Jung, admitindo o conceito freudiano de “libido” como uma espécie de “energia” interna vital ao ser, surge com a proposta de esta poder tomar duas direções inatas, correspondentes às dicotomias subjetivo–objetivo e interno-externo, que resultariam, respectivamente, na introversão e extroversão do ser. Associado a isso, apresenta, por adição, novos conceitos para descrever o indivíduo, a quem chama de “eu”, a saber, “mundo externo”/“mundo interior”, “consciência pessoal” (experiência de vida)/“inconsciência coletiva” (experiência ancestral), “arquétipos” (símbolos ou imagens existentes no inconsciente coletivo, que representam as estruturas de todas as coisas que existem), “persona”(parte superficial, desenvolvida como resposta às exigências ambientais), “animus”(alma masculina existente no íntimo de toda mulher), “anima” (alma feminina existente no íntimo de todo homem), “ego”(parte consciente da personalidade, ou seja, nosso ‘eu’-’nós’), e “sombra”(qualidades e tendências que, recusadas pelo indivíduo como suas, passam a compor o inconsciente individual).
A valorização do misticismo e da religiosidade e o reconhecimento de forças inconscientes que se projetam no mundo exterior e geram ideias ricas e significativas no pensamento produtivo fizeram da teoria junguiana terreno propício ao desenvolvimento da diversidade das obras de arte, considerado pelos artistas um horizonte mais profundo e revelador que a técnica e o conhecimento do mundo externo proporcionados pelo freudismo. Em Capitães da Areia, de Jorge Amado (1944), obra que narra a história de um grupo de meninos abandonados, e entregues à própria sorte, na cidade de Salvador, cada um dos integrantes do grupo detém uma identidade altamente simbólica, diretamente proporcional à noção junguiana de arquétipo, a saber, as dicotomias inocência/perversidade, heroísmo da “criança-herói”/divindade da “criança-deus”, proteção/abandono, fragilidade/invencibilidade, passado/futuro, entre outros, adicionáveis às suas considerações sobre as quatro funções intelectuais, distinguidas como pensamento, sentimento, percepção e intuição, caracterizáveis de acordo com seu aparecimento em introvertidos e extrovertidos.
Por sua vez, voltados para os estudos perceptuais, os gestaltistas, admitindo o comportamento como resultante da interação organismo-ambiente, optam por trabalhar com campos de força atuantes em várias direções, capazes de organizar-se e reorganizar-se continuamente, alternando estados de repouso (organizados) e estados de busca (reorganizados) para o alcance de um objetivo, o qual, cessado, redireciona o sujeito a voltar-se para novas focalizações. A vantagem desse tipo de análise? A partir de sucessivos estados de equilíbrio e desequilíbrio, o analista conseguir estudar o organismo exatamente em um determinado momento, só se preocupando com a história desse organismo caso ela seja identificada como força atuante no momento considerado.
O que diferencia os gestaltistas de Freud e Jung? A oposição do modelo da mecânica, baseado em “energia”, destes dois últimos, para com o modelo da eletricidade, baseado em “campos de força”, dos primeiros, bem como, os gestaltistas, ao contrário dos psicanalistas, acentuarem mais as características dos objetos que as dos indivíduos, estudando casos em que o comportamento é dirigido pelo ambiente e não pelos impulsos do organismo, sem, entretanto, isolar comportamento e experiência, o que inviabilizaria tal estudo. Ou seja, segundo especialistas, enquanto Freud e Jung “supõem o homem como um ser impulsionado por forças inconscientes, de caráter afetivo”, para os gestaltistas “o comportamento parece determinado, fundamentalmente, pelo contacto ‘inteligente’ com o ambiente”, o que leva a, ainda segundo especialistas, “os psicanalistas procurarem descobrir ou revelar os aspectos irracionais subjacentes ao comportamento aparentemente racional, enquanto os gestaltistas procuram descobrir, mesmo no comportamento emocional, características de racionalidade ou percepção adequada”.