Carol Vilela, em entrevista ao Tribuna, rebate as acusações e diz que está há cinco meses sendo vítima de uma intensa perseguição por parte dos ativistas. Ela reconhece que extrapolou e se arrepende de postar em uma rede social comentário tratando jocosamente os protetores, a quem chamou de ”ativistinhas”, além de recomendar ”que fossem trabalhar, em vez de se manifestar defronte à sede da Coordenadoria do Bem-Estar Animal (Cbea)”.
Médica veterinária de 35 anos, filha de pais pecuaristas, apaixonada por cavalos, ela assume que é uma defensora dos rodeios, mas nega apoiar a caça e animais. ”Cresci nesse meio, não escondo de ninguém que sou contra a proibição dos rodeios”, diz. Voluntária do Hospital do Câncer de Barretos e de projeto social da Favela Vida Nova (antiga Favela da Aids), ela foi convidada pelo PP para candidatar-se a vereadora e aceitou. ”Achei que como vereadora poderia ampliar meu trabalho como voluntária em ações sociais”, explica.
Pouco antes da posse da atual administração, foi convidada a trabalhar com a primeira-dama Samanta Pineda no Fundo Municipal de Solidariedade (FSS). Estava lá quando recebeu um telefonema do prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB) convidando-a a assumir a Cbea. Carol Vilela, que tem cães, gatos e cavalos nas fazendas da família ou no sítio que tem em São Simão, aceitou.
Ao conhecer a Coordenadoria de Bem Estar Animal, constatar a situação caótica deixada pela administração passada, arrependeu-se, procurou o prefeito e avisou que ali não teria condições de trabalhar. A não ser que o prefeito autorizasse a gastar seu próprio dinheiro, pelo menos para as providências emergenciais. A primeira coisa foi remover oito caçambas de entulho. Depois, investiu do próprio bolso cerca de R$ 10 mil em melhorias.
”Mas os protetores nunca estão satisfeitos. Se eu coloco areia no ambiente de recreação dos cães, eles me criticam dizendo que os animais gostam de grama, não de areia. Mas poxa, eu ganhei areia!”, diz. Segundo ela, a perseguição ultrapassou os limites do cargo e passou a atingi-la pessoalmente. ”Quando souberam que atuo como voluntária na favela, chegaram a mandar mensagens dizendo torcer para eu ser estuprada por um morador de rua”, conta Carol Vilela, para justificar a ”falta de diálogo” apontada pelos ativistas dos direitos dos animais.
Nessa guerra, sobram versões conflitantes. Protetores realizaram manifestação e conseguiram que Câmara aprovasse requerimento convocando Carol Vilela com base no episódio do cão Jon, um vira-lata de médio porte e cor marrom. Atropelado no Quintino Facci II, na Zona Norte, foi resgatado pela Cbea, depois retirado por uma protetora e levado a uma clínica particular, onde não resistiu e morreu.
Os protetores acusam a Cbea de negligência, dizendo que a coordenadoria levou ”duas semanas” ou ”dois dias” (depende da versão) para resgatar o animal. Carol diz que tem um só veículo antigo que sempre quebra e que por mais de uma vez chamou seu mecânico particular para consertá-lo. Conta que no dia em questão o veículo estava operando como castra-móvel na Fazenda da Barra e mostra a notificação da equipe da Cbea, indicando que o resgate de Jon ocorreu às 17h30.
Segundo o veterinário Gustavo Cunha, o cão chegou com lesão na coluna cervical e fratura em uma das patas. Ele garante que, ao contrário do que dizem os protetores, Jon recebeu analgésico e anti-inflamatório até ser retirado por uma protetora, às 14h30 do dia seguinte. Carol Vilela diz que o animal não ficou sem medicação.
”Pela lesão dele, precisaria de radiografia e nós não temos raio-X. O procedimento padrão é aguardar três dias, com medicação, para ver se o animal melhora. Caso contrário, se estiver sofrendo, é eutanasiado”, informa o veterinário. Ele destaca – nenhum cão saudável sofre eutanásia, que só é aplicada quando o estado de saúde não melhora e o caso exige tratamentos que a coordenadoria não dispõe.
Na sessão da próxima terça-feira (28), a Câmara deve votar projeto de resolução da Mesa Diretora oficializando a convocação de Carol Vilela para depor no Legislativo, palco da próxima batalha entre a coordenadora do Bem-Estar Animal, uma apaixonada por equinos que já resgatou cavalo de carroceiro e bancou a internação em hospital veterinário, e os ativistas dos direitos dos animais, em especial, dos cães e gatos de rua.