O Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac) de Ribeirão Preto instaurou processo administrativo para levantar dados do acervo e apurar o estado de abandono dos Museus Histórico e de Ordem Geral Plínio Travassos dos Santos e do Café Coronel Francisco Schmidt, no chamado “Complexo dos Museus”, no campus da Universidade de São Paulo (USP).
A decisão foi tomada após diligência ao local realizada na sexta-feira, 20 de outubro, pelo conselho com a presença de representantes da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Segundo o presidente do Conpacc, Lucas Gabriel Pereira, durante a inspeção foi constatada a falta de inventário sobre o que existe dentro dos museus.
Também foi verificada falhas na conservação. Diz que várias árvores de pequeno porte existentes no entorno dos museus teriam sido retiradas sem autorização ou conhecimento do Conppac. Nesta terça-feira (24), o fotógrafo Alfredo Risk flagrou um vazamento de esgoto no local. “O que verificamos foi uma situação criminosa do patrimônio cultural de Ribeirão Preto que se arrasta nos últimos anos, isso não é de agora. É um fato já consumado”, afirma Pereira.
Além do processo administrativo o Conppac decidiu denunciar o caso ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) e à Polícia Civil para que apurem eventual crime contra o patrimônio cultural e ambiental. Segundo a prefeitura, na visita técnica, equipes da Secretaria da Cultura e Turismo avaliaram as condições de acervo e estrutura predial, como parte dos trabalhos de restauro e requalificação.
Segundo a administração municipal, o projeto final será apresentado na próxima reunião do Conppac, marcada para o dia 30 de outubro. Em dezembro de 2021, a prefeitura de Ribeirão Preto anunciou que precisaria de R$ 15 milhões para restaurar os museus
Nesta terça-feira, o presidente do Conppac formalizou via oficio, ao secretário Pedro Leão para que a pasta forneça cópia integral dos três livros com a relação das obras dos acervos encontrados nos Museus Histórico e do Café, durante a diligência. Segundo ele, o material servirá para o conhecimento e a comparação dos itens listados e do existente atualmente nos dois espaços.
O projeto de restauro não compreende somente a reforma e restauro dos museus, mas também a Casa do Colono, coreto e belvedere, os jardins e o entorno, inclusive o cercamento do complexo. Também prevê a construção de um prédio novo para reserva técnica e um novo local de estacionamento para os visitantes.
Esses novos locais serão incluídos em espaços que não irão interferir no patrimônio histórico. A novela do restauro dos dois museus começou em 2016, quando ambos foram interditados, depois que o forro de um dos cômodos desabou.
Na época, uma Comissão Especial de Estudos (CEE) da Câmara comprovou a deterioração do acervo dos museus e serviu de subsídios para a ação civil movida pelo Ministério Público. Em outubro de 2017, a Justiça determinou que a prefeitura iniciasse, em até 90 dias, a restauração dos museus, sob pena de multa diária de R$ 1 mil.
A administração recorreu da sentença, que acabou sendo mantida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). Já em janeiro de 2019, a Justiça determinou que a prefeitura de Ribeirão Preto teria de reformar os museus em até dois anos, sob pena de multa de R$ 10 mil por dia de atraso. Os acervos também deveriam ser restaurados dentro de um ano.
O Complexo dos Museus
Com o objetivo de contar a história do “ciclo do café” em Ribeirão Preto e no Brasil, Plínio Travassos dos Santos começou a recolher e colecionar objetos alusivos a cultura do “ouro verde”. Em 20 de janeiro de 1955, já com um número significativo de objetos, foi inaugurado o Museu do Café, instalado provisoriamente, em três salas e três corpos das varandas que circundam o edifício do Museu Histórico.
O prédio do Museu do Café Coronel Francisco Schmidt foi inaugurado oficialmente em 26 de janeiro de 1957, no campus da Universidade de São Paulo (USP). O Museu Histórico e de Ordem Geral começou a sair do papel em 1938, por iniciativa do seu patrono Plínio Travassos dos Santos. Com o objetivo de criar um museu em Ribeirão Preto. A criação foi oficializada em julho de 1949.
Em 1950, o município recebeu por empréstimo a casa-sede (antigo Solar Schmidt) da Fazenda Monte Alegre. Este imóvel e a área circundante foram posteriormente doados (em regime de comodato) mediante autorização legal. Em 28 de março de 1951, instalado definitivamente no antigo Solar Schmidt, o museu foi inaugurado, com as seções Artes, Etnologia Indígena, Zoologia, Geologia e Numismática.
Os Museus Histórico e do Café abrigam um dos mais importantes acervos relacionados ao café, formado por cerca de três mil objetos, dentre eles documentos históricos, fotografias, numismática, etnologia indígena, mineralogia, mobiliário, indumentária, além de obras de arte como pinturas e esculturas de artistas de renome como Victor Brecheret, Rodolfo Bernardelli, José Pereira Barreto, Tito Bernucci, Oscar Pereira da Silva, J. B. Ferri, Odete Barcelos, Colette Pujol, muitas com temática histórica.