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Conversa de Botequim

É um samba de 1935, composto por Noel Rosa e Osval­do Gogliano, o Vadico, um dos maiores e melhores parcei­ros de Noel Rosa. É a música de Noel mais gravada e uma das mais conhecidas.

Os jornalistas e escritores João Máximo e Carlos Didier descrevem a canção como uma “prodigiosa crônica dos cafés cariocas e seus folgados frequentadores”, cercados de garçons, cinzeiros, palitos, jogo do bicho, futebol e paga­mento fiado.

Não existe em nossa música popular crônica mais espirituosa sobre uma cena do cotidiano que a realizada por Noel em “Conversa de Botequim”. Localizada em um Café, ambiente em que o autor conhecia como ninguém, a crônica tem como personagem principal um freguês desabusado que, ao preço de uma simples média com pão com manteiga, acha-se no direito de agir como se estivesse em sua casa.

Para o antropólogo Roberto Da Mata, em artigo no jornal O Globo, os “faça o favor” espalhados pela letra representam um marcador cultural que torna o pedido algo “educado”, mesmo que ele seja um imperativo abu­sivo e absurdo Assim, em ordens sucessivas, ele exige do garçom atendimento rápido e eficiente: “Seu garçom faça o favor de me trazer depressa, uma boa média que não seja requentada, um pão bem quente com manteiga a beça e um guardanapo, um copo d’água bem gelado…” que inclui ainda o fornecimento de caneta tinteiro envelope, cartão, cigarro, isqueiro, cinzeiro, revistas, o resultado do futebol e até empréstimo de algum dinheiro, pois deixara o seu com o bicheiro. Tudo isso fiado, pois para terminar o sujeito ordena “Vá dizer ao seu gerente que pendure essa despesa no cabide ali em frente”.

Completa essa obra prima uma melodia sincopada de Vadico, que se casa com a letra de forma primorosa, como se as duas tivessem sido feitas ao mesmo tempo, por uma mesma pessoa. Noel Rosa é o melhor intérprete de “Con­versa de Botequim”, uma de suas composições mais gra­vadas. No seu jeito simples de cantar, ele “diz” a letra com a naturalidade com que um malandro daria todas aquelas ordens a um garçom de botequim.
“Conversa de botequim” é exemplo de malandros da épo­ca que “conseguiam” quase tudo com muita conversa fiada.

“Em nenhuma outra música é tão harmonioso o casa­mento da melodia com a letra, pontuação perfeita, acen­tuação irrepreensível (nem todos têm muito cuidado para com esse detalhe técnico de uma letra, a acentuação da palavra tendo de coincidir com a acentuação musical, isto é, a sílaba mais forte correspondendo à nota sobre a qual recai o acento melódico)”.

Segundo os biógrafos, não é possível determinar se Vadico foi o responsável pela melodia inteira e “Noel criou para ela os mais exatos versos de toda a canção brasileira”, ou se ambos trabalharam na construção da música, hipóte­se mais provável.
Salve Noel Rosa e Vadico, salve a música popular brasileira!

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