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Casualidade e causalidade

A causalidade é a relação que liga um antecedente com o seu consequente. O casamento converte os menores incapazes em pessoas capazes. Portanto, se sei que uma pessoa é casada, concluo que é capaz. O inverso não é verdadeiro. Se uma pessoa é capaz daí não retiro que seja casada. O casamento é condição assim suficiente para o reconheci­mento da plena capacidade.

No entanto, a capacidade não é condição suficiente para o casa­mento, mas apenas condição necessária. A capacidade é necessária, mas não é suficiente. Há necessidade de outros elementos, como, por exemplo, conquistar um futuro esposo.

A relação de causalidade impera ou imperava em todas as áreas do conhecimento humano. Se tenho duas moléculas de hidrogênio ligadas a uma de oxigênio, logo tenho água.

O tema é antigo. Já faz bastante tempo que circulou o livro “O Acaso e a Necessidade” do nobelista francês Monod. Naquele pequeno e grande livro o autor sustentou que a natureza anda pelo caminho do acaso e da necessidade. Não a causalidades, mas, sim, a casualidade.
O tema vem sendo retomado ultimamente para se afirmar que ainda quando o acaso não suprima a causa é ele tão ou mais importan­te do que ela.

Já se encontrou um apelido romano para o acaso que hoje é conhecido como a álea. Ou seja, a sorte que habita os acontecimentos aleatórios. A expressão teria sido consagrada por César ao atravessar o Rubicão, chefiando as legiões romanas. Não havia como voltar, a única saída era lutar. Frente a essa contingência teria afirmado “alea jacta est”, ou seja, “a sorte está lançada”. Firma-se assim, hoje em dia, o princípio da aleatoriedade como reitor dos fenômenos científicos. É escusado dizer que o conhecimento muitas vezes esmaga a teoria.

O exemplo encontrado é do espanhol que ganhou sozinho o maior prêmio da loteria de sua terra, o “El Gordo”. Como o senhor conse­guiu o seu palpite, os jornalistas perguntaram? Foi fácil, respondeu, sonhei com o número sete duas vezes. Multipliquei sete vezes sete. Deu quarenta e oito. Joguei no quarenta e oito e acertei. Não, contestaram os jornalistas, o senhor errou. O resultado não é quarenta e oito, mas, sim, quarenta e nove. O espanhol havia errado na conta, mas acerta­do no palpite. Ou melhor, o resultado da operação matemática nada tinha com a sua enorme sorte. Foi o acaso. Não foi a causa. Se tivesse acertado na conta, não seria o vencedor do cobiçado prêmio. Mas há um acaso na causalidade?

O mesmo fenômeno ocorreu, anos atrás, na cidade de Nuporanga. Um senhor toda semana jogava numa determinada série de número em um dos jogos bancados pelo Governo Federal. Era conhecido da senhora administradora da loteca. Num certo dia, ao jogar, a luz pis­cou, com um rápido corte da eletricidade.

A senhora comunicou ao jogador que não estaria segura de ter pas­sado a aposta. O apostador pagou mais um rodada do pequeno jogo.

Resultado: 1) a primeira aposta havia sido registrada; 2) a segunda aposta também foi registrada; 3) as duas apostas ganharam o primeiro prêmio da rodada: 4) cinco apostadores, entre eles o referido, haviam acertado o primeiro prêmio; 5) o apostador de Nuporanga foi premia­do com 2/5 do primeiro prêmio.

No caso, percebe-se que a primeira aposta não foi atingida pela causalidade do apagão da rede elétrica. Também foi atingida pela ca­sualidade da segunda aposta; a causalidade e a casualidade ensejaram a possibilidade de um apostador, com os mesmos números, acertar o resultado do primeiro prêmio.

Pelo menos no âmbito daquele jogo, a possibilidade do acerto, é lançada para o campo da infinitude, do que enseja concluir que a ciên­cia caminha atrás das hipóteses formuladas pela incerteza.

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