Depois de 45 anos, o Comercial conseguiu igualar um feito em sua centenária história, ocorrido em 1973, durante o Torneio José Ermírio de Moraes, quando encerrou o segundo turno da competição invicto e campeão. Em 2018, na Segunda Divisão Paulista, o alvinegro concluiu sua participação no primeiro como líder geral entre os 40 clubes que lutam por duas míseras vagas de acesso à Série A3 mo ano que vem, com 17 pontos ganhos, 17 gols marcados e apenas dois sofridos, 80% de aproveitamento, além de haver mantido a invencibilidade nas sete rodadas.
Apesar da liderança completa de um dos turnos em 1973, vale lembrar que apenas dez equipes participaram do torneio improvisado pela Federação Paulista de Futebol (FPF) para abrigar os clubes que não conseguiram classificação para o Campeonato Paulista daquele ano. Dentro de uma competição oficial, com direito a acesso a uma série superior, pode-se dizer que a campanha de agora, com todos os critérios de desempate favoráveis a ele, ocorre pela primeira vez na vida do Leão.
“Na fase profissional e dentro de um campeonato regular isso nunca aconteceu”, afirma o jornalista e analista esportivo Luiz Carlos Brisa, que acompanha o dia a dia dos dois times de Ribeirão Preto há mais de 30 anos. “É um feito inédito”, garante. Nem mesmo a campanha de 1966, no Campeonato Paulista da Primeira Divisão, o alvinegro conseguiu tamanha pujança, apesar de haver permanecido invicto por nove rodadas em jogos realizados no intervalo de 16 de outubro a 30 de novembro daquele ano e onde estavam os melhores times do estado.
Foram cinco vitórias e quatro empates obtidos por uma espécie de dream team que tinha como formação básica: Rosan; Ferreira, Jorge, Piter e Nonô; Amaury e Jair Bala; Peixinho, Luiz, Paulo Bim e Carlos César. O técnico era Alfredo Sampaio, o Alfredinho. Até hoje esse time um é um dos orgulhos da velha guarda comercialina.
Apelidado de “Rolo Compressor”, o esquadrão de ouro de 1966 conseguiu resultados impressionantes: acabou com uma invencibilidade de 14 jogos do Palmeiras dentro do Palestra Itália; conseguiu a proeza de marcar cinco gols no Santos de Pelé dentro da Vila Belmiro, em um 7 a 5 que muitos consideram um dos mais espetaculares jogos de todos os tempos, com direito a um fato raro: Pelé não fez nenhum.
Venceu novamente o Palmeiras por 3 a 0, no dia 4 de fevereiro, na inauguração dos refletores do estádio Palma Travassos (primeiro jogo noturno oficial na cidade Ribeirão Preto) e terminou a competição em quarto lugar, atrás apenas de Palmeiras, Corinthians e Santos. A série histórica terminou com uma goleada de 5 a 1 para o Palmeiras, em Palma Travassos, resultado que deu ao Palestra o título daquele ano, com duas rodadas de antecedência.
Hoje na Segunda Divisão, o Comercial busca recuperar o status perdido e retornar à Série A3, um recomeço em sua sempre destacada presença nas divisões da elite do futebol Paulista. A Segunda Divisão é disputada por jogadores com idade máxima de 23 anos, o que exclui os medalhões da competição. “Mas é uma oportunidade para os jovens talentos, uma vitrine para que bons jogadores possam aparecer e jogar em clubes maiores,” analisa Pinho, técnico da equipe atual.
Ganhar o primeiro turno de uma competição longa, traiçoeira e com critérios no mínimo crueis – dos 40 times apenas dois sobem -, pouco ou quase nada significa em resultados absolutos. Mas não deixa de ser uma façanha, ainda mais quando isso acontece após o recente Tsunami financeiro e administrativo vivido pelo clube, nas mãos do gestor Nelson Lacerda, que deixou um rastro de passivos que jamais será esquecido. Não bastasse isso, ainda houve o rebaixamento da A3 para a Segundona, em 2017.
“As análises devem ser feitas respeitando-se a época e a divisão disputada, mesmo porque os critérios são diferentes. Mas em termos relativos, mesmo porque a competição não terminou, com certeza o Comercial nunca conseguiu um resultado tão expressivo quanto o de agora, ainda que na segunda divisão e ainda com muitos jogos pela frente”, diz o também jornalista Carlos Alberto Nonino.
Com uma folha de pagamentos que beira os R$ 80 mil, incluindo jogadores e funcionários do clube e onde os salários dos craques chegam a um salário mínimo e meio, em média, o Comercial já estreou no segundo turno com uma vitória por 3 a 0 sobre o XV de Jaú em Ribeirão Preto, no domingo (27). “Ainda não ganhamos nada, mas foi uma grande conquista ate aqui. O importante será o acesso”, diz o presidente do Bafo, Ademir Chiari.
Neste domingo (3), às 10 horas, os comandados de Pinho terão pela frente a vice-líder Francana, que soma 16 pontos no Grupo 3. O jogo será no Lancha Filho, em Franca e mesmo em caso de uma eventual derrota, que seria a o primeira na competição, o Bafo perderia a condição de líder da chave.