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Carmen Cagno – Salvemos nossos museus – II

O local era lindo. Cercado por jardins, chafarizes, gazebos e uma deliciosa paisagem, o Museu Histórico de Ribeirão, inaugurado em 1951, centralizava essa beleza e atraía visitantes. Mas não era só isso. A antiga sede da fazenda Monte Alegre mantinha as mesmas características de sua construção original, no século XIX. O piso de madeira corrida, as cornijas da varanda, a beleza dos móveis e objetos originais, as obras de arte seduziam qualquer visitante que ali descobria um pouco da nossa história.

Em 1957, no mesmo terreno é inaugurado um pavilhão anexo abrigando o Museu do Café Francisco Schmidt. Patrocinado pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC) e por cafeicultores, o local passou a catalogar, preservar e exibir uma rica coleção ligada ao produto. Maquinário, mobiliário de expositores, ferramentas, torradeira e relíquias garimpadas nas antigas fazendas do Rio e de Minas, como um carro de boi de 1867.

Nascia, assim, mais um espaço de resgate da memória da cidade pelo qual passaram milhares de pessoas que pela primeira vez entravam em contato com nosso passado e a construção da cidade.

Ligados à administração municipal, com os anos, os dois Museus foram perdendo o brilho e ganhando muitos problemas. A eterna escassez de verbas, a ausência de funcionários habilitados, o descaso do poder público iam aos poucos corroendo todo esse patrimônio.

Em 2015, as duas edificações foram fechadas. Corriam sérios riscos provocados por infiltrações, cupins, deterioração do madeiramento e do acervo. Nesse mesmo ano, já com os museus esativados, um projeto junto às leis de incentivo levantou verba para a reforma do telhado, madeiramento e fiação do Museu Histórico. Alguma coisa estava salva.

Abriu-se então uma nova frente de captação de recursos para a manutenção do telhado do Museu do Café. Aprovado, o projeto aguarda liberação da verba até o momento em que escrevo essas linhas. Enquanto isso, os poucos funcionários driblam vazamentos e goteiras que ameaçam o acervo.

 Mas em meio a esse triste cenário, nem todo mundo desiste. As Secretarias de Cultura e Meio Ambiente, por exemplo, têm feito parcerias com universidades locais, inclusive a USP, cujos alunos de engenharia, arquitetura, história, biologia desenvolvem projetos de restauro, reformas, combate a pragas, levantamento de documentos, sua catalogação e digitalização. As obras de arte têm sido restauradas num ateliê criado especialmente para isso.

Outra iniciativa vem da Divisão de Patrimônio, que, junto à Secretaria da Educação, acaba de fechar um projeto para que alunos da rede pública e privada visitem os museus, mesmo fechados, e conheçam as oficinas de restauro.

Ou seja, a sociedade civil, junto com parte do poder público tem se virado como pode para levantar verba, desenvolver projetos, amealhar profissionais e não deixar a peteca cair.

Há algumas semanas, setores da sociedade civil se uniram à Secretaria da Cultura a fim de reativar a Sociedade Amigos dos Museus, desativada há anos. A ideia é organizar uma frente de trabalho, apoio e captação de verba com a participação de cidadãos e setores sociais. Todos são bem-vindos.

Mas atenção. Fiquemos atentos. Nesse momento sombrio  da história do nosso país, muitos projetos ligados às leis de incentivo aguardam uma revisão do atual governo federal (sic). Dá até frio na barriga.

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