Em vez do desfile de rua, apresentação em festas de casamentos, formaturas e outros eventos para os quais é convidada. No lugar do público na avenida, rodas de samba para a comunidade do bairro Vila Mariana, zona Norte da cidade onde está localizada a sede da agremiação. Esta tem sido, nos últimos anos, a realidade da Escola de Samba Embaixadores dos Campos Elíseos que, para continuar existindo, tenta a duras penas se reinventar. À frente da agremiação, o carnavalesco Luiz Nascimento, conhecido popularmente como Nascimento, diz que a tarefa não tem sido fácil.
Aos 76 anos, dos quais setenta dedicados ao samba – ele começou como passista mirim aos seis anos de idade -, o carnavalesco conta que com o fim dos desfiles de rua na cidade, em 2014, a escola teve que buscar novos caminhos para continuar existindo. Internamente a agremiação utiliza sua quadra para eventos que tentam unir os moradores da região e os integrantes da agremiação, como por exemplo, as rodas de ambas aos finais de semana, atividades do Programa de Integração Comunitária (PIC) e aulas de capoeira. “Somos uma verdadeira família e fazemos estas atividades para nos reunir e não ficarmos separados um dos outros”, diz.
Já para levar seu samba para outros locais e tentar viabilizar financeiramente sua sobrevivência, Nascimento tem apostado em apresentações em casamentos, formaturas e outros eventos. As apresentações têm a presença de 40 pessoas entre bateria, passistas, baianas e destaques. “Esta é a principal atividade que temos feito para continuar mostrando nosso samba”, completa. Em média, a Embaixadores dos Campos Elíseos faz três apresentações por mês a um custo médio de R$ 3 mil reais.
Sobre a possibilidade do retorno dos desfiles de rua na cidade, Nascimento se mostra desanimado, principalmente em relação ao poder público. Ele garante que no carnaval do ano passado procurou a Prefeitura para fazer uma apresentação da Escola na Esplanada do Theatro Pedro II, centro da cidade. Mas, não teria encontrado nenhuma receptividade por parte do município. “Disseram que até os banheiros químicos para colocar lá, nós que teríamos que pagar”, conclui.
Reorganização jurídica
O Grêmio Recreativo Bambas de Ribeirão Preto tenta se reorganizar para depois definir o seu futuro na passarela. Criada no dia 10 de março de 1927 como um cordão carnavalesco, com a denominação Sociedade Recreativa Dançante Bambas, transformou-se oficialmente em escola de samba em 1931. Segundo registros históricos é uma das primeiras agremiações carnavalescas do país.
O pioneirismo, entretanto, não livrou os Bambas de várias intempéries que acabaram fazendo com que sua sede fosse interditada e que as atividades que realizava como aulas de cavaquinho e capoeira, fossem paralisadas. Em 2015, a quadra da escola, localizada na Avenida Capitão Salomão, no cruzamento com a Via Norte, foi fechada por falta de alvará, pois não tinha o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). A interdição teve como fundamentação a falta de segurança para os freqüentadores.
Na época, a diretoria presidida pelo carnavalesco João Bento da Silva, o popular “Seo Santos”, tentou reverter a interdição, mas não conseguiu. Como os seguranças que tomavam conta do local também foram retirados por determinação legal, a sede da agremiação acabou sendo destruída por vândalos que roubaram portas, janelas e outros equipamentos. Somente as fantasias e outros materiais utilizados nos desfiles foram salvos, pois já haviam sidos retirados. Atualmente eles estão guardados na residência de uma das diretoras dos Bambas. Seo Santos faleceu em 2016 e segundo, membros da escola, muito triste pelo fim dos desfiles de rua na cidade e por ver a sede da escola destruída.
Na presidência da agremiação desde a morte dele, Maria D Apresentação Ferreira decidiu priorizar a solução dos problemas administrativos e jurídicos da escola e investir em capacitação profissional sobre o assunto. Para isso, voltou para a escola, fez curso de captação de recursos financeiros e atualmente cursa “Evento”, na Escola Técnica José Martimiano da Silva. Ela explica que decidiu conhecer como funciona todo este processo para viabilizar o retorno da escola de forma planejada e continuada. Ou seja, não ficar dependente do poder público ou de ações que não resultam em recursos suficientes para custear as atividades.
“Como precisamos recuperar nossa quadra e viabilizar atividades comunitárias e culturais permanentes estamos investindo em capacitação”, afirma. Ela garante que os membros da agremiação que é composta, em sua maioria, por várias famílias, continuam se encontrando graças às feijoadas e rodas de samba que realizam periodicamente. A presidente admite, porém, que a retomada das atividades dependerá do resultado do trabalho que está sendo feito. “Estamos trabalhando para nos reinventar”, conclui.
Os desfiles em Ribeirão Preto
O carnaval de rua em Ribeirão Preto nasceu com a chegada à cidade, em 1903, do empresário francês François Cassoulet. Ele instalou por aqui, o Cassino Eldorado Paulista, uma casa de shows e diversões que ganhou prestígio e se tornou referência. Na época, ele se tornou o magnata das diversões do município.
Naquele ano foram realizados os primeiros desfiles de carros alegóricos que aconteciam nas ruas que hoje formam o quadrilátero central da cidade. Ribeirão Preto tinha na época, uma população de aproximadamente 20 mil habitantes. Vale destacar que os carros alegóricos eram armados em carroças, puxadas por animais fantasiados.
A primeira competição entre escolas de samba aconteceu 1936, quando dissidentes da Escola Bambas formaram o cordão “Meninos e Meninas Lá de Casa”. A estreante foi a vencedora. Em 1957 surgiu a escola Embaixadores dos Campos Elíseos e, ao longo desses anos, outras escolas surgiram e marcaram o carnaval ribeirão-pretano. É o caso das extintas Mocidade Independente da Vila Tibério, Chuva de Prata, Palmeirinha e Rosas de Ouro.
O último desfile das escolas de samba em Ribeirão Preto aconteceu em 2014. Já o distrito de Bonfim Paulista, que possui duas escolas de samba: a Unidos da Vila e a Acadêmicos de Bonfim, também não realiza desfile de rua há três anos.
Prefeitura diz que carnaval está se adaptando
A Secretaria Municipal da Cultura afirmou ao Tribuna que o Carnaval de Ribeirão Preto tem passado por uma grande transformação: dos desfiles de Escolas de Samba para os Blocos de Rua. Seguindo a tendência das grandes cidades, os blocos de rua estariam ganhando cada vez mais força e se consolidado enquanto manifestação carnavalesca legítima na cidade.
“A Secretaria da Cultura celebra com as escolas de samba de Ribeirão Pr eto comodatos de suas quadras, ou seja, concede a elas o uso para que possam realizar suas atividades nestes locais. Também se mantém como apoiadora de atividades culturais e promove diálogo constante com os produtores culturais da cidade e região”, afirma.