Quem nunca colecionou algo que atire a primeira pedra… De autógrafos a papéis de carta, camisas de futebol até carros antigos, passando pelos tradicionais selos, moedas, cédulas, cartões postais, cards e miniaturas, colecionar é uma paixão, independentemente da idade.
“Essa prática existe há muito tempo na humanidade, talvez desde o momento em que as pessoas começaram a entender um pouco mais sobre observar e organizar, complementado, muito provavelmente, pela satisfação de perceberem o interesse das outras pessoas através do compartilhar”, explica a psicóloga Aldirene Freire (veja Box).
Em Ribeirão Preto, há 15 anos é organizado um encontro de colecionadores. De tão tradicional e reconhecido nacionalmente, o evento faz parte do calendário oficial de eventos da cidade desde 2018, por meio da Lei nº 14155, de autoria do vereador André Trindade e sancionada pelo prefeito Duarte Nogueira.
Neste ano, o Encontro Filatélico e Numismático de Ribeirão Preto – nome que não traduz a diversidade do evento, que na prática reúne colecionadores de outras dezenas de itens – acontece de 4 a 6 de abril, no hotel Dan Inn (Rua Luiz da Cunha, 404 – Vila Tibério), com entrada gratuita. Nos dois primeiros dias o horário vai das 8 às 19 horas. No encerramento, no domingo, o fechamento acontece às 14 horas. O evento tem o apoio de mídia do jornal Tribuna Ribeirão.
São esperados durante os três dias mais de 1000 colecionadores, de diversos estados. Gente apaixonada por selos, moedas, cédulas, cartões postais, figurinhas, miniaturas, chaveiros, camisas de futebol e tudo mais o que puder ser colecionado, que aproveita o espaço para comprar, trocar, vender e avaliar itens colecionáveis
O funcionário público Leonardo Henrique é um deles. Colecionador de cédulas e moedas desde 1994, ele frequenta o evento há 13 anos. “Colecionar para mim é como uma terapia, e um modo de adquirir conhecimento sobre diversos campos”, revela.
Natural de Moçambique e “filho adotivo do Rio de Janeiro”, onde mora há quase 50 anos, José Luiz Fevereiro compre e vende selos, envelopes e itens similares. “Antes de chegar ao Brasil apenas colecionava, chegando aqui virei comerciante também”, relembra ele, que participa de pelo menos cinco eventos como este ao longo do ano, em diferentes estados.
Além de selos (restringe sua coleção àqueles vindos de sua terra natal), acumula histórias hilárias, como a do cliente que certa vez foi extremamente ríspido, muito diferente do habitual, ao receber uma oferta de material por telefone. “No dia seguinte ele me ligou todo envergonhado, pedindo desculpas, pois estava ao lado da mulher e não poderia comprar as peças junto dela”, diverte-se Fevereiro.
Outro, conta ele, costumava diminuir ao anotar o valor das compras nos canhotos de cheques (material que também é colecionado, acredite!). “Se gastava 1000, ele anotava 100 para despistar a patroa”.
Advogado e professor universitário, José Roberto Marques é desses capazes de fazerem loucuras por uma peça rara para suas coleções. “Certa vez fui até Santos, para participar de um leilão que tinha um envelope sobre Santos Dumont, uma de minhas coleções”, afirma ele, que coleciona desde 1972. E deu certo? “Sim, trouxe a peça para casa”, comemora o colecionador, para quem o hobby estimula a pesquisa e é um mergulho na história, na arte e na cultura.
A secretária da Cultura e Turismo de Ribeirão Preto, Maria Eugênia Biffi, também destaca a importância cultural do evento. “A diversidade cultural se manifesta de muitas formas, e a filatelia e a numismática são parte fundamental desse mosaico. O Encontro Filatélico e Numismático resgata o valor de objetos que contam histórias, celebram culturas e guardam memórias que ajudam a compor nosso patrimônio cultural”, afirma.
Evolução – O primeiro encontro aconteceu em 2010, durante a Expofinter – Exposição Filatélica do Interior de São Paulo, comemorativa aos 80 anos do Theatro Pedro II. “Foi o início de tudo. O evento ainda era muito modesto, só tivermos colecionadores de selos”, conta o jornalista Marcio Javaroni, organizador do evento.
O engenheiro mecânico e de segurança do trabalho Flávio Moura Fonseca, colecionador de selos, postais, cédulas e moedas há 36 anos, foi um daqueles que participaram do primeiro encontro. “Para mim, colecionar é aprender um pouco mais da história do mundo e uma grande terapia relaxante”, afirma.
A numismática ganhou espaço em 2014, na quinta edição do evento, que passou então a se chamar Encontro Filatélico e Numismático de Ribeirão Preto. De lá para cá, foram ganhando espaço diversas coleções, como postais, miniaturas, cartões telefônicos, antiguidades e figurinhas, entre outros. “É um grande encontro do colecionismo”, orgulha-se Javaroni.
Neste ano, junto ao evento, acontece o Encontro de Colecionadores de Postais de Estádios de Futebol – mais uma vertente do colecionismo que ganhou espaço em Ribeirão Preto (veja matéria nesta edição).
O aposentado Jorge Henrique Luzentti é um apaixonado pelos postais de estádio. Colecionador há 45 anos, ele enxerga na coleção uma maneira de expandir o mundo. “Através dos postais é possível ‘conhecer’ não só o estádio, mas também a cidade, graças às belas fotos aéreas”, garante.
“Olhando minha coleção, vejo o histórico da minha vida, pois quase todas as peças têm a história de como a consegui, quem me enviou… Isso significa amizade também, pois acabamos conhecendo pessoalmente muitos colecionadores, que se tornam amigos”, completa Luzentti, que é associado à Socope | Sociedade dos Colecionadores de Postais de Estádio e, através da coleção, chegou a visitar outros país. “Fui convidado por um amigo, também colecionador, e fui parar na Itália”, conta.
Futebol de botão é a novidade deste ano

A grande novidade do encontro deste ano é a participação do presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM), Jorge Farah. Ele vem para divulgar o esporte, cuja entidade nacional possui atualmente 5000 filiados, distribuídos por 200 clubes diferentes pelo país afora.
“É um esporte que proporciona à criança aprender a lidar com sua parte cognitiva e proporciona aos adultos criar táticas próprias e, principalmente, deixar o intelecto sempre em atividade”, explica Farah.
O dirigente ressalta que o botonismo não diferencia sexo, idade ou condição física. “É um dos únicos esportes nos quais o vovô joga com o netinho em igualdade de condições, atletas cadeirantes jogam com as mesmas possibilidades e mulheres e homens se enfrentam de igual para igual”.
Para quem quiser adquirir times de botão para suas coleções ou mesmo para jogar com os amigos, o paulistano Sérgio Fedato promete trazer muitas novidades.
“Vamos levar muitos jogos”, promete ele, que fabrica times sob encomenda e reproduz no catálogo séries que ficaram famosas nos anos 60 e 70, como os tradicionais “botões de carinha”, que traziam estampados os rostos dos jogadores ao invés do escudo dos clubes.
SERVIÇO
Encontro Filatélico e Numismático de Ribeirão Preto
Datas: 4, 5 e 6/04 (sexta, sábado e domingo)
Horário: 8h às 19h (sexta e sábado) – 8h às 14h (domingo)
Local: Hotel Dan Inn – Rua Luiz da Cunha, 404 – Vila Tibério
Informações: [email protected] | 16-99208.4448 (whats) | 16-98176.4000
Entrada Grátis
Quer avaliar uma moeda, selo ou outro item? O Encontro é o lugar!

A cena é comum: de repente você encontra uma moeda perdida numa gaveta, presente do avô. A dúvida é inevitável para que não conhece: será que ela vale algo? A resposta para a pergunta pode estar no Encontro Filatélico e Numismático de Ribeirão Preto.
“É muito comum as pessoas encontrarem algum item antigo e terem essa curiosidade. Até mesmo moedas em circulação, como algumas de R$ 1, podem ter um valor acima do facial”, explica Marcio Javaroni. “Como teremos colecionadores e comerciantes durante o encontro, eles podem tirar essas e outras dúvidas, além de orientar quem queira se iniciar no mundo do colecionismo”, recomenda.
Filho de comerciante e seguindo os passos do pai no mercado de colecionismo desde os 10 anos, o paulistano Sérgio Lanzoni frequenta cerca de 25 eventos do tipo por ano. “Com o falecimento dele eu assumi a loja, comprando e vendendo selos, cédulas e moedas”, conta.
Ele orienta quem recebeu selos, moedas, cédulas ou itens antigos de algum parente falecido e queira mais informações a procurar o encontro. “Será possível ter uma ideia do que tem em mãos, seja o valor ou mesmo continuar a coleção”.
Para psicóloga, coleções podem ser válvulas de escape

Para a Psicologia, a paixão do colecionador é compreendida através do valor sentimental do objeto colecionado, que normalmente é cuidado como se fosse um tesouro, organizado com todo carinho e em lugar devidamente escolhido. “A coleção funcionaria como uma representação de um mundo simbólico, vivido de forma subjetiva por cada colecionador”, analisa a psicóloga Aldirene Freire.
Segundo ela, a coleção normalmente revela muito sobre o dono. “Ela conta uma história e a forma como é exposta fala sobre a individualidade do colecionador”, diz a profissional, para quem colecionar algo pode funcionar como uma válvula de escape para “um lugar marcado de bem-estar e satisfação”.
Para Aldirene, ao compartilhar sua paixão o colecionador tem a oportunidade de se conectar com pessoas, fazer novas amizades e estreitar laços sociais, o que colabora de modo geral para sua qualidade de vida.
“Uma nova aquisição pode remeter a algum momento ou fato importante vivido pelo colecionador, colocando-o diante de sensações prazerosas vividas naquele momento do passado. É como se fosse um presente vindo diretamente do passado”, afirma.
No entanto, como tudo na vida, a psicóloga alerta que a linha entre o que faz bem e o que se faz necessário, entre o querer e o precisar é muito tênue. “Se a prática do colecionismo começar a trazer: ao invés de conexão, afastamento social; ao invés de organização, desordem; e ao invés de prazer, algum tipo de sofrimento, fique atento. Ser um colecionador é ter consciência e conseguir refletir sobre o momento certo de comprar e desapegar, com controle da situação”.
Ultrapassada essa linha, ressalta Aldirene, o prazer do colecionismo pode virar uma compulsão ou até mesmo um TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), que são doenças com origens emocionais e precisam de um tratamento sério e específico. “Uma vez atento a tudo isso, aproveite seu hobby e todos os benefícios, gerados pela ativação de neurotransmissores da conexão, da motivação, do prazer e da felicidade”, completa.