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Cartografia e Literatura: os mapas do Extremo Oriente

Com a chegada das embarcações portuguesas no Extremo Oriente, o mundo conheceu a satis­fação, até então restrita a Marco Polo, de descobrir o elevado desenvolvimento daquela civili­zação. A precisão, os métodos e os instrumentos técnicos chineses revelavam um progresso até então nunca imaginado. Tradicionalmente, os primeiros mapas chineses datavam de 2000 a.C. Além disso, por volta de 1125 a.C, os mesmos já haviam construído um mapa regional extre­mamente preciso. De que forma isso lhes foi possível? Pelo fato de, desde os tempos da Dinas­tia Chou (século VIII a.C), haver uma equipe de cartógrafos trabalhando na administração do Império. A relevância disso?

Eles terem considerado (1º) a geografia oficial da China, elaborada por um dos exegetas (es­tudiosos) de Confúcio (pensador e filósofo chinês que viveu de 551 a 479 a.C), repleta de mapas ilustrativos que configuravam a terra como um paralelogramo, bem como, (2º) a cosmogonia budista procedente da Índia e (3º) a concepção filosófica clássica que representava a Terra como um disco flutuado sobre as águas, no qual o Monte Meru (montanha sagrada mitológica trazen­do o centro de todos os universos físicos, metafísicos e espirituais) ocupava o lugar central. Tudo isso representado como? Em papel, suporte inventado pelos chineses no ano 105, a partir de fi­bras de árvores e trapos de tecidos cozidos e esmagados. Esse contexto, incentivado pelo cientista e comunicador Phei Hsiu (224-273), representando o ponto culminante da antiga cartografia chinesa, anterior à invasão europeia dos missionários jesuítas.

Phei Hsiu, revisando o conhecimento cartográfico acumulado pelos chineses, determinou normas a serem seguidas oficialmente pelos geógrafos, exigindo que nos mapas fosse aplicada uma rede quadriculada que permitisse localizar espaços e mensurar distâncias e altitudes. A partir disso, a cartografia chinesa, também vinculando-se à expansão marítima militar e mer­cantil, seguiu um destino similar à ocidental. Exemplos? Os importantes mapas da Dinastia Tang (618-907), feitos pelo perito Chia Tan, e outros, recompilações de mapas militares, feitos pelo especialista Chi-fu.

A partir de 1200, uma nova cartografia náutica, elaborada através da descrição de portos distantes e de portos limítrofes, realimenta a criação de mapas chineses, sendo muito impulsio­nada pela Dinastia Ming (1366-1644) nos séculos XV e XVI. Exemplos? As “Cartas Náuticas”, de Mahuan e Mao Kun. Com as expedições ocidentais, a cartografia europeia do jesuíta Matteo Ricci, que chegou a Macau em 1582, levando o planisfério europeu, causou admiração nos chi­neses, provendo reformulação de muitos dos conceitos destes últimos. Desde então, na Dinastia Mandchu (1636-1917), coube aos cartógrafos jesuítas reunirem os saberes da cartografia ociden­tal aos da oriental, alcançando um bom desenvolvimento já no início do século XIX.

Esse trabalho prático dos chineses, entretanto, não deixa de se contrastar com o fenômeno da cosmogonia indiana, que influi sobre a chinesa, com sua poética teoria sobre a criação do universo. Nesta teoria, a Terra é um planeta que se articula com diferentes mundos esféricos com a forma de anéis concêntricos. A limitação indiana? Basear-se, apenas, em relatos cartográficos próprios, alimentados por mapas estrangeiros.

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