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Cérebro, Cognição e Comportamento (8)

John Locke observou que os homens tomam vários e contrários caminhos para alcançar comportamentos mais felizes. Registros cognitivo-filosóficos são igualmen­te preenchidos com vários e contrários modos de promover tal intento. Todavia, os métodos científicos permitem-nos distinguir os competidores dos pretendentes. As primeiras investigações acerca das causas de comportamentos felizes envolveram fato­res demográficos (idade, sexo, raça) e variáveis ligadas ao status de vida (status marital, saúde). O que revelaram? Resultados surpreendentes, indicando que as circunstâncias objetivas de vida tinham um papel mínimo em explicar tais comportamentos. Pesqui­sadores têm estimado que os fatores demográficos explicam entre 8 a 15% da variância deste quesito, ao lado de riqueza, amizade e relações sociais, religião e personalidade.

Aristóteles acreditava que a riqueza era um ingrediente necessário para comporta­mentos felizes. Os Estóicos, em contraste, acreditavam que os bens materiais e riqueza não eram requeridos para tal. Entres uns e outros, os Epicuristas, os quais mantinham que embora devêssemos ter dinheiro suficiente para proteger-nos do perigo e da dor, entendiam que este não ofereceria níveis maiores além de certo limiar. “Nada satis­faz o homem que não esteja satisfeito com um pouco” era a convicção Epicurista. As pesquisas atuais revelam uma correlação significativa entre riqueza e comportamento feliz. Ao mesmo tempo, os Epicuristas parecem ter indicado um importante “insight” sobre o assunto, revelando o efeito decrescente da renda sobre a felicidade

Por sua vez, Arthur Schopenhauer advogava que a solidão era uma condição superior à companhia humana. Ele po­deria consolar-se no fato de que sua idéia raramente atrairia qualquer companhia. Os filósofos, através dos tempos, têm repetidamente apontado, convincente­mente, o valor e a importância da amizade. Aristóteles era convicto de que “ninguém escolheria viver sem amigos, mesmo se ele tivesse todos os outros bens”, e os Epicuris­tas acreditavam que “de todas as coisas que a sabedoria fornecia para ajudar alguém a viver uma vida inteira de felicidade, a maior delas seria possuir amizade”. Estudos empíricos recentes fortemente corroboram estas concepções, indicando que, entre as pessoas consideradas de comportamento muito felizes, mesmo a mais simples delas têm excelentes relações sociais. Quantida­de e, mais importante, a qualidade das amizades correlaciona-se positivamente com felicidade, e a solidão percebida é substancialmente conectada à depressão. Em suma, é o homem que é essencial para comportamentos positivos.

Os sábios Cristãos acreditavam que comportamentos felizes estavam em Deus e que a devoção religiosa era o único caminho de alcançá-la. Os Atenienses, por outro lado, argumentavam que Deus era uma ilusão, e alguns descrentes afirmavam que a felicidade genuína era apenas possível para aqueles que assim concebiam. Um deles, Karl Marx, fa­mosamente acreditava que, a religião era o ópio das massas, e percebia a “supervaloriza­ção da religião como a felicidade ilusória das pessoas” como uma necessidade para a fe­licidade real. Não obstante, pesquisas são frágeis e irrelevantes quando tentam responder a questão se Deus é real ou uma ilusão; pois, inúmeros estudos revelam que religião faz as pessoas mais felizes. Mais especificamente, participação nos serviços religiosos, força da afiliação religiosa, relações com Deus e orações parecem contribuir para comporta­mentos positivos, embora isso não seja universal haja vista que em algumas culturas as pessoas religiosas registram baixos níveis de satisfação com a vida.

Em suma, em que concordam estes pesquisadores? Concordam que diferenças na sensibilidade em responder às pessoas e eventos de vida têm importante efeito nos níveis individuais de comportamentos positivos. Os traços de personalidade de uma pessoa influenciam estes últimos de duas maneiras diferentes. Primeiramente, porque eles predispõem uma pessoa a sentir prazer ou dor e, em segundo lugar, porque eles modelam a vida de uma pessoa de modo a provocar nela prazer ou dor. De fato, as pesquisas recentemente têm mostrado que certos traços de personalidade (por exem­plo, extroversão) tornam as pessoas mais prováveis de vivenciar afetos positivos, en­quanto que outros traços de personalidade (por exemplo, neuroticismo) predispõem os indivíduos a afetos negativos.

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