Em Ribeirão Preto, por exemplo, há políticas de cotas nos concursos públicos, mas não se reflete nos cargos de mando e poder. Como podemos observar no primeiro escalão há só uma negra no governo.
No mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra, membro do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial faz uma análise do tema
Na última terça-feira, 20 de novembro, foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Em várias cidades brasileiras, entre elas a capital do estado, São Paulo, a data foi feriado municipal. Desde 2016, em Ribeirão Preto não é feriado, devido uma representação, em 2011, do Ciesp – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, no Ministério Público, que entrou com ação para derrubar a lei municipal que instituía o feriado. O STF, Supremo Tribunal Federal, em 2016, decidiu em favor do MPE. Independente de feriado ou não, pouco se viu, em termos de comemoração. Nas cidades em que houve o feriado, a população aproveitou para emendar as datas, desde o feriado da Proclamação da República, na quinta, dia 15.
No mês em que se comemora a Consciência Negra algumas questões cruciais devem ser apresentadas. Uma delas é o desemprego. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os negros são 64,2% dos desempregados no Brasil, embora representem 55,7% do total da população. A participação de pretos e pardos entre os desocupados cresce desde o início da série, iniciada em 2012.
Segundo a pedagoga, Silvia Seixas, integrante do COMDEPIR – Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, há tempos os índices dos órgãos oficiais de pesquisa apontam a diferença entre negros e brancos.
“Tanto o Ipea, como o IBGE inclusive, assumem que mesmo com a implantação pontual de políticas de ações afirmativas essa diferença não tem diminuído consideravelmente”. diz.
Para ela a questão do emprego não é diferente em Ribeirão Preto em relação aos demais centros. “Em Ribeirão Preto, respeitadas as proporções, os negros têm maior dificuldade na colocação e ou recolocação profissional. Importante ressaltar que quando incluímos jovens negros a questão torna-se mais grave ainda”, comenta.
Seixas aponta que políticas de promoção da igualdade podem “sensibilizar os processos de seleção, em todas as categorias”. “O olhar selecionador para o jovem negro ser somente de avaliação do conhecimento e habilidades e não um olhar preconceituoso que afasta a possibilidade da contratação. E óbvio que há um problema de desemprego geral no país, mas o recorte étnico-racial mostra que este problema se agrava para os jovens negros especificamente em razão do racismo institucional”, diz.
A ativista social comenta outro ponto polêmico, o de cotas. “Erroneamente o senso comum acredita que há uma política de cotas oficializada e não há. O que temos é o julgamento da constitucionalidade junto ao Supremo Tribunal e ações espalhadas pelo Brasil, em especial nas universidades, incluindo o sistema de acesso diferenciado. Em Ribeirão Preto, por exemplo, há políticas de cotas nos concursos públicos, mas não se reflete nos cargos de mando e poder. Como podemos observar no primeiro escalão há só uma negra no governo”, finaliza.
Foto Arquivo Pessoal
Legenda_ Sílvia Seixas:“Erroneamente o senso comum acredita que há uma política de cotas oficializada e não há”