Aí você acorda meio desenxabido, suspirando e pensando “después de todo, quién soy yo?”. Afinal, quem sou eu? Adepto que sou de modernidades e incomodado com essa dúvida fundamental, ligo o notebook e acesso o famoso ChatGPT. Apressado, digito a pergunta que não quer calar: “quem é Luiz Paulo Tupynambá?”. Logo vem a resposta e descubro, afinal, a realidade oculta.
Mas…
Após mostrar a resposta padrão sobre informações pessoais que não podem ser reveladas pela plataforma, o ChatGPT mostra o que sabe de mim, como um eminente profissional: “Pelo que pude encontrar, Luiz Paulo Tupynambá é um professor, palestrante e especialista em segurança pública brasileiro. Ele é formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e é mestre em Direito Penal e Processo Penal na Universidade Federal Fluminense (UFF). Tupynambá é conhecido por suas opiniões fortes e polêmicas sobre questões de segurança pública no Brasil. Ele frequentemente aparece na mídia brasileira, discutindo tópicos relacionados à criminalidade, justiça criminal e políticas de segurança pública”.
Quando o espanto passou, o primeiro pensamento que me ocorreu foi “rapá, eu sou tudo isso e nem fui avisado? Cadê meus holerites e cachês?”. De segurança pública entendo o mesmo que entendo de navegação de cabotagem com caravelas. Necas de nada e um pouco menos. Aliás, de segurança pública quero distância, não quero ser agente, nem paciente, muito menos dar opinião ou lição.
Conto isso para ilustrar como o processo de implantação da Inteligência Artificial como uma ferramenta eficaz para profissionais ainda está no começo. Enfrenta diversos problemas com integração aos bancos de dados existentes, acarretando falhas nas buscas, com resultados não confiáveis e frequentemente errados.
Isso ficou muito claro quando uma pessoa chamada George Santos que, segundo ele próprio, tem nacionalidade brasileira e estadunidense, conseguiu eleger-se membro do Congresso dos Estados Unidos. Mister Santos é dono de um invejável e mentiroso currículo e conseguiu seus votos no distrito eleitoral (equivalente à zona eleitoral) mais rico de Nova Iorque e o terceiro mais rico do país. Ele admite que tudo o que fala é mentira, mas é uma estrelinha em ascensão no paraíso de lixo político do Trumpismo. Afinal, elegeu-se como representante republicano em um distrito que votou no democrata Biden para presidente. E seu voto num Congresso de maioria apertada como é o estadunidense é imprescindível para Trump e sua turma. Então, mentiroso ou não, lá continua.
A não ser que o FBI transforme em pena uma das investigações abertas contra ele. A última envolve a intermediação numa venda ilícita de um iate de cem milhões de dólares onde recebeu dinheiro para sua campanha como comissão. Muitas empresas dos Estados Unidos de recrutamento e caça talentos têm usado “chatbots” para selecionar pessoas para empresas e também para a política. Mister Santos, que já era uma espécie de deputado estadual, foi sabatinado e investigado por profissionais ligados à política antes e após ser candidato. Passou ileso. Esse é um exemplo de como a construção artificial de um currículo, notícia ou fato passa pelo crivo dos mecanismos de busca e acaba se tornando “verdadeira”. O que não foi o que aconteceu comigo, que foi um erro de informação grosseiro do mecanismo de Inteligência Artificial.
Procurei, de outras maneiras e vias, saber se existia um homônimo ou alguém com as qualificações citadas, com pelo menos o sobrenome parecido. Não encontrei. No caso de George Santos, foi uma implantação de mentiras, retornadas como verdadeiras pelos mecanismos de busca e de Inteligência Artificial.
A pressa para fincar o pé, ou a marca como pioneira e ser hegemônica na Web 3.0 está provocando uma corrida entre as “bigtecs” e outras empresas menores ou mais novas na área, que chegam com a mesma sede de sangue e dinheiro novos que tinham os antigos pioneiros do Oeste Selvagem. Quem chega primeiro ocupa a “terra” vazia e dita as regras. Assim foi no passado e, por experiência histórica, será também no futuro.
Podemos dar um desconto às pessoas que têm trabalhado para desenvolver novas ferramentas de Inteligência Artificial. Com certeza, a quase totalidade delas trabalha com o propósito de melhorar a vida humana. Seja na Educação, para que mais pessoas tenham acesso e oportunidade neste novo mundo, seja na Saúde, onde realmente a Inteligência Artificial tem avançado muito ou até mesmo na Cultura, com o surgimento de novos e interessantes recursos e formas de manifestação artística. Mas, como diria Martinho da Vila, a coisa tem de ir “é devagar, é devagar, devagarinho…”, com cuidado e serenidade, antes de se liberar recursos tecnológicos que podem causar problemas para as pessoas. A distância entre a Mentira e o Engano é medida pela intenção. Mas, a sabedoria popular nos ensina que “de boas intenções o inferno está cheio”. E dizem que o Capeta está ampliando suas instalações. Mas isso deve ser intriga de gente mal intencionada, não é?
No próximo texto veremos como se faz origami de proteínas para melhorar a saúde humana e como já temos algumas doenças chamadas de incuráveis até pouco tempo e que já estão sendo curadas com o auxílio da Inteligência Artificial.