Por Adriana Cristofoli
A coceira é uma das queixas mais comuns entre os tutores de cães e gatos, principalmente nos períodos mais quentes do ano. O calor e a umidade favorecem a proliferação de parasitas como pulgas e carrapatos, além de microrganismos como fungos e bactérias, que podem causar irritações na pele dos pets.
Segundo a médica-veterinária da VetFamily Brasil, Beatriz Alves de Almeida, o calor também pode agravar problemas como a dermatite atópica, que afeta animais com predisposição genética, e a dermatite de contato, desencadeada por substâncias irritantes presentes no ambiente.

O médico-veterinário José Roberto Franchetto Filho, especialista em dermatologia, alerta para os cuidados durante os passeios em dias muito quentes. “Em Ribeirão Preto, a incidência de raios UV é altíssima. O ideal é evitar exposição prolongada ao sol, principalmente nos horários de pico”, recomenda. Segundo ele, casos de carcinoma e dermatite actínica (dermatite solar) são bastante frequentes na região, sobretudo em animais albinos ou de pelagem branca, que têm maior predisposição ao câncer de pele.
Principais causas da coceira
A coceira pode ter diversas origens. A pedido do Tribuna Ribeirão, o veterinário José Roberto Franchetto Filho listou as mais comuns:
Dermatite atópica ambiental

Trata-se de uma condição crônica que causa coceira intensa, vermelhidão e inflamação na pele dos cães. Além da predisposição genética, fatores ambientais como pólen, ácaros, poeira e mofo podem agravar os sintomas. Em regiões onde as estações do ano são bem definidas, a primavera pode ser um gatilho para crises alérgicas, devido ao aumento da concentração de pólen no ar.
Cães com essa dermatite costumam apresentar sintomas como coceira intensa, infecções de pele recorrentes, lambedura excessiva das patas e otites frequentes. Como é uma condição hereditária, não há como preveni-la completamente, mas o controle do ambiente e acompanhamento veterinário podem ajudar a minimizar o desconforto.
Dermatite atópica induzida por alimento

Além dos fatores ambientais, a alimentação pode influenciar na intensidade da dermatite atópica. Alguns cães desenvolvem sensibilidade ou alergia a determinados ingredientes, como proteínas animais (bovina, frango) ou vegetais (milho, trigo, soja).
Os sintomas são os mesmos da dermatite atópica ambiental, o que torna essencial a avaliação de um veterinário especializado para um diagnóstico preciso. “Hoje sabemos que um cão pode ter apenas a dermatite atópica ambiental ou uma combinação entre ambiental e alimentar. Casos exclusivos de dermatite alimentar são raros”, explica José Roberto.
DAPP (Dermatite Alérgica à Picada de Pulga)
Essa reação alérgica ocorre quando o sistema imunológico do animal responde exageradamente à saliva da pulga. Mesmo uma infestação pequena pode causar coceira intensa, principalmente na base da cauda, nas costas e nas coxas.
Se não tratada, a coceira constante pode levar a feridas, queda de pelo e infecções de pele. O controle eficaz de pulgas no pet e no ambiente é essencial para evitar esse problema. “Há 10 anos, a DAPP era a principal causa de prurido em cães, mas hoje, com medicamentos mais eficazes contra ectoparasitas, vemos um aumento expressivo nos casos de dermatite atópica”, diz o veterinário.
Escabiose (Sarna Canina)
A escabiose é causada por ácaros que se alojam na pele do cão, provocando coceira intensa, vermelhidão e, em alguns casos, feridas e queda de pelo. É altamente contagiosa entre os animais e pode ser transmitida aos humanos.
O tratamento varia conforme a gravidade, podendo incluir medicamentos específicos e banhos terapêuticos. Já a sarna demodécica, outro tipo de infestação por ácaros, não é contagiosa, mas exige acompanhamento veterinário para controle adequado.
Outras causas
Problemas hormonais, doenças autoimunes e até a exposição excessiva ao sol podem estar por trás da coceira nos cães. Condições como hipotireoidismo, lúpus e câncer de pele também podem desencadear prurido e irritação na pele.
Mitos e verdades sobre dermatologia veterinária
Água no ouvido causa otite?
Mito! Segundo o veterinário José Roberto Franchetto Filho, a otite não é causada diretamente pela água, mas sim por doenças subjacentes, como a dermatite atópica. “A otite é um sintoma, não uma doença isolada. Se a dermatite não estiver bem controlada, as otites podem se tornar recorrentes”, alerta.
Lambedura das patas é sinal de estresse?
Nem sempre. Na maioria dos casos, a lambedura constante está relacionada à coceira e inflamação, sendo a dermatite atópica uma das principais responsáveis. Quando tratada corretamente, a tendência é que o hábito diminua.
Tosa ajuda a refrescar o animal?
Depende. Se o pet vive em um apartamento ou ambiente fechado, a tosa pode ajudar a aliviar o calor. Mas, para cães que ficam expostos ao sol, a pelagem funciona como uma proteção contra queimaduras. “Pense no pelo como uma roupa: em um ambiente fechado, menos pelo pode ser confortável, mas no sol direto, ele serve como um bloqueador natural”, explica o veterinário.
Importante
Manter a pele do seu pet saudável é essencial para garantir qualidade de vida e bem-estar. Se o seu cão ou gato está se coçando além do normal, procure um veterinário para um diagnóstico correto e um tratamento adequado.