O Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac) está cobrando do governo Duarte Nogueira Júnior (PSDB) a implementação do Fundo de Preservação do Patrimônio Cultural (Funppac), que terá como objetivo o investimento em qualificação de agentes públicos que lidam com a proteção do patrimônio.
Segundo o presidente do Conppac, Anderson Polverel, a proposta depende de um decreto regulamentador do prefeito Duarte Nogueira. O conselheiro afirma que, com o fundo, haverá investimentos em projetos de preservação nos casos em que o proprietário não possui recursos para investimento. “Sinto que a sociedade está preparada e anseia por avanços nesta área”, diz.
“Afinal, a herança cultural de Ribeirão Preto tem relevância nacional e, não podemos relegar esta história a arremedos de última hora. Precisamos debater seriamente a Cultura de Ribeirão Preto com a sociedade civil, promover fóruns de debate, eventos que de fato promovam a Cultura. A missão é difícil? Não tenha dúvida”, emenda Polverel.
Inativo – O Conppac retoma suas atividades após mais de um ano de total inatividade. “Retomamos nossas atividades em fevereiro deste ano com uma importante tarefa: dar dinamismo ao conselho, desburocratizar a tramitação do processo e, mais do que isso, sinalizar a sociedade que é possível aliar preservação e desenvolvimento”, explica o presidente do Conpacc.
Segundo ele, o conselho começou o ano com um levantamento completo de todos os processos que tramitam na entidade para que, a partir daí, pudesse identificar “onde estão os gargalos e, na medida do possível, destravá-los para que a sociedade, sobretudo a iniciativa privada, que quer investir na preservação do patrimônio, possa ter a orientação necessária e a segurança jurídica de que terá uma resposta eficiente e célere na análise de sua proposta”.
Polverel diz acreditar que dar dinamismo ao Conppac é o maior desafio de sua gestão. “O poder público tem importante papel nesta meta, pois por imposição legal é ele quem deve dar os meios materiais necessários como investimentos, funcionários e equipamentos. Apesar de alguma tensão inicial na relação com o poder público, temos a esperança de que administração do prefeito Duarte Nogueira se sensibilize para necessidade urgente de investimento na preservação da Cultura e estamos prontos para contribuir com esse debate”, ressalta.
O presidente do Conppac critica as gestões municipais anteriores. “Lutamos contra anos de negligência na preservação da Cultura. Os governos se habituaram a decidir sem ouvir. E o resultado nós vemos diariamente nas ruas. Prédios históricos em ruínas. De nossa parte, para mudar esse cenário estamos começando do início, destravando o processo de tombamento para que ao menos a iniciativa se interesse em investir na preservação de nossa herança cultural”, acrescenta.
Prédios tombados – O Conppac, na prática, tem outros desafios, como a análise do projeto de restauração da Casa Camilo de Matos e da restauração da Biblioteca Altino Arantes. “Temos que dar todo suporte, orientando, corrigindo, mas nunca inviabilizado que as restaurações aconteçam. No campo da proteção do patrimônio imaterial, as tradições culturais, manifestações culturais de nossa gente, também foi dado um grande passo com a estruturação legal que permitirá essa análise. Vamos avançar também nesta frente e esperamos apoio de todas forças de nossa cidade”, conclama.
Polverel destaca como bom exemplo, as obras de reforma do Palacete Jorge Lobato, no Centro de Ribeirão Preto, com restauração feita pela iniciativa privada e que abrigará restaurante e café. O casarão estava fechado desde 1991. Segundo o atual proprietário, o engenheiro civil Hector Sominami Lopes, a expectativa é reabrir o espaço no primeiro semestre de 2018 – ainda tem algumas pendências com a prefeitura, como o processo de isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e a construção da cozinha do restaurante.
No local vai funcionar o Café e Restaurante Palacete. O Conppac passou por problemas legais em 2017 e a definição de sua composição só foi anunciada no segundo semestre – uma lei sancionada pela então prefeita interina Gláucia Berenice (PSDB), em dezembro do ano passado, reorganizou o conselho, após a legislação de 2007 ter sido anulada pela Justiça.
Construído em 1922 pelo escritório de engenharia Geribelli & Quevedo, com projeto arquitetônico original de Adhemar de Moraes, o palacete, tombado em 2008 pelo Conppac, preserva alguns móveis originais. O casarão foi uma das primeiras edificações da cidade a romper com o modelo de cômodos interligados – foi o pioneiro na individualização dos espaços íntimos.
Até então, todos os cômodos de uma casa da elite cafeeira tinham duas portas, facilitando a vigilância do chefe da família sobre seus integrantes. São 650 metros quadrados de área construída com mais de 20 cômodos onde morou o engenheiro civil Jorge Lobato, a esposa Anna Junqueira e os cinco filhos do casal. Os vitrais originais dos anos 1920 são uma atração à parte: nas escadas, em frente à porta principal, há um vitral com a imagem de São Jorge e, na sala de jantar, outro com imagem do Rio de Janeiro.
Na parte externa da casa, além do jardim, há uma construção que os pesquisadores acreditam ser uma capela, porões e uma garagem com quartos na parte superior onde os empregados da família moravam. O casarão, no estilo art déco (estilo artístico de caráter decorativo que surgiu na Europa, principalmente na França, na década de 1920), é considerado uma importante fonte para historiadores que pesquisam as relações familiares, sociais e entre patrões e empregados na primeira metade do século 20.
Entre seus 20 cômodos possui salas de música, de visitas, de recepções (de cerca de 50 metros quadrados, com piso de mármore), de jantar e escritório, além de oito vitrais franceses. No entorno da casa principal, além da casa dos empregados, há um orquidário e um pomar. O casarão estava fechado desde 1991, quando faleceu o último morador.