Os brasileiros que têm a oportunidade de viajar para outros países, considerados mais avançados, ao ver as pessoas andando tranquilamente pelas ruas mexendo em seus celulares sem a preocupação que de repente alguém passe correndo e leve o seu telefone, como acontece cotidianamente no Brasil, fica pensando: como eles conseguiram isso? Isso não começou agora, num passado recente as pessoas compravam jornais e revistas nas bancas pagavam e faziam o próprio troco e ninguém era lesado – é a cidadania sendo praticada. Para entender o comportamento destas populações é preciso saber que houve um período de reconstrução destes países no pós-segunda Guerra mundial, e nesta reconstrução o respeito e a empatia de um ser humano pelo outro consolidou a cidadania, que pressupõe o respeito às leis vigentes e a seu próximo.
No Brasil, a concepção de cidadania foi introjetada propositadamente de maneira nebulosa, para que seu verdadeiro valor não chegasse ao âmago da população, prova disso é que somos uns dos únicos países do mundo onde as leis são divididas criminosamente em leis que pegam e leis que não pegam, e essa discrepância seleciona quais as populações sentirão na pele os rigores da lei, que normalmente são os pretos e pobres. E esse entendimento errôneo é alimentado por gente sem escrúpulos que comandam nosso País.
Cidadania não é algo que possa ser transferida através de um belo texto, ela só acontece na prática cotidiana, na troca de experiências humanas e culturais. Respeito, solidariedade, honestidade, autonomia, compartilhamento, responsabilidade e empatia são princípios que alicerçam a cidadania de uma Nação, no entanto a população brasileira vive em um ambiente de confronto criado propositadamente para que venda dos seus olhos não sejam removidas, e permaneça aprisionada eternamente à velha alegoria da caverna.
Para elevar o País para um patamar superior, só será possível através da educação básica pública, que é o único caminho para a nossa redenção, no entanto, a educação básica pública sofre da velha dicotomia: “que educação vem de casa, e a função da escola é transmitir conhecimento”. O tempo que é o maior remédio para os males humanos, mostrou a ineficiência desta premissa, pois ambos estão falhando: a família não educa, e a escola não transmite o conhecimento. Enquanto não se entender que educação é a apropriação da cultura, e que não é apenas a disseminação de conteúdos, que muitas vezes não faz nenhum sentido para a realidade dos educandos, não veremos a luz no final do túnel.
Uma educação cidadã precisa de um ambiente escolar, onde a ética seja praticada na sua plenitude, pois o respeito só se consegue com mais respeito. A participação das famílias, das comunidades locais e dos educandos na vida escolar, em todas as suas instancias, propicia uma educação que se apropria da cultura e constrói a cidadania. Educação não se faz para a cidadania, e sim na cidadania. O tempo do confinamento e da “sela” de aula, não cabe mais no século 21, não se faz educação de qualidade por imposição, gestores e professores (a) não podem continuar olhando para os educandos e seus familiares de um patamar superior, pois só há o aprendizado quando acontece a troca dos conhecimentos.
O Brasil Viveu muito tempo deitado em berço esplendido, com a ilusão que éramos o País do futuro, mas não existe futuro promissor sem educação básica pública e de qualidade para todos, e como esse item foi negligenciado criminosamente, estamos atravessando um momento de obscuridade que não aconteceria se a educação básica fosse prioridade para os governantes. O tempo de construir é agora, o sonho de um Brasil em que a cidadania seja plena só depende de nós!