Levantamentos recentes mostram que a dor crônica afeta, pelo menos, 116 milhões de norte-americanos adultos, mais do que o total afetado por doenças cardíacas, cânceres e diabetes combinados. Especificamente, a dor lombar crônica representa 28% dos casos de dor por todas as causas e que a maior parte desses 28% – ou seja, 23% – traz sofrimento de longo prazo (dor com duração >3-6 meses). Neste contexto, dor também representa alto custo aos cofres do governo dos Estados Unidos: cerca de 635 bilhões de dólares a cada ano em tratamento médico e perda de produtividade, o que torna “prevenir a dor” a segunda maior prioridade proposta para melhorar a saúde de tal nação.
Estudos longitudinais baseados nas técnicas de imageamento cerebral, nas quais propriedades anatômicas e funcionais têm sido investigadas em pessoas que transitam da dor aguda para a dor crônica, têm sido empreendidos sistematicamente por um grupo de pesquisadores liderados por A. Vania Apkarian da Universidade Northwestern, Chicago, Estados Unidos. Por meio da análise da estrutura e do funcionamento cerebrais desses indivíduos que sofrem de dor crônica, tornaria-se plausível a identificação daqueles que estariam em maior risco, predispostos à cronificação da dor. Tal focalização, portanto, configura-se um novo campo científico do estudo da dor: “a ciência da prevenção da dor crônica”.
Num desses estudos foram “escaneados” os cérebros de 46 pessoas que haviam tido dor lombar por aproximadamente três meses antes de irem ao hospital, mas que não tinham apresentado nenhuma dor pelo menos 1 ano antes. A dor registrada? A manifestada durante exames clínicos e anotadas em questionários aplicados quatro vezes ao longo de período de 1 ano. O resultado observado? Aproximadamente metade dos pacientes recuperou-se em algum momento durante o ano; a outra metade teve dor no decorrer desse período e nesses casos o sintoma foi classificado pelos pesquisadores como persistente.
Os que os pesquisadores usaram? A técnica de imageamento cerebral denominada imagem de tensor de difusão (–DTI, na sigla em inglês) para medir a estrutura da substância branca, os filamentos das células nervosas, ou axônios, que conectam estas células em diferentes partes do cérebro. Os que os dados mostraram? Achados consistentes, indicando diferença de substância branca entre indivíduos que se recuperaram e indivíduos que vivenciaram dor ao longo de todo o ano.
Esse padrão de resultados certamente mostra que tal discrepância estrutural pode fornecer um biomarcador de vulnerabilidade de dor crônica. Em outras palavras, os resultados sugerem que a estrutura do cérebro de uma pessoa pode predispô-la à dor crônica. Por adição, os pesquisadores também encontraram que a substância branca das pessoas que tinham dor persistente parecia similar à de um terceiro grupo de pessoas que sofreram de dor crônica. Em contraste, a substância branca das pessoas que se recuperaram pareceu similar à dos indivíduos saudáveis que constituíram o grupo de controle.
Posteriormente, ao testar essa ideia, os pesquisadores questionaram se as diferenças de substância branca observadas durante os imageamentos cerebrais iniciais seriam hábeis em prever se os indivíduos se recuperariam ou continuariam a vivenciar dor. Descobriu-se que os imageamentos cerebrais da substância branca previram pelo menos 80% dos resultados.
Assim considerando, os resultados aqui sumariados suportam a noção de que certas redes cerebrais estão envolvidas na dor crônica e o entendimento dessas redes de conexões poderá ajudar os estudiosos e os clínicos a diagnosticar muito melhor a dor crônica e desenvolver tratamentos mais eficazes, seguros e toleráveis.