Militares da reserva das Forças Armadas do Chile foram convocados para reforçar o trabalho durante protestos que ocorrem em Santiago desde a semana passada. O decreto que autoriza a convocação de reservistas foi publicado na quarta-feira (23) pelo deputado do partido de oposição Frente Amplio Miguel Crispi, em sua conta no Twitter. O ministro do Interior, Andrés Chadwick, confirmou a veracidade do documento.
Para Miguel Crispi, o documento é preocupante e delicado. Ele disse que o país não está em guerra e que o governo deve dar explicações sobre o incremento de militares nas ruas. O decreto, da Subsecretaria de Forças Armadas, permite a possibilidade de prolongar o estado de emergência por até 13 dias e a convocação de reservistas.
O ministro Andrés Chadwick disse que a decisão é das próprias Forças Armadas. “As Forças Armadas podem chamar as suas reservas, não apenas para reforçar, mas também deve-se entender que as jornadas têm sido muito longas, muito duras, e que o pessoal [mobilizado] necessita ter seu devido descanso, e por isso, eu imagino, o chefe [da Defesa Nacional] terá que explicar as suas razões”.
O jornal chileno La Tercera informou que fontes do Exército disseram que a convocação dos reservistas foi pensada para “estar nas unidades militares com trabalho administrativo e de apoio logístico para não atrasar a papelada e para funcionar bem no dia a dia”. A mesma fonte informou que não foi convocada toda a reserva, mas apenas algumas pessoas, de maneira progressiva. O objetivo do decreto seria enviar militares do serviço ativo das Forças Armadas para agir na segurança das ruas, enquanto os reservistas assumiriam o trabalho administrativo.
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, afirmou que “o governo, em conversas com os chefes da Defesa Nacional, está trabalhando em um plano de normalização na vida de nossos compatriotas, que está em marcha e se traduz em ir reduzindo os períodos afetados pelos toques de recolher. Queremos terminar com o toque de recolher e suspender o estado de emergência”.
O presidente anunciou nesta quinta-feira, 24 de outubro, novas medidas para conter os protestos no país, que completaram uma semana, entre elas o relaxamento do toque de recolher em Santiago, o congelamento da tarifa de energia elétrica e um convite à Alta-Comissária para Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachellet, para visitar o país e analisar possíveis violações ocorridas na repressão aos protestos.
Bachelet, que foi presidente do Chile antes de Piñera e pertencia à oposição, aceitou o convite e mandou uma equipe ao país natal nesta tarde. “Estou muito preocupada e triste de ver violência e morte no Chile”, disse a comissária. “Peço ao governo que trabalhe com todos os setores para encontrar soluções e aos manifestantes que protestem pacificamente.”
Ainda de acordo com a ex-presidente, a missão foi enviada ao Chile depois de um monitoramento feito pela ONU e depois do convite feito por Piñera. Ao menos 18 pessoas morreram, entre elas uma criança, desde o começo dos protestos no dia 18. Mais de seis mil pessoas foram presas. Os protestos, no entanto, têm perdido força e se tornado menos violentos. Balanço do governo divulgado hoje indica que na quarta-feira não houve mortes e 735 pessoas foram presas.
No dia anterior, esse número foi de 979. Os tumultos começaram na semana passada quando o governo anunciou um aumento equivalente a R$ 0,17 na tarifa do metrô de Santiago. Nos dias que se seguiram, os protestos evoluíram para queixas contra o sistema previdenciário, a jornada de trabalho e o alto custo de vida.
Para contornar a situação, Piñera cedeu e anunciou a criação de um sistema de renda universal de cerca de R$ 2 mil, o aumento do benefício para idosos e melhores condições para compra de medicamentos. Nesta quinta-feira, o presidente também decidiu congelar o preço da tarifa de energia elétrica e revogou um aumento de 9,2% anunciado recentemente. O projeto foi enviado ontem ao Congresso.
Piñera admitiu que a série de medidas anunciadas não resolverão o grave problema de desigualdade social existente hoje no Chile, mas avaliou que os rumos que pretende tomar após a onda de protestos são adequados. “Sabemos que é um alívio importante que melhorará a qualidade de vida da população, mas isso vai requerer um esforço enorme do Estado, com redistribuição orçamentária e alguns sacrifícios”, acrescentou.