João Camargo
Em Ribeirão Preto capivaras são vistas em parques onde há lagos ou ribeirão ou mesmo em avenidas e áreas que são cortadas por córregos. Esses são os ambientes considerados favoráveis à espécie. É perceptível o crescimento populacional. Considerado o maior roedor do mundo, o animal chega a pesar 91 kg e medir até 1,2 m de comprimento e 60 cm de altura. Mas não são apenas capivaras que são encontradas na cidade, outros animais silvestres também. Mas de quem é a responsabilidade por esse controle?
O detalhe é que nos últimos tempos têm sido registrados casos envolvendo animais silvestres em meio à população de cidades da região. Os exemplos são muitos. No início do ano, uma onça sussuarana foi flagrada por moradores de um condomínio residencial localizado em Bonfim Paulista. Em julho, o Parque Olhos D’Água, em Ribeirão Preto, precisou ser interditado devido a uma infestação de carrapatos provocada pelo grande número de capivaras. Mais recentemente, um lobo-guará foi capturado após invadir uma casa em Barretos.
Para o biólogo Marcelo Nunes Mestriner, um dos motivos dessa presença dos animais nos meios urbanos se dá pelo fato de que, atualmente, constroem-se casas e condomínios cada vez mais perto de áreas silvestres. A partir disso, se torna cada vez mais frequente o recebimento dessas visitas. “Todo mundo acha bacana viver próximo dos animais. A gente está sujeito a ter um surto desse tipo, principalmente hoje com essa moda de estar encostado com a vida silvestre”, comentou.
Com relação às capivaras, o que se percebe é um crescimento populacional desenfreado na área urbana. Elas vivem em bando que variam de entre 10 e 30 animais e se reproduzem durante o ano todo. Geralmente é uma ninhada por ano, mas pode chegar a duas – tendo em média quatro filhotes por vez. O detalhe é que a capivara alcança a maturidade sexual com cerca de 1,5 ano de idade. Em Ribeirão Preto elas são vistas em diversos pontos da cidade.
De quem é a responsabilidade pelo controle?
Questionada sobre esse cenário, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente pontuou, por meio de nota, que os animais silvestres de vida livre são de competência da União, por meio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e para que seja realizado qualquer estudo e manejo é necessária a anuência e participação do órgão.
Contudo, no caso de capivaras confinadas, como a situação que ocorre no Parque Olhos D’Água, a Secretaria destacou que “visto que ficaram presas lá, em ambientes urbanos, a competência é da Secretaria de Saúde do Estado, via Suce- e Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, pelo Departamento de Fauna”.
Inicialmente, o jornal Tribuna entrou em contato com o Ibama, questionando mais informações sobre esse controle na região, porém, até a publicação desta matéria, não foi obtido retorno.
Já a Secretaria de Estado da Saúde (SES) comunicou que “o trabalho de campo para controle da doença [febre maculosa brasileira, provocada por um carrapato], bem como a investigação de casos, conforme diretriz do SUS, compete aos municípios”.
A Secretaria do Meio Ambiente de Ribeirão Preto informou que já se iniciaram os estudos para conter a infestação que ocorre no Parque, “visto que dependerá de análises autorizadas e executadas pela Sucen”. A nota completa com a informação que “o município está seguindo o protocolo sanitário do Governo do Estado de São Paulo”.
Impactos
Existem pontos negativos. Nesse caso em específico que ocorre em Ribeirão Preto, das capivaras, o primeiro deles seria pela questão deste ser um animal de porte grande e que pode incomodar e assustar as pessoas, segundo o biólogo. O segundo ponto seria o trânsito desses animais que, com certa recorrência, podem gerar acidentes em vias municipais e em rodovias.
“Eu já cheguei a presenciar uma família de capivaras atravessando uma avenida da cidade. Também já presenciei uma capivara morta por atropelamento. Então, a questão do trânsito delas em via pública e possível atropelamento também se tornam um problema”, pontuou Mestriner.
Além disso, o biólogo destaca as doenças que isso pode acarretar, sendo uma delas a febre maculosa brasileira. Isso porque, animais como a capivara podem carregar o carrapato estrela (Amblyomma sculptum), que é o transmissor das bactérias Rickettsia rickettsii e Rickettsia parkeri, causadoras da febre.
“O que podemos dizer sobre isso é que é uma situação possível. A capivara tem um problema sério em relação a isso, porque é um animal que tem certa tolerância à convivência, tanto com animais domésticos quanto com humanos. É um animal que você não cerca, porque gosta de leito aquático. Além disso, ele é protegido por lei e não tem predadores, por conta disso sua população cresce. Então, o contato com esses animais aumenta”, disse.
Em Ribeirão Preto, conforme divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde, não foi confirmado caso de febre maculosa em 2021. Já o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), da Secretaria de Estado da Saúde, informou que, em todo o ano de 2020, foram registrados 82 casos e 44 óbitos por febre maculosa no Estado de SP. Em 2021, até 1º de dezembro, dados preliminares apontam 67 casos e 38 óbitos.
Questionada pelo jornal Tribuna, a Secretaria da Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo informou que o manejo reprodutivo das capivaras pode ser autorizado seguindo a Resolução Conjunta SMA/SES 01/2016, dependendo da classificação de determinada área para o risco de febre maculosa.
Essa categorização é realizada pela Superintendência de Controle de Endemias do Estado (Sucen) após sorologia das capivaras e o levantamento das espécies de carrapatos que ocorrem na área.
“Já para controlar os carrapatos é necessário o manejo ambiental por meio do corte de grama, uma vez que as larvas dos parasitas são sensíveis ao sol. Além disso, também é indicado o uso regular de medicamentos para o controle dos ectoparasitas nos animais domésticos”, completou em nota. O Departamento de Fauna (DeFau) informou também que diversas espécies de mamíferos podem carregar o carrapato-estrela, como equinos, cães, bovinos e capivaras.
Cuidados
A Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto sugeriu algumas medidas a serem adotadas para evitar a infestação de carrapatos e os possíveis riscos de infecção de febre maculosa. São elas:
– Manter vigilância constante sobre os animais domésticos (cães e gatos) que possam estar transportando os carrapatos;
– Aplicar rotineiramente carrapaticidas nos animais domésticos;
– Manter a grama sempre aparada, permitindo a insolação da área e consequente dessecação dos carrapatos;
– Sinalizar as áreas de infestação por meio de placas de advertência;
– Quando for necessário caminhar por áreas infestadas vistoriar o corpo em busca de carrapatos em intervalos de três horas, pois quanto mais rápido for retirado o carrapato menor será o risco de contrair a doença;
– Utilizar barreiras físicas: Uso de roupas claras para facilitar a visualização dos carrapatos, com mangas compridas, calças compridas, inserindo a parte inferior por dentro das botas, preferencialmente de cano longo e vedadas com fita adesiva de dupla face;
– Caso sejam encontrados no corpo, retirar os carrapatos com auxílio de uma pinça;
– Não esmagar os carrapatos com as unhas, pois pode ocorrer a liberação de bactérias que têm capacidade de penetrar através de microlesões na pele. Retirá-los com calma, torcendo-os levemente.