Por Luiz Carlos Merten
Numa bela cena de Como Treinar o Seu Dragão 3, Soluço e Astrid, voando no dragão dela, partem em busca de Banguela, que sumiu atrás da fêmea Fúria da Luz, por quem se apaixonou. Atravessam uma cachoeira no fim do mundo, e penetram no mundo escondido. É uma viagem através de cores, luzes, cristais. Em São Paulo, onde veio mostrar cenas de seu filme no painel da DreamWorks na CCXP, o diretor Dean DeBlois revelou que fez muitas pesquisas com bio-iluminação, e também que se inspirou no fundo do mar e em seus corais para conceber o ‘hidden world’.
Se o objetivo era provocar o deslumbramento dos olhos, deu certo E DeBlois acrescentou o que já virou um mantra, e vale para o fundo do mar de Aquaman, de James Wan, ou para o mundo da wide web de Wifi Ralph – Quebrando a Internet, de Phil Johnston e Rich Moore. Com as ferramentas digitais de que dispõe hoje o cinema, não existe limite para a imaginação.
Está sendo um grande começo de ano para os chamados filmes de férias, as animações. A Universal comemora que Dragão 3 já ultrapassou R$ 13 milhões. O sucesso deve-se muito ao boca a boca. O filme é ótimo. DeBlois, que é fã de carteirinha de Star Wars, não se vexa de dizer que foi muito influenciado pelo universo expandido da criação de George Lucas. E que também expandiu o universo de sua criação com Chris Sanders. Ambos se inspiraram no livro de Cressida Cowell.
“Soluço sempre esteve à frente do seu tempo. Não se encaixava no mundo viking, mas conseguiu convencer seu povo a conviver harmoniosamente com os dragões. O problema é que, como no mundo real, há sempre um vilão. Grimmel não tem a tolerância de Soluço pelo outro. Acha que os humanos são superiores e que sua missão é acabar com os dragões.” Para isso, para atrair Banguela e enfraquecer Soluço, ele se vale da fêmea. “É um filme sobre pares. Soluço e Astrid, Banguela e Fúria da Luz.” Olha o spoiler – a princípio, ela, a fêmea do dragão, parece que vai ser vilã, mas não é bem isso. É um filme sobre amadurecer, sobre separar-se. Soluço e Banguela precisam seguir cada um seu caminho. Na vida também é assim, nada é para sempre e o importante é a construção do afeto.”
Desde o primeiro filme, DeBlois construiu o que não deixa de ser uma fábula sobre a imperfeição. Banguela, desde filhote, não pode voar e Soluço cria um dispositivo mecânico para que ele consiga superar o problema. O próprio Soluço perde um pé, que também substitui. E ambos, ajudando-se mutuamente, se completam. Era assim, até agora, mas as exigências da vida adulta terminam por se impor, e cobrar.
Vale destacar que Wifi Ralph – Quebrando a Internet também coloca à prova a relação do herói com Vanellope. Banguela é da espécie Fúria da Noite, ela é Fúria da Luz. Para criar a fêmea, DeBlois e seus animadores observaram os movimentos de leoas e gatas. Para Banguela, a inspiração veio de cães e gatos, ou da pantera negra. O mais difícil de tudo, disse o diretor, foi criar as nuvens e a água, mas com, tecnologia, não existem mais problemas insolúveis.