Nicola Tornatore
No aniversário de um século da inauguração do Palácio Rio Branco, sede da prefeitura de Ribeirão Preto, em 26 de maio do ano passado, o ponto alto da cerimônia festiva foi a “cápsula do tempo” enterrada no jardim da praça homônima. Fotos, mensagens, cartas, jornais e revistas foram colocados dentro de uma cápsula que será aberta no bicentenário da cidade, em 19 de junho de 2056.
A cápsula foi enterrada no gramado do jardim, a um metro de distância do pedestal onde fica a herma do Barão do Rio Branco, o primeiro monumento instalado em uma praça da cidade. Isso em 1913, antes, portanto, da inauguração do palácio, ocorrida em 1917. O que ninguém se atentou na ocasião, no entanto, é que o objeto pode ter sido enterrado ao lado de outra cápsula, que possivelmente está no local há mais de um século.
Pelo menos é isso que sustentava o advogado Rubem Cione (1918-2007), um dos mais importantes memorialistas da história de Ribeirão Preto – ao lado de Prisco da Cruz Prates e Plínio Travassos dos Santos –, autor de vários livros sobre os primórdios da cidade. Em um deles, Cione descreve como foi a cerimônia de inauguração da herma de José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912), o Barão do Rio Branco, em 28 de setembro de 1913.
“A inauguração da herma contou com a presença de João Alves de Meira Júnior, presidente da Câmara, autoridades judiciárias e policiais, escolas de ensino primário e secundário, entre outros, em grande evento cívico que durou das 16 às 20 horas”. O memorialista também informa que quatro dias antes da inauguração, em 24 de setembro de 1913, “no ato de colocação da pedra fundamental foi depositada uma caixa na base do monumento com jornais da época, auto lavrado e assinado pelo então prefeito doutor Macedo Bittencourt e demais autoridades, bem como moedas correntes do país”.
Ao contrário do que se costuma fazer hoje – enterrar uma “cápsula do tempo”, já anunciando a data de abertura –, no passado a colocação de registros da época na chamada pedra fundamental visava revelar, para a posteridade, em que período se ergueu determinado prédio ou monumento. Ou seja, sem previsão de abertura, com o passar do tempo os registros da Ribeirão Preto de 1913 podem ter sido “esquecidos” embaixo do pedestal da herma do Barão do Rio Branco.
Nunca houve notícias, na imprensa local, da recuperação daqueles documentos, jornais e moedas enterrados há mais de um século – 105 anos – em pleno auge da época de ouro da “La Petit Paris” (a pequena Paris), como Ribeirão Preto era conhecida no apogeu do café.
O que é pedra fundamental
Lançamento da pedra fundamental (ou lançamento da primeira pedra) é o nome que se dá à cerimônia de colocação do primeiro bloco de pedra ou alvenaria acima da fundação de uma construção. Cerimônia simbólica com origens celta e maçônica, a colocação da pedra fundamental significa o início efetivo de uma edificação. Segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa (1.ª edição/2001), a pedra fundamental “assinala, geralmente com solenidade, o início de uma obra importante”.
Também é costume se adicionar uma cápsula do tempo, recipiente fechado contendo uma ata com o nome das pessoas presentes e lembranças do dia, como jornais ou moedas, para a posteridade. A pedra fundamental, contendo inscrições como data e identificação do construtor, tradicionalmente é encontrada no canto nordeste da construção.
No caso da herma do Barão do Rio Branco, o memorialista Rubem Cione escreveu que a pedra fundamental foi colocada no dia 24 de setembro de 1913, quatro dias antes da inauguração do monumento. O mais provável é que a cápsula do tempo se encontre no canto inferior nordeste da base de granito que sustenta o pedestal onde foi colocada a herma de bronze.