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Consciência Negra – A luta e a agenda continuam

Neste ano o Dia da Consciência Negra ganhou grande des­taque na imprensa, nas diversas mídias e redes sociais, apre­sentando reflexões variadas, se tornando uma data simbólica e provocativa. Foi significativo o número de pessoas que aderiram à causa. Ainda, assim, alguns ficaram incomodados e reivindica­ram sua troca pela Consciência Humana.

Para esses, didaticamente vamos lembrar que a consciência humana nunca existiu e a necessidade da chamada consciência negra tem razões pelo passado dos que foram escravizados por mais de 300 anos, pelo presente de seus descendentes que viven­ciam toda exclusão, desigualdade de direitos e oportunidades e pelo futuro que precisa ser diferente.

Se inicialmente devemos denunciar as situações cotidianas de racismo, preconceito e discriminação, suas causas e consequ­ências, na sequência precisamos de ações e implementação de políticas públicas e privadas que proporcionem avanços consis­tentes rumo à tão sonhada igualdade.

Na saúde é fundamental que profissionais e usuários tenham conhecimento da existência de doenças que são mais prevalentes na população negra, entre as quais anemia falciforme, diabetes mellitus, hipertensão arterial, patologias da próstata, além das agravadas pela condição social ou ambiental, tais como, desnu­trição em geral, doenças infecciosas, da pele, parasitárias coleste­rol, dislipidemia e intoxicação por contaminação por agrotóxico.

Na segurança precisamos aprimorar a formação continuada dos agentes quanto à questão étnico-racial, para que reconhe­çam e evitem situações de racismo externo e o praticado pelas próprias corporações, inclusive nas técnicas de abordagem e contenção. Também fortalecer a inserção e a reinserção social e econômica de adolescentes e jovens egressos de instituições socioeducativas ou do sistema prisional.

No campo da fé temos que superar a intolerância e o racismo religioso, que tentam demonizar, criminalizar ou desqualificar símbolos religiosos de matriz africana e afro-brasileira. Em um país laico, deve haver liberdade de culto e isonomia no tratamen­to de todas as religiões.

Já passou da hora de legalizar e garantir a titulação, a regulari­zação e a legitimidade da propriedade dos territórios quilombolas, viabilizando o desenvolvimento das comunidades tradicionais.

Uma grande mola propulsora das transformações é a edu­cação. As escolas devem contar com profissionais capacitados e envolvidos com material didático/pedagógico que proporcione o diálogo, conscientização e formação de uma geração antirra­cista e cidadã. Os frutos serão percebidos em todos os setores da sociedade, especialmente no mercado de trabalho, atualmente tão excludente. Sim, a força de trabalho que mais contribuiu para a formação do país não consegue acesso ao emprego e renda.

A economia criativa deve potencializar a cultura afro-bra­sileira que, muito além do Samba e do Funk, contempla as Pastorinhas, o Rap, o Maculelê, o Congo, o Tambor de Crioula, a Capoeira, os Blocos Afros, o Bumba meu boi, o Terno de Reis e outras diversas tradições regionais que juntamente com o turismo, podem ser transformadas em polos criativos geradores de emprego e renda.

Além das instâncias estaduais e nacional, cada município precisa de um órgão de Promoção da Igualdade Racial com investimento financeiro e humano e conselhos de participação popular para acompanhar a implementação das políticas.

Como se observa, existem muitas demandas e vários desafios a serem superados. Estamos chegando ao final do mês da consci­ência negra, mas a luta continua e a agenda deve ser permanente.

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