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Começar em casa

O mundo não anda em sua melhor fase. Se outros países enfrentam terremotos, tsunamis e vulcões, o Brasil está a atra­vessar uma noite bem escura. Ninguém se diz animado, nem esperançoso, muito menos feliz.

Conseguiu-se desiludir a quase totalidade da população. Ninguém confia em político, ninguém se disporia a morrer pela Pátria, ninguém aposta no futuro.

O que fazer quando a descrença passa a ocupar a parcela mais nobre da consciência e o desalento faz morada no cora­ção humano?

Há um lema ecológico interessante para impulsionar uma reflexão. Pense globalmente, aja localmente.

O globo terrestre sofre os efeitos da inclemência humana e a insensatez acena com dias sombrios para toda espécie de vida. Mas há um universo aparentemente muito menor, porém de amplitude insuspeita. O espaço da imaginação, do pensa­mento, das ideias e da vontade.
Todas as sensações aferíveis mediante utilização dos cinco sentidos, são insuscetíveis de superar aquilo que “a louca da casa” – assim Santa Teresa D’Ávila chamava a imaginação – pode produzir.

Os seres humanos ainda não dominam inteiramente os po­deres da mente. Afirma-se que se exercita menos de dez por cento do potencial contido no cérebro de cada um de nós.

Por que não usar essa força para um trabalho de regenera­ção do convívio? Quem acredita no poder da mente faz com que ela se torne um instrumento mágico. Há exemplos, no de­correr da História da Humanidade, em que o ideal mostrou-se capaz de vencer a força, desafiou e venceu o poder, produziu resultados inimagináveis, considerados verdadeiro milagre.

Os milagres continuam a acontecer, quando se constata a inacreditável sobrevivência de uma família cujo chefe está de­sempregado. Lar em que há enfermidade incurável ou vicissi­tudes aparentemente invencíveis. Heroísmo e santidade ainda existem. É só ter olhos para ver e, mais do que isso, sensibilida­de para se aperceber do que ocorre em volta, às vezes até muito perto de nós.

Que essa viagem interior, em busca de abertura para con­siderar que aquilo que nos traz desconforto não é tragédia, se comparado com a situação do próximo, nos faça eliminar do horizonte as questiúnculas, as minúsculas causas de irritação que toldam a alegria de viver e nos deixam amargos, irascíveis e péssimas companhias.

Comecemos num espaço bem familiar. A nossa casa. Re­servemos para os que privam conosco, aquela parte de nossa personalidade que acreditamos existir, quando nos conside­ramos pessoas ótimas, desprovidas de defeitos, primícias do gênero humano.

Começar em casa talvez nos torne melhores, a fortalecer a crença de que nossa vocação é a perfectibilidade e que a cada dia seremos melhores do que ontem, mas ainda menos perfei­tos do que deveremos ser amanhã.

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