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Cbea admite eutanásia em animais

Em depoimento na Câmara de Vereadores, a coordenadora do Cbea diz que cães com fraturas foram submetidos à eutanásia por falta de aparelho de raio-X

A coordenadora do Bem-Estar Animal (Cbea), Carolina Vilela, deve deixar o cargo nesta quarta-feira, 13 de dezembro. Ela admitiu na tarde desta terça-feira, dia 12, durante depoimento na Câmara de Ribeirão Preto, a prática de duas ilegalidades: o uso de dinheiro privado no trato da coisa pública sem autorização e o desrespeito à lei estadual que define em quais situações cães e gatos podem ser eutanasiados (sacrificados).

Carolina Vilela, que foi candidata a vereadora e teve 1.399 votos, sendo a primeira suplente do Partido Progressista (PP), assumiu a Cbea em março. Ela contou em seu depoimento que gastou dinheiro de seu próprio bolso (em entrevista ao Tribuna ela estimou ter investido R$ 10 mil) por causa do estado deplorável em que encontrou o setor e confessou que, por causa da falta de estrutura de atendimento médico, animais que são resgatados com fraturas têm sido submetidos á eutanásia.

A lei estadual nº 12.916, de 2008, só prevê eutanásia em cães e gatos que tenham enfermidade infecto-contagiosa sem cura e que ofereçam risco à saúde da população. O artigo 2º da referida lei diz o seguinte: “Fica vedada a eliminação da vida de cães e de gatos pelos órgãos de controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos oficiais congêneres, exceção feita à eutanásia, permitida nos casos de males, doenças graves ou enfermidades infecto-contagiosas  incuráveis que coloquem em risco a saúde de pessoas ou de outros animais”.

Carolina Vilela disse que, quando um cão atropelado chega á coordenadoria com fratura exposta, por exemplo, ele é eutanasiado. “Não tenho raio-X”, disse, para espanto dos vereadores e de  cerca de 30 ativistas dos diretos dos animais. O vereador Luciano Mega, (PDT), na tribuna, classificou a atitude da Cbea de “ilegal e imoral”. A morre do cão Jon foi a gota d’água para os defensores dos animais – o cachorro foi atropelado e a coordenadora foi acusada de não medicar o canino que sentia muita dor, mas uma veterinária disse que o animal recebeu remédios.

Convocada para prestar esclarecimentos após a aprovação de requerimento do vereador Marcos Papa (Rede), Carolina Vilela revelou a situação crítica da Cbea. O canil, com capacidade para 90 animais, abriga hoje 120 – e no início do ano eram quase 200. A coordenadora assumiu de público que a Cbea “não tem estrutura para receber animais errantes”. Segundo ela, só se consegue receber novos cães e gatos quando são adotados animais já abrigados.

A coordenadora contou que a Cbea tem apenas um médico veterinário e que por isso só consegue fazer em média dez castrações por dia – antes eram 20. Ela informou também que o setor ficou quase dois meses sem realizar castrações por falta de anestésico, e que desde o início do ano foram realizadas cerca de 1.550 cirurgias do tipo, ou 13% da meta de 12 mil castrações ao longo os quatro anos de gestão do prefeito Duarte Nogueira Júnior (PSDB).

Ao final do depoimento, prestado em sessão extraordinária, Marcos Papa pediu “intervenção” da prefeitura na Cbea. Os protetores dos animas que compareceram à Câmara pediram a Carolina Vilela que deixe o cargo. Entre os ativistas, o depoimento da coordenadora foi muito mal recebido. Talita Borges, do projeto Meu Herói, disse que ela demonstrou “total despreparo”. Maria Cristina Dias, da Associação Vida Animal (AVA), ressalta que a indicação não ocorreu por mérito, mas por um acordo político.

“Ela não tem a mínima noção do que tem de ser feito e nem a humildade para reconhecer isso e dialogar com os protestores”, afirmou. Para a ativista, diante da carência de recursos é melhor para a causa animal que a prefeitura deixe a Cbea aos cuidados dos funcionários de carreira e utilize o dinheiro do salário da coordenadora em ações como a castração de animais errantes. Segundo as organizações não-governamentais (ONGs), Ribeirão Preto deve ter uma população de aproximadamente 100 mil animais errantes – na campanha anual de vacinação antirrábica, a meta era imunizar 50 mil cães e gatos, mas este número foi superado em 13,05%, chegando a 56.260 – foram vacinados 48.829 cachorros e 7.697 felinos.

Prefeitura – Questionada pelo Tribuna acerca do desrespeito à lei estadual que proíbe a eutanásia de animais que não estejam com doenças infecto-contagiosas sem cura, a Coordenadoria de Comunicação Social divulgou a seguinte nota: “O governo desconhecia a eventual prática de eutanásia e providências serão tomadas a respeito”. Uma decisão sobre a permanência de Carol Vilela no cargo deve ser anunciada nesta quarta-feira (12), mas ela deve ser exonerada ainda hoje.

Duas fotos

Foto: Alfredo Risk
Carol Vilela durante depoimento na Câmara de Vereadores: ela admitiu a prática de irregularidades e não deve permanecer no comando da Cbea

Protetores na Câmara

Foto Ati: Aline Pereira
Protetores dos direitos dos animais acompanharam a sessão e ficaram revoltados com as declarações da coordenadora: querem a saída imediata

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