A esta altura, não há mais como negar: o coronavírus já é um desastre para a economia mundial. A China, epicentro do vírus, precisou praticamente frear a produção industrial para impedir que os funcionários nas linhas de montagem ficassem expostos, o que teve reflexos no mundo inteiro. O Brasil, obviamente, não é diferente.
A indústria brasileira já sente os reflexos da baixa produção na China. O setor de tecnologia sofre com a falta de peças para montagem dos produtos, que tem forçado a paralisação de algumas fábricas no país, forçando empresas a darem férias coletivas para seus funcionários enquanto o fornecimento não é normalizado.
Empresas bastante conhecidas do público brasileiro estão entre as afetadas. A Samsung precisou paralisar a montagem de produtos na cidade de Campinas (SP) por três dias em fevereiro. O problema atingiu de forma mais grave a LG e a Flextronics, responsável pelos produtos da Motorola no país.
A fábrica da LG, localizada na cidade de Taubaté (SP) iniciou em 2 de março uma paralisação de 10 dias. Enquanto isso, a Flextronics, de Jaguariúna (SP), já havia dado férias coletivas para seus funcionários entre 17 e 28 de fevereiro e anunciou que fará isso novamente entre 9 e 28 de março.
Movimento similar pode ser notado na Zona Franca de Manaus. Várias montadoras já preveem férias coletivas e licenças remuneradas para seus funcionários para lidar com a falta de insumos vindos da China.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o Brasil é profundamente dependente dos componentes chineses. Em 2019, 42% dos itens importados pelos fabricantes nacionais vieram da China, e outros 38,3% vieram de outros países asiáticos, que também se veem diante de forte ameaça do coronavírus. No ano passado também foram registrados US$ 7,5 bilhões em importações da China para o Brasil.
Por causa dessa dependência, a associação notou que 6% das empresas a ela ligadas já operam em regime de paralisação parcial e outras 14% já planejavam interrupções em suas linhas de produção, na maior parte dos casos parcialmente. A pesquisa também indica que 48% não têm qualquer plano de parar a produção, mas isso pode mudar se essa situação de escassez se prolongar por mais tempo.
Pode afetar o consumidor?
A organização percebeu uma mudança com seus números mais recentes. Entre seus associados, 54% das empresas afirmam que podem começar a ter dificuldades em entregar os produtos finalizados aos clientes como decorrência da falta de peças caso essa situação se prolongue por mais 47 dias.
Nas pesquisas anteriores da Abinee, as empresas ainda não haviam dado esse indicativo. A associação defendia que o público brasileiro não iria perceber nenhuma mudança no mercado, mesmo com as fábricas temporariamente paralisadas.
O aumento da preocupação da Abinee acompanha a posição menos otimista de outras organizações. Wilson Périco, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), já apontava que a partir deste mês, as empresas sofrendo com a baixa de componentes podem esgotar seus estoques, forçando um agravamento na paralisação da produção.
O resultado no mercado, se chegar a esse ponto, pode afetar consumidores de várias formas. Os estoques nas lojas podem começar a ficar escassos e os preços cobrados pelos produtos devem começar a subir, seguindo a famosa lei de oferta e demanda. Com poucas unidades nas prateleiras, os valores podem ser inflacionados.
Impacto econômico já é real
É fato que a difusão do coronavírus causará um impacto negativo na economia mundial, e os primeiros sintomas já são sentidos. Em conferência da ONU, foi revelado que, apenas levando em conta janeiro e fevereiro, as perdas globais causadas pelo Covid-19 já chegam à casa dos US$ 50 bilhões.
Esse número leva em conta um período curto. Se a pandemia continuar a assustar pessoas e mercados ao redor do mundo por muito mais tempo, as perdas podem ser radicalmente piores, como resultado da dependência das linhas de produção chinesas.
Como nota o jornalista Jamil Chade, no entanto, o impacto para a indústria brasileira foi “leve” até o momento. A “sorte” do Brasil é a indústria fechada, que não movimenta muitas exportações. As perdas estão na casa dos US$ 100 milhões e atingem principalmente o setor automotivo. Também são impactados de forma mais dura as áreas de metais e máquinas.
Via Olhardigital