Um elenco nota dez estará no Theatro Pedro II neste mês com o espetáculo “A visita da velha senhora”, uma adaptação do texto do suíço Friedrich Dürrenmatt que apresenta um olhar irônico sobre a fragilidade dos valores morais, da justiça e da esperança. Denise Fraga, Tuca Andrada, Fábio Herford, Romis Ferreira, Maristela Chelala, Renato Caldas, Eduardo Estrela, Beto Matos, Luiz Ramalho, Rafael Faustino, David Taiyu, Fábio Nassar e Fernando Neves estarão no palco do teatro ribeirão-pretano.
Em “A visita da velha senhora”, com 13 atores em cena, Friedrich Dürrenmatt expõe a fragilidade dos valores morais e da noção de justiça quando a palavra é dinheiro. A protagonista da peça é quase a encarnação mítica do poder material, a milionária Claire Zachanassian, vivida por Denise Fraga, que com seu bilhão põe em xeque a cidade de Güllen. A adaptação traz as assinaturas da própria Denise Fraga, Christine Röhrig e Maristela Chelala.
O espetáculo é uma produção original do Sesi São Paulo, cumpriu temporada na capital paulista e no Rio de Janeiro. Está em turnê pelo Brasil e estará em cartaz no Theatro Pedro II em 22 e 23 de junho, sexta-feira e sábado, respectivamente. Com patrocínio do Bradesco, parceiro e patrocinador de “Alma boa de Setsuan” e “Galileu Galilei”, é realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, pela NIA Teatro, Ministério da Cultura e governo federal.
As sessões terão início às 21 horas de sexta-feira (22) e sábado (23). O Theatro Pedro II fica na rua Álvares Cabral nº 370, no Quarteirão Paulista, Centro Histórico de Ribeirão Preto. O local tem capacidade para 1.588 pessoas, mas apenas 1,3 mil lugares estão liberados. Mais informações pelo telefone (16) 3977-8111. O espetáculo não é recomendado para menores de 14 anos.
Os ingressos têm preços populares e custam R$ 50 (plateia, frisa e balcão nobre) e R$ 40 (balcão simples e galeria). A meia-entrada só vale para estudantes com carteirinha da instituição de ensino, professores da rede pública (municipal e estadual) com apresentação de holerite ou documentação e aposentados e idosos acima de 60 anos com documento comprobatório (cédula de identidade, RG).
Essas pessoas têm 50% de desconto e vão pagar R$ 25 e R$ 20, respectivamente. Crianças de até dois anos não pagam. Os ingressos estão à venda na bilheteria do teatro e no site especializado Ingresso Rápido (www.ingressorapido.com.br). Não será permitida a entrada após o início do espetáculo. Quem chegar atrasado também não poderá trocar o ingresso e não haverá devolução de dinheiro. A Fundação Pedro II também proíbe o consumo de comidas e bebidas no local.
A direção de “A visita da velha senhora” é do cineasta Luiz Villaça, que depois do sucesso de “Sem pensar”, de Anya Reiss, e “A descida do Monte Morgan”, de Arthur Miller, retorna mais uma vez ao teatro. A montagem tem a sofisticação de contar com cenários e figurinos do mineiro Ronaldo Fraga, que foi o vencedor da 30ª edição do Prêmio Shell de Teatro de São Paulo. A batuta do maestro Dimi Kireeff, na direção musical, o desenho de luz de Nadja Naira, da companhia brasileira de teatro, Lucia Gayotto na preparação vocal, Keila Bueno nas coreografias e preparação Corporal e Simone Batata, no visagismo.
“A visita da velha senhora” teve nominações ao Prêmio Shell nas categorias Melhor Atriz (Denise Fraga) e Melhor Figurino (Ronaldo Fraga) e ao Prêmio Aplauso Brasil nas categorias Melhor Atriz (Denise Fraga), Melhor Direção (Luiz Villaça), Melhor Arquitetura Cênica (Ronaldo Fraga) e Melhor Espetáculo Independente.
O enredo é aparentemente simples. Os cidadãos de Güllen, uma cidade arruinada, esperam ansiosos a chegada da milionária que prometeu salvá-los da falência. No jantar de boas-vindas, Claire Zachanassian impõe a condição: doará um bilhão à cidade se alguém matar Alfred Krank, o homem por quem foi apaixonada na juventude e que a abandonou grávida por um casamento de interesse. Ouve-se um clamor de indignação e todos rejeitam a absurda proposta. Claire, então, decide esperar, hospedando-se com seu séquito no hotel da cidade.
A partir dessa premissa, o suíço Friedrich Dürrenmatt nos premia com uma obra-prima da dramaturgia, construindo uma rede de cenas que se entrelaçam, cheias de humor e ironia, um desfile de personagens humanos e reconhecíveis que pouco a pouco, vão escancarando a nossa fragilidade diante do grande regente de nossas vidas: o dinheiro. Quem mata Krank? Cairá Güllen na tentação de satisfazer o desejo de vingança da milionária? Ou fará justiça? O que é fazer justiça? Até que ponto a linha ética se molda ao poder dinheiro?
Dürrenmatt caracteriza “A visita da velha senhora” como uma comédia trágica e com seu humor cáustico nos pergunta: Até onde nos vendemos para poder comprar? Como o poder e o dinheiro vão descaracterizando os nossos ideais? Por outro lado, quanto nos custa a não submissão? O texto se desenrola abrindo ainda outros ramos de reflexão. Dürrenmatt era completamente obcecado pela questão da justiça e as sutilezas de suas fronteiras.
O que é justo? O que significa justiça em nossos tempos? Até que ponto o valor moral da justiça se adequa ao poder? Reconhecível no Brasil nos dias de hoje? “A visita da velha senhora” expõe questões que sempre estiveram em pauta na história da humanidade, mas que caem como uma luva em nossos tão tristes tempos.
“Acredito no poder de transformação pela arte. Na formação do indivíduo pela arte. O teatro como espelho do mundo, nos fazendo rir para nos reconhecer, dando voz a nossa angústia, dando palavras àquilo que pensamos e não sabemos dizer. O humor e a poesia nos ajudando a elaborar o pensamento para agir, para transformar, para viver criativamente, para por a mão da massa da nossa história”, afirma Denise Fraga.
“Depois de dois anos e meio de ‘A alma boa de Setsuan’, de Bertolt Brecht, e um ano e meio de ‘Galileu Galilei’, do mesmo gênio alemão, sou mais uma vez surpreendida pela potente atualidade de um clássico. Não foi por acaso que cheguei a Dürrenmatt. Foi discípulo, bebeu em Brecht. Lá está o mesmo fino humor, a mesma ironia e teatralidade. Dürrenmatt também se faz valer do entretenimento para arrebatar o público para a reflexão”.