Adriana Dorazi – especial para o Tribuna Ribeirão
Área nobre com mais de 17 mil metros quadrados de verde na Zona Leste de Ribeirão Preto. Esse é o espaço conhecido como Morro do Cipó, um mirante com vista privilegiada da cidade. Há várias décadas abrigou um parque que também deixou o local conhecido como “Cidade da Criança”.
Mas, há mais de trinta anos é o retrato do abandono e da falta de planejamento de várias gestões para investir no verde, lazer e entretenimento saudável. Difícil encontrar registros históricos sobre o fechamento do parque ou a razão. O fato que o tempo não apaga é que décadas de descuido provocam atualmente, aos moradores vizinhos, medo.
Entre os motivos das frequentes reclamações estão mato alto, presença de moradores de rua e usuários de drogas, descarte de lixo e até desmanche de produtos de roubo. Depois que a reportagem do Tribuna Ribeirão questionou sobre a sujeira, na última quarta, dia 8, o local foi limpo, mas voltará a ser ponto de descarte sem um trabalho a longo prazo.
Prefeitura diz que faz limpezas
A prefeitura, por meio de nota, disse que “realiza ações recorrentes de limpeza e manutenção nesta área por ser um ponto de descarte irregular”. “É importante informar que a prefeitura disponibiliza seis ecopontos espalhados pela cidade. O serviço é totalmente gratuito à população e funciona todos os dias da semana, de segunda a segunda, das 7h às 19h. Outra maneira de combater essa ação é denunciando os infratores pelo telefone 156 – SAM (Serviço de Atendimento ao Munícipe) – ou pelo 199, na Guarda Municipal”, complementa a nota.
Sobre a questão de segurança, a prefeitura informou que “a Guarda Civil Metropolitana realiza o patrulhamento preventivo em todas as regiões da cidade. Ressalta que conta com o apoio da população para denunciar pelo telefone 153”.
História antiga
O vereador Bertinho Scandiuzzi (PSDB) mora perto do morro e é engajado na causa desde que a Cidade da Criança fechou por volta de 1985. “O que sabemos é que os antigos proprietários faleceram e não houve continuidade. No governo de Welson Gasparini parte da área foi vendida para a prefeitura, mas não houve investimento em reabrir o local quando a gestão mudou”, lembra.
O parlamentar não esquece quando passeava com os filhos ainda pequenos no teleférico que funcionava no parque. Destaca que cantores famosos como Milionário e José Rico se apresentaram lá e que havia grandes celebrações religiosas já que há duas paróquias no entorno.
Esta semana Bertinho se reuniu com o outro proprietário de parte da área. “Ele tem interesse em fazer permuta com terreno municipal, formalizou ofício com a intenção desde 2021. De acordo com a prefeitura é necessário definir o valor para viabilizar a troca”, relata. Mas parece que falta dinheiro e pouco interesse por parte do Executivo considerando que, segundo o vereador, há projeto de revitalização na Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano pronto e empoeirado.
“Estive com o secretário Daniel Gobbi para cobrar agilidade em uma solução definitiva para esse caso, é uma demanda antiga dos moradores. Sabemos que a prefeitura não tem recursos próprios para investir, mas o caminho talvez seja buscar investidores privados com interesse de explorar o potencial turístico e de lazer do morro”, relata.
População à espera
Serão beneficiados diretamente, com a reimplantação do parque na área, pelo menos nove bairros lindeiros: Palmares, Novo Mundo, Zara, Lagoinha, Anhanguera, Bandeirantes, Itaporã, Grajaúna e Vila Comercial. Total estimado de mais de 70 mil moradores sem opção de lazer nos arredores.
Bertinho confirmou que também pediu apoio à Secretaria de Meio Ambiente para dar celeridade ao processo que, até hoje, caminha a passos lentos. O projeto pronto depende primeiro da aquisição da área particular que não pode ser destinada a empreendimentos imobiliários.
José Orlando, morador e representante de bairro ao lado do Morro do Cipó é um dos que aguarda ansiosos uma solução. Ele ajudou a mostrar ao fotógrafo Alfredo Risk a beleza de lá e o que restou da história. Hoje aguarda vontade da administração municipal para que a Cidade da Criança, e até praças próximas que fazem parte do complexo, possam voltar a encantar, divertir e até ensinar novas gerações sobre preservação.
Também por meio de nota a prefeitura comentou a destinação do local. “A prefeitura informa que para a implantação de parque público no local, há a necessidade de elaboração de projeto executivo e disponibilidade orçamentária. Esclarecemos ainda que parte do local trata-se de área particular”.
Mas não confirmou se há algum projeto na administração, disponibilidade orçamentária ou mesmo tratativas de aquisição da área que não pertence ao município.