Gustavo Porto
Agência Estado
O preço da carne bovina chegou a um nível que até mesmo os chineses não estão dispostos a pagar, o que deve provocar um recuo no valor, inclusive no Brasil, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Os preços médios da carne bovina importada pela China saíram de US$ 4.600 por tonelada para US$ 5.200 por tonelada, com picos próximos aos US$ 6 mil por tonelada.
“São valores recordes que nem os chineses estão dispostos a pagar. Por isso, haverá o ajuste”, diz o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi. Mas o presidente da entidade, João Martins, alerta que os preços não voltarão aos patamares passados. “Ninguém espera que voltem os preços de 60 dias atrás”, afirma. A própria ministra da Agricultura, Tereza Cristina, já avisou o preço da carne não volta ao patamar anterior.
Ela informa que o mercado está sinalizando uma redução no preço da arroba do boi gordo e que o preço da carne “deve se normalizar em breve para o consumidor”, mas sem chegar ao patamar anterior à crise da peste suína na Ásia, que levou os chineses a importarem a proteína do Brasil.
No período citado por Martins, a arroba do boi em São Paulo subiu cerca de 45%, de uma média de R$ 160 para R$ 230, e boa parte desse reajuste chegou ao varejo – em Ribeirão Preto subiu cerca de 40% nos açougues em um mês. A disparada ocorreu depois do aumento das importações chinesas, da redução na oferta brasileira e do crescimento do consumo no mercado interno.
De acordo com o presidente da CNA, o ajuste será feito pelo consumidor e pelo mercado. Ele lembrou que o avanço favorece os pecuaristas, já que os preços estavam “achatados e o custo de produção em alta”. Além do aumento nas importações chinesas, a redução na oferta brasileira e o crescimento do consumo no mercado interno motivaram a disparada no preço da carne bovina.
Lucchi afirma que não há possibilidade de falta de carne no mercado interno, pois o volume exportado do produto em novembro, pico das vendas, correspondeu de 22% a 23% da oferta total. “Se tomarmos esse volume como base, vamos exportar 28% da produção em 2020. Mas a capacidade de reação do pecuarista é grande e vamos ter aumento na oferta”, explica.
Em menos de três meses, o contrafilé registrou índices de aumento acima de 50% e o coxão mole, de 46%, no preço de custo que acaba sendo repassado ao consumidor, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). O Ministério da Agricultura afirmou que está acompanhando de perto a situação e acredita que o mercado “vai encontrar o equilíbrio”.
Risco de desabastecimento
A elevação no ritmo de exportação de carne bovina para a China provocou uma alta nos preços internos da proteína, mas não gera risco de desabastecimento, diz o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres. “Não há nenhuma possibilidade de faltar carne para o consumidor”, afirma. Passada a euforia maior no mercado físico, a tendência é de que o ritmo dos negócios mantenha os preços da arroba do boi próximos dos atuais níveis até o fim deste ano, estima o especialista.
O efeito do preço da carne vermelha no valor do frango e do peixe está sendo analisado de perto pelo governo. A avaliação é de que a inflação de outras carnes seria um movimento natural de livre mercado, ou seja, com o aumento da procura por frango e também por peixe, é de se esperar que haja reajuste nos preços desses itens, principalmente nesta época de fim de ano.