis, os pesquisadores aplicaram questionários aos pacientes que eram atendidos via ambulatórios, pronto-atendimentos e enfermarias. “A medida de vulnerabilidade social utilizada foi o índice de desvantagem social, que foi calculado pela somatória de indicadores sociodemográficos como escolaridade, situação empregatícia, estado civil e apoio social”, descreve a médica psiquiatra.

Segundo a pesquisadora, cerca de 22% do risco aumentado de psicose na população negra (ou não branca) pode ser explicado pela desvantagem social. “Os outros cerca de 80% correspondem a fatores ambientais e genéticos, sendo eles alvos de investigação intensa do nosso grupo de pesquisa coordenado pela professora Cristina Del-Ben”, aponta Fernanda.

O tratamento básico para um primeiro surto de psicose consiste em medicações antipsicóticas. “É também recomendável que se tomem medidas socioeducativas de psicoeducação junto às famílias para que se combata o estigma do diagnóstico psiquiátrico e se tenha regularidade na administração das medicações e nas consultas de reavaliação médica periódica ”, recomenda Fernanda. “E o não tratamento adequado para o primeiro surto de psicose pode ocasionar a piora progressiva dos sintomas e a falha da resposta à medicação, levando até a consequências sociais, pois pode colocar em perigo a própria pessoa ou terceiros, devido ao risco de episódios de agressividade e agitação psicomotora quando o quadro não é tratado.”

Identificando a doença
Como explica Fernanda, a psicose pode ser identificada quando o paciente apresenta sintomas como alucinações, delírios e comportamento e fala desorganizados. Ocorre mais comumente entre as idades de 15 e 30 anos e pode ser precedida por sinais sutis na infância. Ela pode evoluir para sintomas mais graves como agressividade, agitação psicomotora e tentativas de suicídio. Além disso, pode acarretar comprometimento funcional de forma crônica.

As dificuldades
O estudo de Fernanda também mostra as principais dificuldades para que tais situações sejam amenizadas. Há a falta de contratação de profissionais habilitados nas unidades de atendimento e, por conta disso, os pacientes chegam a esperar entre três e quatro meses para serem atendidos. “Isso sem contar que os medicamentos, no caso os antipsicóticos, são fornecidos pelas farmácias de alto custo e frequentemente estão em falta na rede pública”, destaca Fernanda.

O estudo da médica psiquiatra foi realizado num grupo de pesquisa que é coordenado pela sua orientadora, professora Cristina Del-Ben. O estudo, como informa Fernanda, integrou um consórcio multicêntrico internacional de pesquisa em esquizofrenia e outras psicoses denominado EU-GEI (European Network of National Schizophrenia Networks Studying Gene-Environment Interactions), cujo objetivo é investigar a etiologia, mecanismos e prognóstico da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. “O consórcio envolve 17 centros de pesquisas em seis países: Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália e Brasil, que é representado pela FMRP”, descreve Fernanda. 

 

 

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