Nos últimos anos e dando sequência a uma saga histórica, os catalães vem promovendo várias manifestações públicas pela sua independência do Reino Espanhol, portando suas bandeiras de listras vermelhas e amarelas e lançando seus gritos de liberdade, notadamente em Barcelona, a maior cidade da país catalão. Mas, o que vem a ser a Catalunha, cuja autonomia reivindicam? Em 711, depois de sete séculos de dominação romana e visigótica, os mouros atravessaram o Estreito de Gibraltar, dominaram a Península Ibérica, transpuseram os Pirineus e invadiram terras do Reino Franco.
Pepino, o Breve, liderou o processo de expulsão dos muçulmanos de seus territórios, empurrando-os de volta ao sul da península, onde constituíram o Califado de Córdoba, cuja capital de mesmo nome vai se tornar uma das maiores e mais importantes cidades europeias.
Para assegurar esta conquista, Pepino divide a terra liberada entre vários condados a ele subordinados, um dos quais o de Barcelona, onde a família Berenguer vai expandindo seu território, açambarcando condados vizinhos. Em 988, o Conde de Barcelona rompe os laços com os reis francos, nascendo assim o Reino da Catalunha, uma nação coesa por seu povo, sua cultura e, sobretudo, pela sua língua, o catalão, sob domínio dos Condes-Reis barceloneses.
Cento e cinquenta anos depois desta ruptura, o Conde-Rei de Barcelona casa-se com a herdeira do trono de Aragão, dando início ao que viria a ser a Coroa de Aragão, uma série de reinos independentes dentro de uma estrutura federativa e dá início a expansão catalã com a conquista das Ilhas Baleares, a Sardenha, o Reino de Nápoles, a Sicília e Atenas.
A Catalunha é o mais importante reino de Aragão, este sempre governado por reis catalães. Seu território compreende não só a porção oriental da Espanha, mas avança para as atuais regiões francesas do Languedoc, Roussilon e a Provença. Em 1474, Fernando de Aragão casa-se com a poderosa Isabel, herdeira do trono de Castela, notável e culta soberana, que inicia um processo de busca da hegemonia castelhana sobre a Península Ibérica e promove ações para a implosão da Catalunha.
Uma das mais importantes iniciativas neste sentido é o seu afastamento na conquista e povoamento do Novo Mundo. Em 1716 e depois de várias guerras na Península Ibérica, a Catalunha perde sua condição de Estado autônomo e independente e é submetida ao Reino da Espanha. Apesar de derrotada, graças a união da gente catalã em torno de suas tradições e cultura, a Catalunha inicia um vasto processo de desenvolvimento econômico e cultural, que a transformaria, até hoje, na principal província da Espanha. Grandes nomes começam a ter destaque internacional como o violoncelista Pablo Casals, o arquiteto Antoni Gaudi e o pintor e escultor Joan Miró. Barcelona enche-se de obras de arte.
Durante a Guerra Civil Espanhola, que durou de 1936 a 1939, a Catalunha apoiou as forças republicanas e quando estas perderam, o país catalão sofreu enormes perseguições. Durante todo o regime do General Francisco Franco o catalão foi proibido de ser falado e ensinado. Com a morte de Franco e a restauração da monarquia constitucional, o país catalão torna-se província autônoma da Espanha, subordinada ao Rei, mas com estatutos próprios de governo.
Os catalães são ciosos de suas tradições e de sua língua e tem o respeito do resto da Espanha. É uma nação bilíngue onde o catalão é falado em todos os lugares. Na abertura das Olimpíadas de Barcelona, em 1992, foi tocado não o Hino Nacional Espanhol, mas sim o Hino Nacional Catalão. Orgulhosos de seu passado, quando perguntados, respondem que são primeiro catalães e depois espanhóis e que voltarão a ser livres, pela graça de Deus. Primer sam catalans i despres espanyols i tornarem a ser lliures amb la gracia de Déu.