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Cartografia e Literatura: Os peritos cosmógrafos catalães

A partir de 1340, os peritos cartógrafos catalães ganham destaque e os três portos mais importan­tes do Mediterrâneo oriental espanhol, a saber, Barcelona, Palma e Valência, reúnem-se numa mesma unidade política, de grande prestígio: o reino de Aragão. Em suas atividades marítimas, este reino, apoiado pelo de Castela, tinham promovido a assimilação dos conhecimentos árabes de domínio dos mares, bem como, de manutenção de seus navios. E por conta deste, controlavam toda a navegação e movimentação do Mediterrâneo, incluindo suas costas e margens continentais, além de absorver pro­fissionais judeus que fugiam da intolerância islâmica, os quais se fixaram principalmente em Valência e Maiorca. Neste contexto, favorecida a expansão mercantil, cada navio espanhol levava a bordo, de acordo com o mandato de 1354 do Rei de Aragão, as duas mais relevantes cartas marítimas da época.

Em 1417, um especialista maiorquino, Jafuda Cresque, tornou-se chefe da gloriosa escola de Sagres, na corte portuguesa do infante D. Henrique, dando origem à relevante cartografia lusitana da época dos descobrimentos. No final do século, perseguido pela Inquisição, Jafuda precisou se converter ao catolicismo, adotando o nome maiorquino Jaime Ribes, com o qual assinou sua obra-prima, o famoso “Atlas Catalão”. Segundo especialistas, com o cabeçalho do mapa trazendo uma inscrição reveladora da preocupação universal do autor: “Mapa-múndi, a saber, imagem do mundo e das regiões que existem na Terra e das diferentes gentes que a habitam”. A principal característica deste planisfério? Ser o pri­meiro mapa a reunir, com grande apuro artístico, toda a informação cartográfica importante e defini­tiva desde as narrativas de Marco Polo. Estava ali representada a extensão da Terra que a humanidade supunha conhecer no século XV. Em idioma catalão, este Atlas pertenceu ao rei Pedro IV de Aragão, o Cerimonioso, que o presenteou ao rei Carlos V, de França.

Com o passar dos anos, os cartógrafos catalães buscaram alcançar, cada vez mais, cartas car­tográficas de maior nível científico, sempre apoiados pelo reino de Aragão. Ao mesmo tempo, os navegantes da Coroa buscaram descobrir novos rumos de navegação. Em conjunto, essas duas atividades mantêm vivos os interesses em manter, e ir além de, a cartografia de prestígio alcançada anteriormente. Por sua vez, prolongadores da tradição cartográfica dos Cresques, os Viladestes, e seu contemporâneo Gabriel de Valseca, também produziram diversos mapas, fundamentais para os navegantes. Os primeiros acrescentando-lhes motivos e miniaturas, o segundo, abundando-os em adornos de edifícios. Documentos históricos informam que Valseca, tendo seu prestígio chegado até Américo Vespúcio, vendeu a este um portulano que o orientou em suas viagens, o qual foi conserva­do no Museu Marítimo de Barcelona.

Entretanto, Pere Rosell foi quem ficou conhecido como o mais fecundo geógrafo da época, figura de quem se conservou mais mapas do que de qualquer outro. “Judeu convertido, seu lugar de trabalho transformou-se numa cátedra de cartografia onde se destacaram alunos aplicados que depois foram célebres”.

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