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Contra a proposta do transporte por ‘aplicativos’

J.F.PIMENTA

Os motoristas por aplicati­vos em Ribeirão Preto, André Luiz Pierazzo, Leonardo Perei­ra da Silva, Marina Orlandini e Luana Rodrigues, têm muito em comum quando o assunto é o motivo que os fizeram tra­balhar no setor. Com histórias pessoais de vidas diferentes, o que os uniu e os levou para os aplicativos de transporte, foi o desemprego. Sem consegui­rem a tão sonhada estabilidade em um trabalho com carteira assinada, bom salário e os be­nefícios dos direitos trabalhis­tas previstos em lei, a opção foi investir nos aplicativos para levar, como costumam dizer “o sustento para suas famílias”.

Na nova empreitada eles tiveram que financiar a com­pra de um carro, se cadastrar nas empresas prestadoras deste tipo de serviço, aten­der as exigências feitas por elas e torcer para que o in­vestimento dê certo. A única que ainda não comprou um veículo e que para trabalhar é obrigada a alugar um, por R$ 450,00 por semana, é Ma­rina Orlandini, há cinco me­ses na nova atividade.

Trabalhando cerca de 14 horas por dia para conseguir uma renda mensal média de cerca de R$ 2 mil reais, eles afirmam que têm pela frente uma nova missão junto com os outros motoristas do setor na cidade: a mobilização para que o projeto de lei do prefei­to Duarte Nogueira (PSDB), que regulariza o transporte por aplicativos no município seja modificado, antes da votação pela Câmara de Vereadores. A estimativa é que Ribeirão Pre­to tenha, atualmente, sete mil pessoas atuando como moto­ristas das plataformas Uber, 99, entre outras.

O primeiro passo para essa mobilização eles já deram. Nas redes sociais e nos muitos gru­pos de WhatsApp formados por motoristas, já circulam comunicados sobre a inviabi­lidade do projeto e a convoca­ção da categoria para que ela se organize e procure os vereado­res. O objetivo é se manifesta­rem contra trechos do projeto que consideram prejudiciais ao setor. “Queremos a regula­mentação porque ela ajudará a categoria. Mas, do jeito que o projeto está, só vai criar mais deveres e nenhum benefício”, explica Luana Rodrigues.

Entre os tópicos questio­nados pelos motoristas do se­tor está a obrigatoriedade de seguro para passageiros, algo que, segundo eles, as platafor­mas de aplicativos já oferecem. Também questionam a proi­bição de “pegarem ou desem­barcarem” passageiros perto de terminais rodoviários e ae­roporto e a obrigatoriedade de contribuírem para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). “No meu caso estou pagando uma previdência pri­vada para garantir o futuro de meus filhos e ela é muito me­lhor do que o INSS”, comple­ta Luana. Outro comunicado que circula nas redes sociais também pede que a categoria compareça “em peso”, na vota­ção do projeto para dizer não à proposta. Como o projeto foi protocolado na Câmara Mu­nicipal no dia 15 março e, por força legal, tem no máximo 45 dias corridos para ser analisa­do, terá que ser votado no dia 1 de maio.

Proposta já foi recusada antes
A primeira tentativa de regulamentação do setor foi feita pelo Executivo em feve­reiro do ano passado, através de decreto. Entretanto, em 27 de março, o então presidente Michel Temer (MDB) sancio­nou a lei que regulamentou o transporte privado de pas­sageiros por aplicativos (nº 13.640) e o decreto municipal teve de ser invalidado para as adequações exigidas pela le­gislação federal.

A segunda tentativa acon­teceu em 14 de agosto do ano passado, quando os vereadores recusaram um projeto de lei do Executivo, que pretendia re-gulamentar os aplicativos de transporte individual de passa­geiros em Ribeirão Preto. Com 22 votos contrários, a propos­ta elaborada por técnicos da Empresa de Trânsito e Trans­porte Urbano (Transerp) foi engavetada. Assim, platafor­mas como Uber, 99Pop, Will­Go, Cabify e 99Táxi continu­aram em situação “irregular” na cidade. O projeto de lei rejeitado em agosto já respei­tava as regras previstas pela legislação federal.

Se o atual projeto for apro­vado, cada plataforma vai pagar ao município de 500 a duas mil Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (Ufesps, cada uma vale R$ 26,53 neste ano) – entre R$ 13.265,00 e R$ 53.060,00, dependendo da quantidade de veículos cre­denciados, de até 500 carros até os apps com mais de 1.500 prestadores de serviço. O cre­denciamento terá validade de doze meses e poderá ser reno­vado.

Obrigações do motorista
Já o trabalhador precisará obedecer a uma série de pré -requisitos, como comprova­ção de residência no municí­pio, possuir Carteira Nacional de Habilitação (CNH), com autorização para exercer ativi­dade remunerada, aprovação em curso de formação para transporte individual de pas­sageiros, ou similar, e contrata­ção de seguro, com cláusula de Acidentes Pessoais a Passagei­ros (APP), no valor de R$ 50 mil por pessoa.

Também deverá com­provar a quitação do seguro obrigatório (DPVAT), a pro­priedade e a regularidade de licenciamento do veículo a ser cadastrado, que não poderá estar licenciado como veículo de aluguel. Excepcionalmente, será permitido carro de pro­priedade de outra pessoa física, mediante autorização específi­ca para prestação deste tipo de serviço.

Terá ainda que apresentar atestado de bons anteceden­tes criminais, através de certi­dões renovadas anualmente e comprovar a inscrição como contribuinte do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), nos termos do Códi­go Tributário Municipal, além da contribuição individual ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Já os veículos terão que ter, no máximo, oito anos de uso e capacidade para até quatro passageiros, excluí­do o condutor.

Novas cidades
Desde sexta-feira, 29 de março, a Uber passou a ope­rar em Barretos, Bebedouro, Mococa e região. Além das cidades, o aplicativo chega agora a outros municípios do entorno como São José do Rio Pardo, São Joaquim da Barra, Orlândia e Guaíra. Ao chegar aos novos locais, a Uber pre­tende fazer parte da vida das cidades e oferecer uma nova opção de mobilidade.

Sindicato dos Taxistas diz que “esse é o preço do progresso”


O presidente do Sindicato dos Taxistas de Ribeirão Preto, José Rodolfo Rodrigues prefere não polemizar e nem entrar no mérito do projeto de lei, mas diz que a regulamentação é importante para dar direitos e deveres para este tipo de atividade. À frente da entidade há doze anos, ele acredita que a categoria atravessa um momento difícil em função das novidades tecnológicas que estão mudando a realidade de muitos setores produtivos do país. “A tecnologia veio pra ficar e ‘esse é o preço progresso´”, diz. A frase, aliás, ele memo­rizou há muito tempo ao ouvir muitas vezes o então prefeito Duarte Nogueira – já falecido – dizê-la para seu pai, José Percides Rodri­gues, então presidente do Sindicato dos Taxistas de Ribeirão Preto. Na época, Nogueira teria usado a frase, por exemplo, para explicar a chegada do computador no cotidiano das pessoas e a saída de cena da máquina de escrever.

Para possibilitar que os taxistas do estado de São Paulo acompa­nhem e se insiram na era dos aplicativos, a Federação Estadual da categoria, em conjunto com os sindicatos de várias cidades, como por exemplo, Ribeirão Preto, desenvolveu o aplicativo Four Taxi. Semelhante ao das plataformas do transporte por aplicativo ele possibilita que o taxista atenda os usuários, via celular. Várias cida­des, como São Paulo, já utilizam esta tecnologia. Em Ribeirão Preto, o sindicato está trabalhando para a adesão dos taxistas ao novo instrumento digital. “Estamos trabalhando para que haja uma adesão grande, pois, caso contrário, o aplicativo se tornará inviável aqui”, diz. Ribeirão Preto tem 379 taxistas e, até o momento, cerca de 50 já manifestaram interesse no aplicativo.

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