O Brasil sempre foi um País que vivia de aparências. O samba, o carnaval e a hospitalidade eram as marcas de um povo miserável, mas que levava tudo com bom humor. Mesmo com todas as adversidades e a miserabilidade que uma parcela grande da população experimentava, tivemos momentos chamados de anos dourados, que mesmo sendo usufruídos por poucos, criaram um clima de felicidade que atingiu a todos – até ser engolido pela truculência do regime militar.
O regime militar alimentou a figura do demônio do comunismo, seguindo ao pé da letra a cartilha instituída pelo Tio Sam nos anos 1960, e essa dicotomia entre o bem e o mal encontrou um terreno fértil nas elites brasileiras. Depois se proliferou pelas classes médias e subalternas. E tivemos um período de obscuridade que durou mais de vinte anos.
Depois da Promulgação da Constituição cidadã esperava-se que os caminhos que iríamos percorrer seria o caminho do desenvolvimento e da igualdade, que finalmente nos tornaríamos uma Nação, e que os tempos de obscuridades não voltariam mais. Acontece que o alicerce tem que ser bem construído, senão o desmoronamento nos pega, e não vai ser surpresa.
A Constituição, que deveria ser a Bíblia do País, começou a ser atacada e ultrajada, quatro anos após sua Promulgação, e ao longo do tempo vem sendo alterada, sempre prejudicando os mais pobres, e aquela Constituição chamada de cidadã vai ficando na lembrança.
E aqueles tempos de trevas e penumbras voltaram com força no século 21. Nos anos 1960, o comunismo era o único vilão, e responsável por todas as agruras que passamos, mas na atualidade além do comunismo elegeram também a figura do demônio, que andava meio em baixa, e o colocaram num patamar superior, e com isso a exorcização ficou mais difícil.
E esse clima de obscuridade criou um ambiente pesado, propicio para que as pessoas colocassem para fora o que há de pior no ser humano, libertando os demônios que estavam aprisionados no âmago de cada um. E a liberação do ódio que estava aprisionado transformou a última eleição presidencial em uma rinha sem regras e sem limites, cujo resultado foi a eleição de um presidente que tem se mostrado inapropriado para o exercício do cargo.
Como disse Zaratustra: “quem persegue monstros o tempo todo, acaba se tornando um deles”. Chamaram tanto as trevas, que os demônios resolveram dar as cartas, e agora só com muita luz, fé e perseverança iremos encontrar de novo o caminho da democracia, pois a democracia emana do povo, que a exerce com soberania, e não por favores de generais.
A marca histórica da segregação social, que nos impingiu a pecha de ser o último país das Américas a abolir a escravidão, produziu uma elite que mantém as suas raízes fincadas na senzala e casa grande até hoje, e por conta disso não permite que as classes subalternas participem de maneira efetiva na construção da Nação. É hora de se fazer a exorcização!