A Polícia Federal acredita ter encontrado uma conversa que aponta para o envolvimento do hacker Luiz Henrique Molição, estudante de Direito de 19 anos, com o vazamento de mensagens publicadas pelo site The Intercept. Para os investigadores, um áudio encontrado em seu celular mostra uma suposta conversa com o jornalista Glenn Greenwald – que não é tido como investigado.
Molição foi preso na última quinta-feira, 19 de setembro, em sua casa no bairro Primeiro de Maio, em Sertãozinho, na Região Metropolitana de Ribeirão Preto (RMEP), na segunda fase da Operação Spoofing. “Chegamos à conclusão de que eles estão fazendo um jogo para tentar desmoralizar o que tá acontecendo”, afirmou o hacker, em um curto diálogo. “Então, é… a gente… eu estava discutindo com o grupo… eu queria falar com você um assunto”.
“Analisando o perfil de instagram ‘@luiz.molicao’ foi identificado um vídeo no stories no qual seria possível ouvir a voz de Luiz Molição, que segundo a equipe policial, aparenta ter semelhança com a voz do interlocutor do jornalista Glenn Greenwald na gravação de áudio acima mencionada”, diz a PF, na representação pela prisão de Molição. Segundo os investigadores, a conversa teria ocorrido no dia 7 de junho, e o universitário faz referência ao “grupo que pegou o Telegram de várias pessoas”.
De acordo com os investigadores, por “tais informações, verifica-se a existência de indícios razoáveis da participação de Luiz Henrique Molição nos fatos investigados”. A PF ainda vê contatos frequentes entre Molição e Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, de 30 anos, que admitiu ter feito parte dos vazamentos. Em depoimento, ele afirmou não ter recebido dinheiro para repassar as mensagens, e que a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) intermediou seu contato com o site.
“Vermelho” foi preso no Edifício Premium, na avenida Leão XIII, no bairro da Ribeirânia, na Zona Leste de Ribeirão Preto, em 23 de julho, ma primeira fase da Operação Spoofing. A PF, no entanto, ainda investiga se os hackers teriam sido patrocinados pelas invasões e, se foram, quem teria feito pagamentos. Contas dos investigados, de acordo com relatórios sobre suas transações financeiras, apresentaram um saldo incompatível com seus vencimentos, segundo consta em relatórios de investigações.
O programador de computadores Thiago Eliezer Martins dos Santos, o “Chiclete”, de 25 anos, foi preso em Brasília, no mesmo dia da prisão de Molição. Ele se encontrou com “Vermelho” na capital federal. Molição conheceu Walter Delgatti Neto na faculdade onde faziam o mesmo curso. Na primeira fase da operação, em julho, foram presos “Vermelho”, o motorista Danilo Cristiano Marques, de 36 anos, o DJ Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, e a namorada dele, Suelen Priscila de Oliveira, de 25. Todos são suspeitos de hackear o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, o procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, o presidente Jair Bolsonaro e outras autoridades – são cerca de mil pessoas no total, entre empresários, jornalistas e autoridades dos três Poderes.
Uma imagem da tela do celular de Delgatti indica que ele pode ter hackeado os celulares de políticos de Ribeirão Preto. As vítimas seriam o prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB), o deputado federal e líder do MDB na Câmara dos Deputados, Baleia Rossi, e o deputado estadual Léo Oliveira (MDB), usuários do aplicativo Telegram. Inicialmente, os presos são investigados pelos crimes de associação criminosa, invasão de dispositivos informáticos e interceptações telefônicas. Caso também sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional, como defendem integrantes do Planalto, a punição pode chegar a 15 anos de prisão.
Na lista de “Vermelho” estão ainda os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A lista de autoridades alvo do grupo também inclui o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Otávio Noronha. O senador Cid Gomes (PDT-CE) também foi alvo de Walter Delgatti.
“Vermelho” confessou o hackeamento e o repasse das informações para o portal The Intercept Brasil, que tem divulgado diálogos atribuídos a Moro e aos procuradores. O hacker disse que não cobrou contrapartidas financeiras para repassar os dados. A PF tem focado em desvendar se houve pagamento para a obtenção e compartilhamento de mensagens por parte dos hackers. No fim de agosto, novas medidas foram pedidas relacionadas à apuração de fraudes bancárias. Os quatro presos na primeira fase tiveram a prisão temporária convertida em preventiva, sem prazo para terminar.