José Eugenio Kaça *
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Para entender o presente é preciso conhecer o passado. Se fosse possível fazer o caminho inverso, talvez pudéssemos corrigir na origem as mazelas que atravessaram séculos, e não permitir que o presente repetisse o passado. O Brasil foi alicerçado na desigualdade social e no totalitarismoda aristocracia dos donos do poder, que pavimentaram as estradas de suas riquezas com o suor e o sangue da mão de obra escrava, e da exploração das classes submissas.Osséculos se passaram e estes privilégios se mantiveram quase que intactos, e nos dias de hoje vemos o presente repetir o passado.
Quando falamos em democracia, o Brasil aparece como um país que desde a Proclamação da República está tentando solidificar seu modelo de país, pois ao invés da República trazer paz e prosperidade prometida pelos seus idealizadores, na maior parte do tempo andou de mãos dadas com regimes ditatoriais. Acontece que a deposição do Império se deu através de um golpe aristócratico-militar, não foi uma construção da sociedade, e com isso os militares se arvoraram o direito nato ao poder, e não estavam submetidos a nenhuma Constituição, pois eram o poder, e consolidaram este poder aliados a aristocracia rural e urbana, e com isso os militares se autodenominaram os herdeiros do poder moderador que era exclusividade do Imperador, mesmo que o mesmo tenha sido excluído das constituições Republicanas.
Como não temos o poder para percorrer de volta o caminho para mudar o passado, a convivência com o novo que é tão velho se torna inevitável. Como diz os versos de Chico Buarque: “Aquela esperança de tudo se ajeitar pode esquecer”, retrata com fidelidade o momento que estamos vivendo. A repressão violenta em cima da população pobre produzefeitos psicológicos de maneiras distintas.Algunsvão se rebelar pedindo liberdade e direitos humanos, mas serão facilmente dominados pela repressão, os outros como os bois que seguem para o matadouro, acham que tudo sempre foi assim, e nada vai mudar.E assim se constrói a identidade de um povo ordeiro e solidário, que será despertado quando os interesses dos poderosos solicitar.
A ilusão de que uma Carta Magna democrática pudesse transformar o Brasil em uma Nação, foi aos poucos se diluindo, e após trinta e cinco anos está mais remendada do que os telhados dos barracos nas favelas. Até o Supremo Tribunal Federal, que é o guardião-mor da Constituição, andou cometendo erros traindo-avergonhosamente, mas apesar destas incongruências tem agido nos dias atuais para colocar na cadeia os golpistas que atentaram contra o Estado Democrático.
O desrespeito à lei maior do País está abrindo as portas do inferno, e os demônios começam a voar livre leve e solto. O Brasil está derretendo como as geleiras no verão. Há algum tempo que os cupins arraigados no subsolo do poder tramam para sermos o laboratório experimental do novo liberalismo radical. A pregação sistemática, de que só seremos um País evoluído, e sem miséria, quando tivermos um Estado mínimo, e tudo for privatizado, e para isso acontecer trabalham diuturnamente. Mas esta conversa mole de Estado mínimo desmoronou quando se comprova que não desenvolvimento cientifico e tecnológico que não tenha a mão forte do Estado.
A industrialização do Brasil a partir dos anos 1940, só aconteceu por conta do Estado, mas o amparo da população pobre só aconteceu após a Promulgação da Constituição de 1988, pois no Brasil não havia compromisso em cuidar da saúde e educação dos pobres, a saúde da população dependia da misericórdia das Santas Casas e Beneficências, que por caridade prestavam estes serviços. Já a educação básica não cumpria seus objetivos, como acontece até hoje. Não existia a proteção das crianças e adolescentes – eram tratados como adultos, e cumpriam pena nos mesmos estabelecimentos prisionais. O passado tem que ser conhecido, para não ser repetido. Uma Nação precisa de harmonia, que só será conseguida com a extirpação da miséria e da desigualdade social, mas isso só vai acontercer se tivermos uma educação básica pública para todos.
Conhecer o passado, coloca luz no presente.
* Pedagogo, líder comunitário e ex- conselheiro da Educação