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Cineasta filma em Ribeirão Preto 

Alternando-se entre França e Brasil, Soraya Helena, com carreira internacional, vai dirigir o primeiro filme em sua cidade natal (Arquivo Pessoal)

Por Adalberto Luque 

 

Nascida em Ribeirão Preto há 38 anos, Soraya Helena Abrão Batista Pinheiro já demonstrava, em seus primeiros passos, afinidade com a chamada Sétima Arte. Segundo seus pais, desde pequena gostava de criar histórias. E quando assistia um filme, gostava de ver todos os créditos, até o final – mesmo sem saber ler. 

“Na época do vestibular me lembro que prestei biologia, arquitetura e cinema. Ao passar em Imagem e Som na UFSCar [Universidade Federal de São Carlos], segui esse caminho sem dúvidas. E sigo nele, sendo feliz, até hoje. Acredito que sempre gostei de conhecer novos mundos e por eles viajar”, lembra. 

Conhecida no meio artístico por Soraya Helena, ela comemora a oportunidade de poder filmar pela primeira vez em sua cidade natal. Boa parte de sua carreira foi construída na França, para onde se mudou no começo deste século. 

Com diversas histórias escritas, em diferentes etapas de desenvolvimento – alguns são roteiro e outros apenas sinopse, vem trabalhando sempre em diversas frentes, enquanto não está num set de filmagem. Ao saber do Edital de Produção de Curta-Metragem da Lei Paulo Gustavo Estadual, Soraya pensou em um roteiro de curta que já havia desenvolvido há alguns anos, uma comédia leve, porém reflexiva. 

“Esse roteiro foi finalista no Rota – concurso de roteiros, nas categorias Melhor Roteiro e Melhor Diálogo. Retomei a obra, trabalhei novamente nela e achei que estava em um bom estágio para enviar para um edital tão concorrido. Vi uma boa oportunidade para, quem sabe, transformar meu roteiro em imagem e som! Adorei a ideia de poder realizar uma obra aqui. Saíram os resultados e o roteiro havia sido selecionado!” 

O projeto foi igualmente contemplado pela Lei Paulo Gustavo em âmbito, para a realização de uma segunda obra. Desta forma, vai realizar duas obras que se comunicam. “Foram os primeiros editais aqui no Brasil para os quais enviei projetos. Fiquei muito feliz.” 

Os curtas 

Pela Lei estadual, a cineasta vai produzir um curta-metragem de ficção, com duração de 15 minutos, estabelecido pelo edital. Através do diálogo de duas mulheres, da história, da comédia e do absurdo, Soraya propõe uma reflexão sobre o hábito nocivo da sociedade de julgar uns aos outros, tudo tratado com leveza, mesmo os temas mais difíceis. 

“Acho uma forma boa para atingir diversos públicos e com risadas, quem sabe, propor reflexões. Minha intenção é que o público passe um bom momento assistindo a obra, pois penso também na responsabilidade que temos enquanto criadores e no que estamos proporcionando ao mundo. É algo que levo em consideração quando escrevo.” 

O processo já vem sendo produzido há cerca de um ano, desde que venceu o edital. São meses de preparação, cinco dias de filmagens e mais sete semanas de finalização.  

Paralelamente, a obra interligada com a ficção, realizada com o edital municipal, será um making of em vídeo 360° das filmagens do curta.  

“A ideia é que o espectador possa estar dentro da obra, observando, de forma mais participativa, ou seja, podendo escolher para onde ele quer olhar na cena. E assim, abordaremos como são os bastidores de uma produção cinematográfica de uma forma mais imersiva e como é filmar em Ribeirão.” 

No projeto de ficção, o filme da Lei estadual, em torno de 70 pessoas, entre atores e profissionais que atuam atrás das câmeras, vão participar das filmagens. No making of a equipe é menor, apenas dois profissionais.  

As filmagens em Ribeirão Preto ocorrem entre 20 e 23 de janeiro. Depois o grupo se reúne com os demais para a filmagem em São Paulo. 

O plano de exibição dos curtas-metragens inclui festivais nacionais e internacionais, canais e plataformas de streaming que exibam curtas, como a Cardume, especializada em curtas-metragens – onde também está disponível o curta “Papillons” (Borboletas), uma premiada obra de Soraya Helena.  

“Penso também exibir as novas obras em cine-debates, exibições pela cidade, cineclubes, praças, tudo que puder, para que alcance um grande número de pessoas”, revela. 

O início 

Formada em Imagem e Som pela UFSCar, Soraya Helena começou em 2010 como diretora de vídeos pedagógicos na SEAD (Secretaria de Educação à Distância) da UFSCar. Depois de algum tempo, decidiu retomar os estudos em Paris. onde fez mestrado de pesquisa em Cinema e Audiovisual na Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne, na capital francesa, e especialização em Roteiro e Direção pela Université de Corse, na Córsega, França. 

“Segui escrevendo meus roteiros e realizando meus curtas experimentais, assim como realizadora de institucionais para uma associação francesa que auxilia alunos com dificuldade de aprendizado, dentro outras atividades. Em 2016, mesma época em que um roteiro meu foi selecionado para ser produzido na Córsega, junto à especialização em Roteiro e Direção, conheci uma continuísta, Florence Weyne Robert, que buscava uma assistente bilingue para uma série de coprodução França-Brasil.” 

Soraya ingressou na equipe de Florence e se apaixonou pela continuidade. “Desde então, participo de diversas produções tanto na França, quanto no Brasil. Sigo na carreira de continuísta, roteirista, diretora e assistente de produção.” 

Projeto premiado 

A cineasta já havia vencido outro edital anos atrás. O projeto na França foi selecionado pela produtora GREC (Groupe de Recherches et Essais Cinématographiques), criada em Paris nos anos 1950 pelo cineasta Jean Rouch, que tem como objetivo apoiar diretores em ascensão. Selecionam seis projetos por ano em parceria com a Université de Corse para a realização de curta metragens na Córsega, financiados pela região (como um edital) junto à especialização em roteiro e direção de um ano. 

Seu projeto, “Papillons”, foi selecionado em 2016. “Durante um ano vivi na ilha. Desenvolvi camadas do roteiro e, junto à uma equipe, realizamos a produção do curta. Trabalhei com atores não profissionais que encontrei graças ao padre da pequenina cidade onde eu vivia. O filme conta a história de David, um garoto que busca na natureza formas para prolongar a vida de sua avó Amélia. Os atores eram bisneto e bisavó na vida real. Foi muito emocionante vê-los viver essa experiência pela primeira vez comigo, que também estava vivendo a experiência de dirigir um filme na França pela primeira vez.” 

Finalizado em 2018, foi exibido em festivais de diversos países, na Ásia, Europa e América, ganhando vários prêmios, como de melhor ficção profissional no Festcine, em Bogotá. Além disso, foi comprado pelo canal Shorts TV para exibição na Europa, Oriente Médio e América do Norte e também pelo Bebop Channel (parceria com Roku, AppleTV, AmazonFire e Google Play). 

Continuísta 

Em sua carreira como continuísta atuou, no Brasil, em diversas produções. Uma delas está atualmente em cartaz, o longa-metragem “Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa”, de Fernando Fraiha. Também participou de séries de Miguel Falabella para a Disney +, Amazon, HBO, passando por diversos gêneros.  

“Trabalhei com equipes, diretoras e diretores incríveis como Anna Muylaert, Cininha de Paula, Juliana Vonlanten, Carol Fioratti, Dainara Tofolli, Bruno Barreto. Em algumas destas produções, participei também como figurante ou algum personagem pontual.” 

Trabalhar com cinema 

Soraya se sente realizada com a carreira. Para ela, é a possibilidade de inventar mundos, de participar em cada projeto de uma nova realidade – seja com uma nova equipe, mas principalmente pela história que está sendo contada. 

“Já pude viver diferentes realidades, mesmo sendo uma realidade criada (ou reproduzida) pelo cinema. É poder brincar, refletir, inventar personagens, animais, cenários, paisagens que não existem. É poder imaginar e dar corpo para a imaginação. É poder vivenciar novas realidades e, com elas, aprender muito. Sou apaixonada por aprender e o cinema, graças à Deus, me propicia sempre lindas histórias e aprendizados. Fazer cinema traz o frescor de uma nova manhã (ou nova noite)”, conclui a cineasta ribeirão-pretana. 

 

 

 

 

 

 

 

 

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