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‘Cézanne e Eu’ expõe a rivalidade entre dois grandes gênios da arte

Por Luiz Carlos Merten

Vida de pintor é dura, especialmente franceses. Havia, no Festival Varilux do ano passado, Gauguin – Viagem ao Taiti, de Edouard Deluc. O amigo de Van Gogh, interpretado por Vincent Cassel, partia para os Mares do Sul. Conhecia uma sociedade matriarcal fascinante, uma musa inspiradora, mas a vida era difícil, o sustento (quase impossível). A glória só vinha postumamente. Este ano, houve, no Varilux, outro filme de pintor Cézanne e Eu, de Danièle Thompson. O ‘eu’, no caso, é o escritor Émile Zola e o filme narra a longa amizade de ambos, que começou ainda garotos.

Cézanne, de uma família abastada. Zola, o menino pobre, o imigrante italiano. Zola crescia para a glória, tornando-se um romancista de sucesso. Ganhava dinheiro, reconhecimento. Cézanne, enquanto isso, dava a impressão de não ir adiante. Integrando um grupo de artistas visuais, é, no início, como eles, recusado nos salões da Academia. Até esses colegas passam a ser aceitos, e Cézanne desespera-se. Numa cena, desabafa. Diz que gostaria de pintar como Zola escreve. O que Cézanne se propõe é uma tarefa difícil quase impossível. Como pintar a fluidez do ar, e as folhas das árvores mexem-se ao sabor do vento, resplandecendo o brilho fugidio de suas cores. Como pintar o calor do sol? A violência das rochas?

Ele tenta, e tenta, e tenta. Rasga tela após tela. A frustração lhe produz amargura. Desconta no antigo amigo. Grita que Zola aburguesou-se, perdeu a força crítica. Afastam-se. Um dia, o escritor volta à cidade em que tudo começou, a amizade entre ambos, na Provence. Cézanne corre ao seu encontro, como quem sonha com um recomeço, mas apenas para ouvi-lo dar-lhe o troco. Como artista, Zola diz que é um fracasso. Nada como a posteridade. Cézanne, que dependia da família, e do amigo, para o seu sustento, tornou-se um dos artistas definidores da arte moderna. No fim do filme, há uma busca por seus quadros. Todos os que restaram estão hoje em museus. Valem ouro.

Filha de um diretor de comédias populares, Gérard Oury, Danièle Thompson tornou-se roteirista em filmes do pai. Escreveu, para Patrice Chéreau, o roteiro do admirável Rainha Margot. Tornou-se diretora de comédias corais, habitadas por um mosaico de personagens – Um Lugar na Plateia, ambientado no meio do teatro, e Mudança de Planos, sobre casais que descobrem o vazio de suas vidas e resolvem compensar, por meio… do adultério. Essa contestação da vida burguesa e a tendência a fazer da própria vida uma representação – o artista consagrado e o rebelde – estão em Cézanne e Eu.

Guillaume Canet e Guillaume Galienne fazem os dois. Deixam no espectador um travo amargo. Vida miserável, a dos gênios. O melhor é o embate de Cézanne consigo mesmo para colocar numa tela o monte Santa Vitória, em Aix, tal como o via. Os créditos finais são projetados sobre essas telas. Todo Cézanne está ali. A montanha, a pedra, a vegetação. Tratados como volumes, como cor. Já se passou mais de um século após sua morte – em 1906 -, mas o pós-impressionista Paul Cézanne realmente venceu o desafio da passagem da arte do século 19 para o 20.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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