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Cartografia e Literatura: a herança intelectual do príncipe navegador

Empreendida por D. Henrique a viagem de descoberta à Àfrica, seus suces­sores ao trono, a saber, os reis D. Afonso V e D. João II, deram prosseguimento à mesma, explorando toda a costa do sul da África, conferindo aspecto de im­perialismo colonial moderno à posse das novas terras, todas identificadas com a gravação de seu escudo de armas em grandes colunas de pedra. Inspirado pela coragem, intelectualidade e ousadia de D. Henrique, o príncipe navegador, Diogo Cão chefiou famosa expedição que alcançou terras para além do Congo.

Nesta, dentre seus tripulantes, Cão levou o jovem aristocrata alemão Martin Behaim, na­tural de Nuremberg, então vivendo em terras lusitanas como importante homem de negócios. Sua relevância? Elaborar trabalhos cartográficos que o levaram a ser nomeado importante membro da junta dos matemáticos reais, criada no reinado de D. João II, e sob seu mecenato, para desenvolver e aplicar as técnicas abstratas à navegação.

Behaim, então, introduziu na corte de D. João II os estudos cartográficos do cosmólogo Johannes Regiomontanus, seu mestre alemão, e balhestilha, principal instrumento na época para determinar a latitude. Bartolomeu de Gusmão, ciente desses novos conhecimentos, e deles se utilizando, não tardou para que, em , superasse a aventura de Cão, transformando-se no primeiro navegante a contor­nar o sul da África. Aventura dramática, suas dificuldades levaram a denominar de Cabo das Tormentas a extremidade atingida. Entretanto, em seu retorno, tão satisfeito ficou o monarca pelas descobertas que rebatizou o local como Cabo da Boa Esperança. O resultado maior da viagem de Dias? Derrubar definitivamente as teorias que creditavam unidade ao continente afro-asiático, realimentando a esperança de D. Henrique de chegar à Ìndia por via marítima em direção ao Oriente. Esta realização, entretanto, estava reservada a outro navegante, Vasco da Gama, que viria se tornar o mais importante navegador português.

Não obstante, tais façanhas, em conjunto, geraram uma atmosfera de inquie­tação em Portugal, transformando a terra lusitana em um centro tanto irradiador quanto atrativo dos mais eminentes homens da ciência e dos geógrafos do mundo. A ponto de Martin Behaim, a pedido dos burgomestres de Nuremberg, transladar para um globo a concepção de espaço terrestre existente na época e que era assun­to comum entre os marinheiros. De acordo com essa concepção, não existiam ou­tras terras entre Europa e Ásia a não ser as Ilhas Açores, Madeira e Canárias, além dos arquipélagos tidos como fantásticos. Segundo especialistas, “Não se imaginava que um continente novo estaria colocado entre esses dois que eram os únicos a que se limitava o mundo daquela época”.

A visão de existir algo mais ali vinha do sábio italiano Paolo dal Pozzo Tosca­nelli. Amigo do influente confessor dos monarcas portugueses, Toscanelli difun­diu uma teoria de que era possível chegar à Índia pela rota ocidental. Mas, sua carta de 1474, escrita ao rei, acompanhada de um mapa, não recebeu o devido va­lor deste. Credibilidade à tal informação seria, sim, dada por Cristóvão Colombo. Colombo, na época frequentando a corte portuguesa a serviço de uma importante firma comercial, abraçou a aventura acenada na carta de Toscanelli, e retirando definitivamente do povo português a glória histórica de descoberta da América.

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