Com apenas 28 mil habitantes e 864 km² de área territorial, a cidade de Casa Branca tem peso relevante na balança do agronegócio nacional. O município é o maior produtor brasileiro de laranja e o principal paulista no cultivo de batatinha (IBGE, 2021). Mas a sua marca mais importante tem a ver com a jabuticaba, “frutas em botão” na linguagem tupi.
Nacionalmente, com base no último Censo Agropecuário do IBGE, o Estado de São Paulo perde apenas para Goiás em volume de produção da fruta. Casa Branca, sozinha, responde por metade do bom desempenho paulista. A safra estadual da jabuticaba em 2022, informa a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), foi da ordem de 3.247 toneladas. Os pomares casa-branquenses concentraram 49,52% dessa colheita.
Cultura jabuticabeira em Casa Branca
Para explorar a jabuticaba turisticamente existe visitação a pomares e degustação da fruta no pé. Também há eventos culturais como o Festival Gastronômico da Jabuticaba, cuja 7ª edição vai ocorrer de 6 a 17 de setembro deste ano – relatos dão conta da existência da festa desde 1920.
Na avaliação do agrônomo José Carlos Nogueira, o título de Capital Estadual da Jabuticaba concedido pela Alesp – Assembleia Legislativa do Estado de S. Paulo aflorou memórias afetivas dos moradores da cidade. É comum encontrar a planta nos quintais de vários casarões antigos espalhados pela área urbana casa-branquense. “Casa Branca já era a terra da jabuticaba há mais de 100 anos por ser o centro de origem dessa fruta. O próprio casa-branquense começou a rever os seus conceitos de começar a valorizar aquilo que já tinha e não dava valor”. Nogueira administra a Fazenda Quinta das Duas Barras, considerada o ninho da jabuticaba em Casa Branca pelo pioneirismo na produção e exploração comercial de mudas da frutífera.
A produtora agrícola Priscilla Fagan, da Fazenda Boa Vista – onde fica o maior pomar de jabuticaba de Casa Branca –, salientou que a denominação oficial dada pela Alesp serviu para “trazer referência e incentivo a novos negócios derivados da fruta e ao turismo”, gerando emprego e renda para a cidade.
Famílias visionárias
Além da mãozinha da própria natureza, dado que a árvore é nativa do Brasil, duas famílias em Casa Branca tiveram participação decisiva para que a terra da jabuticaba expandisse o cultivo da fruta. “Não houve alguém que tenha plantado a primeira jabuticabeira em Casa Branca. Aqui já tinha a planta por toda a região, quase todas as residências da cidade tinham a árvore no quintal”, adiantou José Carlos Nogueira, da Quinta das Duas Barras. “Há 60 anos, meu pai Diaulas Nogueira, começou a formar mudas e a comercializar jabuticabeiras. O plantel chegou a ter mais de 60 mil plantas pequenas para venda”, ressaltou. Nogueira estima que o município tenha na atualidade mais de 40 mil jabuticabeiras, incluindo plantas jovens e as árvores em produção.
Após a expansão agrícola da jabuticabeira, o agrônomo enxerga outro filão comercial para a árvore-símbolo de Casa Branca. “Hoje, um grande mercado da jabuticabeira é o paisagismo. O cliente quer uma planta que já esteja produzindo. Vendemos para residências, condomínios e grandes centros urbanos”, comenta José Carlos Nogueira. São vendidas, em média, 100 jabuticabeiras. Os preços variam de R$ 1 mil a R$ 10 mil.
Já a família Fagan destaca-se pela comercialização da fruta. De acordo com Priscilla Fagan, o cultivo de jabuticaba é rentável, porém exige investimentos a longo prazo. “O cultivo é feito com irrigação por aspersão em cada pé – fomos os pioneiros a importar essa técnica de Israel – e a análise de terra para ver a necessidade de nutrientes de cada pomar”, explicou Priscilla. Mesmo com todo o investimento financeiro e tecnológico, ressalta a empresária, a produção da fruta é quando a árvore quer. “Podemos só estimular e monitorar. A produção varia por ano porque o clima influencia muito. São feitas até duas colheitas em cada pomar, no ano”.
Como o crescimento da jabuticabeira e as florações são lentas – a depender da variedade, a primeira safra pode demorar 8 anos para acontecer – a estratégia adotada para compensar a espera é o plantio alternado com outras culturas agrícolas, como laranja, milho, limão e café. “O plantio em consórcio ajudou. Até uns 25 anos, o pé da jabuticaba é pequeno. Laranja com um ano já começa a produzir. É necessário diversificar, porque [do contrário] as contas não fecham”, pontuou a empresária, informando que 70% de toda área é só jabuticaba. Ela destacou que a frutinha nativa da Mata Atlântica turbina o mercado de trabalho, especialmente durante a safra anual em setembro. “Na época da colheita, mais de mil pessoas são empregadas”, informou.
Novos passos
Uma conquista que deverá endossar ainda mais a cultura jabuticabeira de Casa Branca será o selo de Indicação Geográfica (IG) junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O trabalho acadêmico para obtenção do registro é desenvolvido por pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). Com o selo IG, Casa Branca passará a ser reconhecida nacionalmente por características naturais exclusivas que diferenciam a jabuticaba casa-branquense da fruta produzida em outras regiões brasileiras.
Benefícios da Fruta
Pelo Brasil, estudos com a jabuticaba têm se debruçado sobre o valor nutricional da fruta cuja parte mais nutritiva costuma ser a casca. Rica em vitaminas, minerais, fibras e compostos ativos (como polifenóis, niacina, ferro e antocianinas), a jabuticaba pode ser consumida in natura ou na forma processada em doces, bolos, sorvetes, compotas, geleias, licores e fermentados alcoólicos.
Trabalhos acadêmicos com o produto da jabuticabeira ressaltam os potenciais medicinais dos elementos químicos presentes na frutinha tipicamente brasileira. A Universidade Federal de Viçosa (UFV), por exemplo, aponta uma bebida de jabuticaba que pode ajudar na recuperação física de atletas e atuar contra o depósito de gordura no fígado.
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) observou que as fibras presentes na casca da fruta aumentam a produção de glutationa, substância produzida no fígado que auxilia na proteção antioxidante. Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) foi avaliado o potencial da jabuticaba na prevenção da obesidade.
A Federal de Goiás (UFG) verificou que compostos encontrados na casca provocam um considerável relaxamento das artérias, esse efeito contribui para baixar a pressão. Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) detectaram atributos anti-inflamatórios da jabuticaba que podem contribuir, inclusive, no combate ao Alzheimer. Outra frente de pesquisa da Unicamp avalia o uso do extrato da casca de jabuticaba no atraso da progressão do câncer de próstata.
Casa Branca
A cidade fica a 130 km de Ribeirão Preto e integra o Circuito Café com Leite. Originou-se como um vilarejo no século XVII ao redor de uma casa branca que era utilizada pelos bandeirantes como pousada. Torna-se município em 1872.
É uma das cidades mais antigas da região, por onde passaram personagens ilustre como D Pedro II, para a inauguração da estrada de ferro Mogiana. Ali também viveram muitos barões do café. Até hoje a cidade guarda a riqueza de toda sua história em suas majestosas construções, que misturam requintados estilos arquitetônicos como o colonial mineiro, o clássico romano e o neoclássico.
A cidade é também conhecida por sua estrutura geológica, devido ao fenômeno denominado boçoroca ou voçoroca, em que o terreno sofre imensa erosão, formando-se crateras no solo, conferindo-lhe aspectos dos conhecidos canyons norte-americanos. Em meio a todas estas riquezas históricas e naturais, o visitante pode conferir toda hospitalidade do povo do interior, na cidade onde a economia é principalmente baseada no turismo.