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Com novas parcerias com Rodrigo Amarante, Norah Jones se apresenta no Brasil

Por Guilherme Sobota

Com uma antiga ligação com a música brasileira, Norah Jones volta agora ao Brasil, com shows em São Paulo, Rio e Curitiba, e um EP recém-lançado com canções em parceria com o cantor e compositor Rodrigo Amarante, uma das caras do Los Hermanos. I Forgot e Falling, as duas composições da dupla, fazem parte de uma série de colaborações que Jones empreendeu nos últimos anos, com artistas como Mavis Staples, Jeff Tweedy (do Wilco) e Thomas Bartlett (pianista também conhecido como Doveman). Sete desses singles estão na coleção Begin Again, já nas plataformas digitais.

Os shows em São Paulo ocorrem nos dias 8 e 9 de dezembro, no Espaço das Américas (ainda há ingressos disponíveis, de R$ 150 a R$ 740). Ela também toca em Curitiba, no Teatro Guaíra (dia 11) e no Rio, no Vivo Rio (dia 13). A turnê também passa por Colômbia, Peru, Chile e Argentina.

“Eu conheci o Amarante num show em Nova York, mas já tinha ouvido e gostado muito do Little Joy”, diz Jones, por telefone, referindo-se à banda menos conhecida do músico. “Quando fui para o Brasil no fim da década de 2000, ele me deu várias recomendações de lugares para ir, foi muito legal. Ficamos sem nos falar por um tempo, mas gostei muito do álbum dele, Cavalo (de 2013).

Recentemente, entramos em contato e ficamos numa casa em Los Angeles por três dias, compondo e gravando essas canções.”

I Forgot é um dueto pop com os toques de jazz que fizeram de Jones uma das cantoras e compositoras mais bem sucedidas do século 21, com pinceladas da MPB indie, marca de Amarante. Num registro mais triste, Falling dá ainda mais importâncias às cordas, e aqui a potência vocal de Jones se mostra de maneira mais clara.

“Foi divertido, nós tivemos uma conexão musical muito fácil”, explica a cantora. “Gostamos de coisas parecidas, e também mostramos referências novas, o meu sentimento é que foi muito bom. Espero que ele tenha a mesma perspectiva”, diz, aos risos.

Um piano e um microfone

Uma das palavras mais usadas para definir a atuação de Norah Jones na música contemporânea é “versátil”. Ela surgiu em 2002 com o disco Come Away With Me (do hit global Don’t Know Why) e uma série de canções em que seus vocais descontraídos se misturavam com as melodias suaves das teclas do seu piano. Um Grammy (o primeiro dos seus nove) e dois anos depois Feels Like Home trouxe maior influência do jazz. Not Too Late (2007) seguiu trajetória parecida, embora houvesse mais pinceladas da música country americana, mas foi com The Fall, de 2009, o que muitos consideram seu melhor disco, que Jones expandiu os próprios horizontes acrescentando à mistura uma produção mais próxima ao rock e com composições todas suas.

A mudança consolidou Norah Jones como uma artista independente e sem medo de arriscar, mais do que a cantora jovem e inocente dos seus primeiros singles. “(The Fall) foi um grande momento para mim, porque comecei a colaborar com gente diferente, passei a escrever mais canções e tomar uma direção mais criativa na música”, explica a cantora e compositora, por telefone.

Dez anos depois – praticamente o mesmo tempo em que ela ficou ausente dos palcos brasileiros – ela acredita que seu pensamento sobre música não mudou, embora ela tenha cada vez mais buscado colaborações e continuado a explorar possibilidades em busca de inspiração.

Prova disso é o seu projeto mais recente, Begin Again, uma coleção de músicas em parceria com músicos como Mavis Staples (“a gente deu tanta risada”) e Jeff Tweedy (“fui até o Loft, o estúdio do Wilco em Chicago”).

“Nos primeiros dez anos da minha carreira, muita coisa caiu no meu colo. Pude fazer coisas com vários de meus ídolos”, conta Jones. “Agora, sou eu quem ajo. Meu objetivo é convidar alguém que admiro e descobrir o que acontece nas músicas.”

Depois de The Fall, Norah lançou aquele que seria o seu disco mais experimental, Little Broken Hearts, com produção de Danger Mouse, oriundo do hip hop. Uma empreitada com o vocalista do Green Day, Billie Joe Armstrong, rendeu um álbum com versões dos Everly Brothers, e uma banda, Puss N Boots, também estiveram no caminho da cantora. Antes de Begin Again, ela ainda lançou Day Breaks, em 2016, que numa retomada da fase mais pop do início da sua trajetória estreou no número 2 da parada da Billboard.

Todos os trabalhos solo da sua carreira foram lançadas pela mítica Blue Note Records, a gravadora de Nova York que lançou muitos dos trabalhos canônicos do jazz nos EUA, de John Coltrane, Miles Davis e Thelonious Monk. “O catálogo dessa gravadora é simplesmente incrível, foi uma história que cresci ouvindo. E eles me deixam à vontade para criar, o que é exatamente o que preciso.”

Desde sua última passagem pelo Brasil, ela se casou e teve filhos e “cresceu muito”, nas suas palavras. “Ainda tenho muita vontade de tocar ao vivo. Estou numa fase boa”, comemora.

Apesar de Norah não falar de seu pai biológico – Ravi Shankar, a estrela pop do sitar nos anos 1960 e 1970, com quem ela teve uma relação distanciada – ela comenta que sua mãe, a produtora de shows Sue Jones, viveu no Brasil por um período no fim dos 60. “Então cresci com muitos discos que ela trouxe do Brasil, e de certa forma isso faz parte de quem eu sou enquanto artista”, diz Norah. “Sempre ouvíamos Caetano Veloso, Elis Regina, Jorge Ben, Tom Jobim. Na faculdade, eu cantava em português para uma banda, com músicas de Tom”, conta. “Mas não, não sei falar o idioma (risos).”

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