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Confabulações de esperar o trem

José Torres Carvalhaes, o Zequinha, foi um dos mais matreiros do nosso tempo, um verdadeiro matuto mineiro, fomos muito amigos, depois a vida quase sempre, leva cada um para o seu lado e para os seus desígnios.

Anos depois, já na maturidade nos encontramos, passan­do a tarde inteira trocando “dedinhos de prosa”.

Entre cervejas, linguicinhas, pães de queijo e conversas de “esperar o trem” Zequinha contou-me dois bons “causos”.

Um desconhecido Prefeito de uma cidadezinha, nos ca­fundós, bem perto de onde o “Judas perdeu as botas” resolveu presentear seu povo com uma praça e plantas ornamentais.

O Prefeito que nunca havia deixado seu torrão natal, rea­lizou uma jornada a uma determinada cidade, famosa pelos seus jardins e suas touceiras cortadas em formas de animais: camelos, girafas, avestruzes, elefantes, cabras, coelhos e toda a fauna.

O Alcaide tupiniquim, terminada a pendenga no Fórum, foi visitar a localidade e, principalmente, os jardins com suas formas e todo o bioma local.

O Burgomestre deslumbrado cada vez mais maravilhado, os olhinhos brilhando, esfregando as mãos, já pensando nas obras dos seus jardins, elogiava tudo e todos.

Chegando a hora do retorno entre apertos de mãos, fotos e sorrisos, comentou eufórico com o colega do executivo municipal:

– Sabe, estou construindo uma nova praça e preciso que me ajude.

Será que Vossa Excelência pode me fornecer umas “se­mentinhas” da girafa, do camelo, do cavalo e se possível, do elefante, se tiver, leões, tigres e ursos levo na hora com gratidão.

Aproveito para uma singela homenagem ao querido Ze­quinha e um caso onde ele foi personagem relatado e trans­crito aos anais da boca mineira, pelo José Antonio de Cam­pos, chofer de praça, que à época dos acontecimentos, guiava carroças e atendia pelo nome de Zé Carreto.

Hora do almoço nas Minas Gerais, onze horas, tudo para­do e vazio, céu azul de brigadeiro, aquela modorra mineira, nas ruas apenas as sombras das árvores, somente ao longe um cão sarnento passa errante.

O Zequinha quietinho, encostado ao balcão do único bar, mistura de armazém e bandejão, pois servia “quentinhas”.

O Zeca fazendo um bico na “marvada” para abrir o apetite.

Surgem dois funcionários do Banco do Brasil, recém-che­gados da cidade grande, que resolvem sorver um trago para o festim da dona Eponina.

Um deles, o mais jovem e inexperiente, que atendia o Ze­quinha na casa financeira, o alcança no cantinho, indagando:
– Bom dia, Dr. José Torres. O senhor gosta muito de trem?
E o Zeca olhando de soslaio, com os olhos no chão, res­ponde:
– Vixe! Demais “seo” moço.
E o rapaz arrisca:
– Então, quando estás na estação, gostas quando o trem entra ou quando ele sai?
E o Zeca com muitos anos de “matreirices e montanhas”, tira o palito do canto da boca e responde:
Eu gosto mesmo quando o trem enguiça.
E o novato bancário perdeu a voz e o apetite naquele dia.

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