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Construindo sonhos

JF PIMENTA

Até a semana passada, dia 2 de novembro, o pedreiro Anderson Honório, a esposa e os dois filhos, um com nove anos e o outro com quatro, viviam em um barraco feito com restos de compensados, na Comunidade da Paz, fa­vela localizada no Jardim Ju­liana, Zona Leste da cidade. No local, que não possui ne­nhuma infraestrutura básica, vivem outras 320 famílias, segundo dados dos líderes comunitários daquela comu­nidade.

Entretanto, graças a Orga­nização Não Governamental Teto, desde o começo desta semana, ele passou a viver em uma pequena casa de madei­ra, construída no mesmo lo­cal ocupado pelo antigo bar­raco. O novo lar da família, segundo ele é “uma maravi­lha” em comparação com o anterior. “Agora tenho mais conforto para minha famí­lia”, diz. A próxima etapa, segundo ele, será conseguir dinheiro para fazer mais dois cômodos – banheiro e cozinha – de alvenaria. “Vai demorar um pouco, mas vou conseguir” garante.

Anderson: família terá mais conforto

Além de Anderson, outras 14 famílias da comunidade também foram beneficiadas com novas moradias, cons­truídas nos mesmos terrenos onde cada uma delas morava. Com 18 metros quadrados, cada casa tem um custo final de R$ 8 mil e neles estão inclu­sos desde o material, a logística do projeto e o custo opera­cional dos voluntários, como transporte até a comunidade, alojamento para quem vem de outros locais e a alimentação.

Só para exemplificar, du­rante a construção parte dos voluntários ficou alojado – sábado e domingo – na Esco­la Municipal Jarbas Massulo, localizada naquela região da cidade. A cessão foi feita com compromisso formal da ONG se responsabilizar por algum eventual dano ao imó­vel e porque no período não havia atividades educacionais na escola.

Silmara aguardando ansiosa casa ser pintada

Processo de Seleção
A Comunidade da Paz foi selecionada pela ONG a par­tir de critérios técnicos, como o fato de ter muitos barracos de madeira. Isso porque não seria justificável derrubar um de alvenaria para fazer um de madeira. Já os moradores beneficiados são sorteados e escolhidos a partir do grau de vulnerabilidade social que possuem.

Em função das casas se­rem feitas de madeiras, para evitar o contato com a terra e sua deteriorização, elas são construídas a uma distância de 50 ou 60 centímetros do solo, sobre cilindros também de madeira. Com isso, a falta de saneamento básico do lo­cal e a água das chuvas não acabam contribuindo para o apodrecimento da madeira. Neste final de semana, 9 e 10 de outubro, os voluntários voltam ao local para realizar a pintura das casas.

A catadora de recicláveis, Silmara Marques Souza, de 36 anos não vê o momento de ter seu novo lar, chamado por ela de “casa de princesa”, to­talmente pintada. Na última quinta-feira, 7 de novembro, enquanto organizava seus “móveis” no novo espaço, parecia uma criança feliz que acaba de ganhar um presente.

“Nunca tive uma casa as­sim. Ela é confortável e não chove dentro como aconte­cia com o barraco em que morava. Ele era um lixo”, afirmou. Como não tem renda fixa, com a ajuda de outras pessoas, ela conseguiu várias peças de roupas usadas e tenta conseguir algum di­nheiro vendendo elas na rua que dá acesso à Comunida­de. Silmara tem dois filhos, um com vinte anos de idade – que não vive com ela – e ou­tro com treze.

O que é a Organização Teto

Segundo Rafael Borges Brosco objetivo é melhorar condições de vida no local onde as famílias moram

A Organização Não Governamental Teto chegou ao Brasil há 12 anos, mas esta é a primeira vez em que os voluntários realizam uma ação em Ribeirão Preto. Segundo o coordenador regional da entidade na cidade, Rafael Borges Brosco, a escolha da comunidade que seria beneficiada começou em fevereiro. Na época, eles visitaram várias delas para ver onde seria mais viável a implantação do projeto.

Ele explica que a escolha das famílias atendidas foi feita considerando as que vivem em maior situação de risco e em barracos de madeiras. Depois é feito um ranqueamento socioeconômico para verificar as que têm crianças, idosos, morador com alguma deficiência e que por isso são priorizadas. Rafael é economista e membro da Teto desde 2007, quando ainda morava em São Paulo. Está em Ribeirão Preto há três anos.

“Nosso objetivo não é aumentar o número de comunidades nem expandi-las. Temos com comis­são melhorar as condições de vida delas no local em que vivem”, afirma. Ele lembra também que retirada da população das chamadas comunidades por meio de políticas de moradia populares, ou a urbanização destes locais é função do poder publico. Ribeirão Preto possui cerca de 87 comuni­dades com 9.734 família.

Presente em 19 países da América Latina e Caribe, a organização TETO tem como objetivo cons­truir moradias minimamente dignas para os mais pobres. Surgiu em 1997 com um grupo de es­tudantes da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Santiago. Na época a ONG organizou uma construção massiva de moradias de emergência para as famílias mais pobres do sul do Chile.

Em dezesseis anos, a organização já construiu 100 mil casas em quase todos os países da Amé­rica Latina. O custo anual é de US$ 35 milhões, o equivalente a R$ 76 milhões. O financiamento é resultado de empresas, de parcerias, de pessoas físicas que contribuem mensalmente e de alguns fundos internacionais de fundações. Na cidade de São Paulo a Organização já construiu 1,7 mil casas e atua em sessenta assentamentos precários.

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