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Casa dividida

Desde que os homens passaram a viver em sociedade, enfrentam o desafio da obtenção de consenso. Como os humanos são singulares, heterogêneos e irrepetíveis, é difícil – senão impossível – a obtenção de um consenso absoluto. Afinal, a homogeneidade pode parecer característica de ou­tros coletivos: colmeias, formigueiros, nunca um conjunto de seres pensantes.

Só que o bicho-homem é também egoísta. Pensa inevita­velmente em si e em seus interesses, negligenciando a busca do interesse coletivo. Isso explica as divisões, as separações, os ressentimentos.

Uma situação capaz de congregar opostos é o surgimen­to de uma grave ameaça. Diante de um inimigo comum às várias versões do convívio, surge o milagre da união de forças. Melhor esquecer rusgas, antigas ofensas, coisas menores, diante da possibilidade de continuidade de algo que se mostrou pre­judicial a todos e capaz de exterminar o futuro da espécie.

Pessoas que têm juízo sabem reavaliar posturas pretéritas, quando o quadro era diferente. Afinal, quando indivíduos de bem, compenetrados de sua missão salvífica, encaram o que poderia vir pela frente se eles não se unissem, olvidam dife­renças, deletam provocações que agora são insignificâncias, diante daquilo que poderia acontecer, caso as boas intenções não se somassem.

Por isso a sabedoria popular tem razão quando proclama: “há males que vêm para o bem”. Se não ocorresse o desvario, o negacionismo, o surreal, o intolerável, as várias concepções de coordenação da vida em comum continuariam divididas. Separadas quais ilhas isoladas, num arquipélago resistente ao diálogo. Todas elas insuficientes a fazer frente ao mal.

No momento em que picuinhas são deixadas de lado, quando a razão prevalece, o bom senso volta a residir nas mentes que têm o pensamento elevado.

Longe de criticar alianças que pareciam impossíveis, as consciências de boa-fé, que pretendem o melhor para seus filhos e netos, devem reconhecer a estatura de quem se propõe a deixar de lado as idiossincrasias e ter a coragem de dar as mãos. É a urgência, é a necessidade de salvar os valores que justificam alianças que superam a capacidade ficcional dos futurólogos.

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