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Como é morar na ‘avenida da morte’

Qual é a avenida da morte em Ribeirão Preto? Vocês arrisca­riam um palpite?

Os mais rápidos diriam ser a da Saudade, porque lá está o Cemi­tério mais antigo da cidade. Os dois anteriores não existem mais.

Outros opinariam ser a avenida do Cemitério Bom Pastor, que até já protagonizou muitos acidentes com mortes.

Mas, na realidade, a resposta é outra.

A verdadeira “avenida da morte de Ribeirão Preto” – como tal, não está cadastrada na Prefeitura. Assim, não é encontrada em lugar algum, nem na Lista Telefônica. Mas é outra, tão antiga quanto a da Saudade.

Nela já morreram muitas pessoas, talvez centenas, porque não há estatística a este respeito em nenhuma repartição pública ou pri­vada, como Associação Comercial Industrial ou arquivo de jornal.

Em sua extensão faleceram ciclistas, motociclistas, motoristas, passistas, passageiros e transeuntes vitimados em acidentes de trân­sito ou por uma bala perdida, desgovernada na pista de um atirador.

Um adolescente que trabalhava numa oficina de carburador de automóvel, propôs uma ação contra o patrão. “Abençoado”, na semana depois morreu na tal avenida, onde, de bicicleta, bateu contra um caminhão.

Lembro-me também de um idoso que, em outra oficina mecânica na mesma avenida, soldava um tanque de automóvel que explodiu. Não tinha observado o resíduo da gasolina que provocou o acidente, o pai de família morreu em seguida.

Numa madrugada de domingo um rapaz saiu da boate e caiu com o seu carro no leito do rio que ornamenta a avenida, dividindo as suas duas pistas. Esse filho de empresário morreu na hora. Querem mais?

Talvez o fato mais marcante para denominá-la de “avenida da morte” seja outro. Não é a quantidade de acidentes com mortes, nem a identidade nobre dos seus mortos.

Para o sepultamento, quase sempre recorre-se ao médico da família ou a quem cuidou daquela pessoa nos últimos momentos.

Se for vítima de acidente deve ir para o IML – Instituto Médi­co Legal ou para a Faculdade de Medicina.

Foi aí que um cidadão, que acabava de falecer, estava sendo levado para a Faculdade. O veículo transportador projetou-se (linguagem preferida dos policiais) no leito do rio.

Neste caso, o morto não tinha sido acondicionado para um transporte de risco, houve capotamento e o corpo do infeliz rolou pelas águas do rio. Descia desesperadamente e os popula­res se atiraram para “salvá-lo”. Ou melhor, pra resgatar o morto porque já não tinha mais o que fazer para salvá-lo. Quando os bombeiros chegaram encontraram o corpo estendido na grama, só faltava ser carregado para uma viatura.

Com esse fato (povo correndo atrás do morto), certamente a avenida Francisco Junqueira não será superada por nenhuma das outras, podendo conquistar o título de “avenida da morte”, com toda honraria.

A não ser que algum político resolva dar essa denominação a outra avenida, tão perigosa quanto. Enfrentará rejeição popular: vocês gostariam de morar na avenida da morte? (Já ou no futuro?)

Só a falta de imaginação dos políticos para se admitir substituir Francisco Junqueira por avenida da morte. Fiquem atentos, surpre­sas assim acontecem em todos os lugares, até sem maldade.

Vocês comprariam terreno na “avenida da morte”? Construi­riam? Como seria seu cadastro comercial: “residência: avenida da morte sem número”. Seriam visitados? Recepcionariam os amigos? Como informariam à família terem comprado um lote naquela avenida?

Chega pra lá, assombração!

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