Entre os cidadãos ribeirão-pretanos existe uma maioria
significativa de sobrenomes italianos. Atraídas pela riqueza
do Eldorado paulista, no final do século XIX, centenas de
famílias migraram para essa região em busca de trabalho e
com sonhos de riqueza.
O Instituto Casa da Memória Italiana, fundado em 2013
e aberto ao público em 2015, homenageia esses oriundi
que aqui trabalharam no campo, substituindo trabalho escravo,
e, dentro do espaço urbano, contribuíram decisivamente
para a formação e a cultura da cidade. O objetivo
do Instituto é promover e preservar a história da imigração
italiana na região.
A sede é uma Casa, que agora funciona como museu.
Acomodada na região central da cidade, chama a atenção
por sua beleza e elegância, mas principalmente pelo
inacreditável estado de conservação.
Curiosamente, porém, esse espaço hoje público não
foi construído por italianos. Ali, a partir do ano de 1923,
foi erguido o palacete em estilo bangalow americano,
com planta assinada pelo arquiteto de São Paulo Arnaldo
Maia Lello, que, num rasgo de ousadia, contrariou as
tendências da época, em que as casas tinham fachada
na rua e varanda lateral, e ergueu a morada no centro
do terreno, com jardim frontal, bay window e dezenas de
janelões e portas voltadas para o lado externo.
A proprietária, então, era Joaquina Evarista Meirelles,
uma fazendeira viúva da região de Santa Rosa do Viterbo,
que aqui resolveu erigir sua morada citadina.
A casa de tijolinhos aparentes só foi vendida após a
morte da proprietária, em 1941, quando aí sim, mudase
para lá o imigrante Pedro Biagi, um antigo oleiro da
região do Vêneto, enriquecido com a compra de terras
e a construção de usinas de açúcar na região. A partir
de então, a casa passou a abrigar o dono, sua esposa
Eugênia e os 12 filhos do casal.
O fato admirável, quase espantoso, é que a volumosa
família Biagi morou na casa ao longo de 71 anos (sua última
herdeira morreu em 2012) e manteve-a exatamente
como a encontrou – inteiramente preservada. Ao longo
de suas inúmeras salas, 6 grandes quartos, varandas,
banheiros, cozinha, parte externa (com garagem e dois
quartos de empregados) é possível se maravilhar com
uma construção luxuosa dos anos 20, que preserva intocado
cada detalhe arquitetônico e artístico original.
Conhecer esse espaço é voltar no tempo e se admirar
com os ladrilhos hidráulicos originais das varandas e do
hall de entrada, a pintura artística que cobre todas as
paredes, os entalhes em gesso e metal com desenhos
preciosos, a marchetaria e o trabalho em madeira de lei
na escada, no piso e no teto da sala de jantar, as portas
e janelas de cristal bisotado.
O mais surpreendente, porém, são os móveis, quase
todos originais, fabricados pelo Liceu de Artes e Ofícios
de São Paulo e por imigrantes italianos. Na sala de música
e pintura, no escritório, na sala de jantar, cadeiras,
mesas, cristaleiras, escrivaninhas, camas, armários, toucadores
estão lá, perfeitos, como que parados no tempo.
A sala de visitas, por exemplo, é decorada em estilo Luís
XIV dourado, com estofados originais. Sem contar os
objetos e utensílios adquiridos pela família Biagi.
Após a morte da última moradora, os herdeiros tinham
um tesouro nas mãos e fundam o Instituto da Memória Italiana
doando a casa para o Instituto. Em 2015 abrem as
portas para a cidade, dando-nos de presente um local onde
se pode usufruir, não apenas de visitações guiadas duas
vezes por semana, como de exposições de arte, eventos
culturais, palestras, apresentação de um coral de músicas
italianas, jantares, apresentações artísticas e até de um
serviço de orientação para dupla cidadania.
O Instituto Casa da Memória Italiana agrega um valor
cultural e artístico inestimável ao acanhado cenário da memória
local. Ali conhecemos um rico pedaço da nossa história.
Vamos apoiar, aproveitar e celebrar.
(Visitas guiadas às quintas, 15 hs e aos sábados ,10 hs)